quinta-feira, janeiro 30, 2025

80 anos de "A Bola"


O jornal "A Bola" fez 80 anos. Que bela idade!

Há já uns anos, em Paris, alguém me contou esta história (detesto o neologismo palopiano estória), que vendo como me a venderam. Ter-se-ia passado nos anos 60 ou 70. 

Três ditos "terroristas" tinham sido detidos numa operação militar, no Norte de Angola. Estavam alinhados, na parada de uma unidade militar portuguesa. Eram homens que combatiam pela independência da sua terra, contra o nosso "ultramar". O exército tinha-os neutralizado e aguardavam transporte para Luanda.

Num determinado momento, um dos "turras" (era assim que, popularmente, os independentistas eram chamados nesses tempos) deu um salto em frente e como que voou alguns metros, para apanhar um papel que se lhe escapara e que o vento havia feito deslocar na parada do quartel. A rapidez do seu movimento corporal apanhou de surpresa os militares à guarda de quem estava, que puxaram logo de arma, numa reacção que, por muito pouco, não foi trágica para a vida do homem. Mas o "turra" rapidamente regressou à formação alinhada com os seus camaradas, recolhendo o papel no bolso.

Os militares portugueses não brincavam em serviço e, de imediato, exigiram a entrega da folha de papel. Quem sabe, podia tratar-se de um documento estratégico, a revelação de planos militares. Se o "turra" tinha corrido o risco de avançar para agarrar o papel, numa ousadia que podia ter-lhe custado a vida, alguma valia ele teria. O detido ainda hesitou mas, face ao óbvio imperativo, acabou por entregar o papel.

O resultado foi mais simples do que se esperava: tratava-se de uma página do jornal "A Bola", esse federador "avant la lettre" do grande e imparável mundo que é a lusofonia desportiva.

Muitos talvez não tenham consciência do importante papel desempenhado por "A Bola", não apenas na ligação entre Portugal e os portugueses que vivem no exterior, mas igualmente na manutenção de uma permanente relação de afeição pelos principais clubes portugueses, que persiste em muitos países africanos de língua portuguesa. 

Pensando bem, talvez "A Bola" tenha feito mais pela preservação de um vínculo dessas pessoas a Portugal do que muitos atos oficiais da nossa política externa...

Não sou um leitor regular de jornais desportivos. Mas no dia de hoje, nos 80 anos de "A Bola", que me preencheu muitos anos da adolescência, já prometi a mim mesmo que vou fazer uma coisa que não faço há bastantes décadas: vou comprar "A Bola". Será a minha modesta homenagem a um grande jornal português.

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