quarta-feira, agosto 30, 2017

Mais valia...


Há quantos anos não vou à Festa do Avante! No seu início, esta "feira popular" dos comunistas portugueses, que copiava o modelo italiano do L'Unità e francês do L'Humanité, convocou a curiosidade de muita gente, muito para além dos comunistas. Havia livros e discos com desconto, arte a preços convidativos e uma oferta de gastronomia regional que, somada aos espetáculos, atraía (e julgo que ainda atrai) pessoas de várias orientações políticas.

Nos primeiros anos a seguir ao 25 de abril a novidade levou-me por lá, a uma meia dúzia de edições. Numa delas fui com o meu amigo Alfredo Magalhães Coelho, um homem cordial, divertido e com imenso sentido de humor. A certo ponto do percurso pelas tasquinhas, pedimos dois copos de vinho, talvez para "olear" duas sandwiches de panado. O "camarada" que nos serviu foi parco na quantidade do líquido, deixando uma boa parte por encher. O Alfredo indignou-se logo:

- Ó camarada. Então aqui também há exploração do homem pelo homem? Então não se enchem os copos? Sabe como se chama a diferença entre o vinho que colocou e o copo cheio?

O homem, coitado, não sabia e ficou atrapalhado. O Alfredo, forte do seu conhecimento de economia marxista, esclareceu:

- É a mais-valia, camarada. Já o grande Marx ensinava. Ora ateste aí a mais-valiazinha que está a faltar!

E lá bebemos nós o copo bem cheio, de um vinho que, afinal, era uma zurrapa. Afinal, mais valia o Alfredo não ter protestado.

7 comentários:

Anónimo disse...

Fui lá uma vez e senti-me explorado à grande, na comida.
Era um bife qualquer próprio de Viseu, rijo, pequeno, mal acompanhado, servido num prato de plástico com talheres que não cortavam a carne e, no fim, ainda paguei alguns sete euros. Irra!

Graça Sampaio disse...

Só lá fui uma vez, ainda era na Ajuda. Detestei, Nunca mais lá pus os pés...

APS disse...

É tudo uma questão de curiosidade ou conveniência. É de lembrar que o nosso actual PR também lá foi, antes das Presidenciais... E de boné.
Mas não se recomenda às senhoras sensíveis, nem aos cavalheiros alérgicos. Que aquilo é tão popularuncho como a Feira de S. Mateus, de Viseu, no Cavaquistão.

Anónimo disse...

Pois....

Como não-politizado sempre evitei aproximar-me da festa do Avante não fosse haver radares para detectar pessoas como eu. Podiam-me fuzilar e o meu seguro de vida não sei se cobria essa eventuadidade. Mas com os comentários que vejo aqui, gastornómicamente não perdi muito até hoje.

Anónimo disse...

Já lá fui várias vezes, em diversos locais, e sempre me senti bem!
E exceptuando as primeiras eleições, nem costumo votar neles, voto em quem muito bem entendo...desde que não sejam pafiosos!

Joaquim de Freitas disse...

Restaurantes gatunos na Baixa, taxistas vigaristas, eléctricos perigosos," especialidades gastronómicas duvidosas, e festas marxistas onde se explora proletários e burgueses, que quadro "idílico " nos apresenta alguém que merece toda a nossa confiança, pois que nos representou por esse mundo fora... Eu só corri riscos quando distribuía o "Avante" na minha juventude , e uma vez foram certos "clientes" que me fizeram a festa, durante uma semana... Mas era para o meu bem e a Bem da Nação... Portugal está em pleno progresso... ao que vejo !

Anónimo disse...

Ena, tantos que foram à festa do «Avante!» por causa da gastronomia.

Só para lembrar

Porque estas coisas têm de ser ditas, irritem quem irritarem, quero destacar a serenidade construtiva demonstrada por Pedro Nuno Santos e pe...