sábado, agosto 19, 2017

O caminho para França

O meu pai, por um "vício" de educação cuja origem nunca percebi bem, era um "maníaco" da língua francesa. Desde a sua infância, em Viana do Castelo, dedicou-se ao culto e estudo aprofundado do francês. 

Tinha uma bela coleção de gramáticas, dicionários e manuais, que herdei, era um "colecionador" de expressões idiomáticas e, desde a minha entrada para o liceu, foi de uma extrema exigência comigo em matéria de correção da pronúncia e ortografia - o que me valeu ter sempre boas notas a francês no liceu, embora ele próprio qualificasse o meu conhecimento da língua apenas com um "pas mal" (no que estava, confesso, bem certo). 

Durante mais de vinte anos, sem com isso ganhar um tostão, em Vila Real, o meu pai dedicou-se a dar explicações a filhos de familiares e amigos - creio que sempre com imenso prazer. Era um francófilo como poucos, num país que, infelizmente, deixou de os ter.

Divertido, ele repetia às vezes a história de um seu amigo vianense, menos dotado para a língua de Molière e Macron, mas que, não obstante, sempre se empenhava em ajudar os turistas franceses que, nos tempos de férias, atravessavam a cidade.

Com orgulho, esse amigo contava: "Ali, ao pé do Hotel Aliança, quando eles querem ir para Espanha, em direção a França, eu indico-lhes: "sempr'en frent" e eles nunca se enganam na estrada para a fronteira".

6 comentários:

patricio branco disse...

belissima língua, o francês. predominava por cá. só mais tarde percebemos que havia outras, igualmente belas, italiano, inglês. o que é a francêsa agora por cá? bem pouco.

Portugalredecouvertes disse...


sorte teve o Sr. Embaixador com esse pai dedicado e exigente que se preocupava com o nível da sua educação e cultura !
bom domingo

Anónimo disse...

Os portugueses tem grande facilidade em aprender línguas, diferente dos brasileiros. Certa vez em viagem a Portugal conheci uma guia de turismo, de nome Isabel, falava fluente vários idiomas inclusive o japonês, Turistas franceses perguntaram, se ela havia morado na França, e ela disse que nunca havia feito uma viajem para fora de Portugal, falava o francês sem sotaque algum, isso também era com o inglês, italiano e o alemão. Dizem que, quem fala o francês, é mais feliz.

Luís Lavoura disse...

um francófilo como poucos, num país que, infelizmente, deixou de os ter

Infelizmente por quê?

A mim parece-me que a única vantagem de se falar francês é poder com mais facilidade emigrar para o Luxemburgo ou a Suíça. De resto, o francês é um bom lixo de língua e os franceses são, genericamente, uns trastes arrogantes que não faem falta a ninguém.

Joaquim de Freitas disse...

Talvez devido à precipitação de dizer mal dos Franceses e da sua língua, o Senhor Luís Lavoura esqueceu algo de importante, que vou escrever em Português ….

Sou um admirador da língua francesa, que é a minha língua quotidiana, desde há mais de meio século. Mas, a minha profissão obrigou-me a aprender também o Inglês, o Alemão e o Italiano. O Espanhol veio-me automaticamente. E sei fazer a diferença entre o prazer de falar cada uma delas.

O Senhor Luís Lavoura esqueceu que o Francês não facilita “só” de emigrar para o Luxemburgo e a Suíça, embora neste país existam outras línguas também importantes, mas permite de emigrar para França (!) e para o Canadá, por exemplo.

Na realidade: -

. Língua falada por 200 milhões de pessoas no mundo, nos cinco continentes.

. Falar Francês e Inglês é um trunfo no mercado internacional do emprego.

. E é uma língua internacional para a cozinha, a moda, o teatro, as artes visuais, a dança e a arquitectura.

. O francês é uma língua de trabalho e língua oficial na ONU, na EU, na UNESCO, na NATO, no Comité Olímpico Internacional e em várias instâncias jurídicas internacionais.

. O francês é uma língua para se abrir ao mundo, depois do inglês e do alemão, e antes do espanhol, na Internet.

. E é uma língua para viajar: A França é o país mais visitado no mundo, com 70 milhões de visitantes.

Enfim, Senhor Luís Lavoura, desculpe a minha insistência, já experimentou ter uma mulher latina nos seus braços e falar-lhe de amor em alemão?


Quanto à arrogância dos franceses… Claro, se o modelo é Platini, talvez tenha razão…

Mas, mais a história do país é longa, mais os seus habitantes têm tendência a olhar de alto os acontecimentos do presente. A velha Europa sucumbe frequentemente a esta tendência e os Ingleses não dirão o contrário.
Mas é verdade que talvez a França tenha tido tendência a glorificar na sua história, os energúmenos que tinham tido um comportamento de desafio.
Que tinham recusado de se submeter à autoridade preferindo morrer pelas suas ideias.
E frequentemente, se opuseram aos Ingleses. E como os Ingleses se criam “objectivamente” superiores aos franceses, que se declaravam iguais a eles, era para eles uma atitude altiva, desprezível, impetuosa.
Napoleão e a sua clique de Marechais contribuíram muito par esta reputação.
Tenho pena que não goste dos Franceses, que acolheram mais que ninguém milhões de Portugueses quando estes necessitavam (e continuam) de ajuda.
Falar francês é ter acesso à sua História!
Oh Senhor Lavoura, veja esse Cambonne, cercado pelo general britânico Colville, em Waterloo, quando declarou “ A Guarda morre mas não se rende”, e, depois, como o Inglês insistia, lhe respondeu “MERDE”.
O “MERDE” de Cambronne foi um “merde” à face do mundo que quer dizer”; -
“Olhe bem, conquistamos a Europa com os nossos exércitos e as nossas ideias. Perdemos, mas ficaremos para sempre os heróis do nosso tempo”.
“Infortúnio ao herói que não morreu de morte heróica”. O importante não sendo de ganhar, mas de morrer com brio.
Enfim, a história de Surcouf? Quando o Inglês lhe dizia: Vocês, os Franceses combatem pelo dinheiro, ao passo que nós, os Ingleses, combatemos pela Honra”. Surcouf respondeu: “ Claro, Monsieur, cada um combate para adquirir o que não tem”.
Garanto-lhe que teria preferido que nas Lages, o ministro português ficasse na História como aquele que disse não ao Imperador dos EUA, à invasão do Iraque, essa caixa de Pandora cujos estragos pagamos agora no mundo inteiro. Mas o português não tinha brio.
O Francês fê-lo na ONU.

Anónimo disse...

Nao deixou, nao.

A proposito de outra coisa, diz um ditado judaico, sábio é o que aprende com todos.


cumprimentos

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