Cheguei há pouco a Viana do Castelo, para a "romaria das romarias", as Festas da Senhora da Agonia.
Quando era miúdo, intrigava-me muito uma placa de um consultório médico na Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, lá por Viana.
O nome era Dr. Abeldizindo Pinto da Cunha. Abeldizindo?
"E queres saber o resto do nome desse senhor?", perguntou-me o meu pai. Era Abeldizindo António Filrozeno Osvalindo Ferreira Pinto da Cunha. Achei o nome fantástico!
Mas o meu pai tinha mais novidades. O Dr. Abeldizindo era apenas um dos oito filhos de um sargento do Exército, Albino Cândido, cujos nomes seguiam um perfil onomástico idêntico.
Um dos irmãos, também médico, chamava-se Albidalino Almerindo Dulcínio Artur FPC. Outro, oficial do Exército, era Aldorindo Alexis Filinto Ilídio FPC. Havia também um engenheiro civil, Albicindo Aldino Olgarindo FPC. Finalmente, no campo masculino, teria havido também um Alcídio Adalberto FPC. As irmãs, com exceção de Eudília Deolentina FPC, tinham nomes mais "serenos", como Maria Zita Ernestina ou Clotilde.
O mistério permanece: o que teria levado os pais destes filhos a optarem por nomes tão curiosos? Alguém de Viana saberá?
(*) Durante as Festas de 2016, contei por aqui sete histórias de Viana. Nos dias das Festas de 2017, aqui deixarei mais algumas
5 comentários:
Onomástico por onomástico o nosso escriba nada disse sobre a romaria das romarias com o nome de Senhora da Agonnia.
Hoje já nem se sabe nada sobre a prolongada agonia dos comums dos mortais.
Sabe-se ainda menos da morte do que às vezes da vida.
Mas disso, tudo é "taboo".
Ele é o materialismo em que nos obrigam a viver.
Certamente a mãe desses oito filhos não foi chamada a escolher esses nomes!
Não vejo uma mãe a escolher tais nomes, teve sim que concordar!
Caro Embaixador, tenho um para a troca. A nossa professora primária ao tempo em que vivemos em Angola - Huambo (ex-Nova Lisboa) - chamava-se assim: Dona (tem que ser incluído claro), Dona Salomite Carrapito Carrapato Carrajola Carramaço Pomba Bengala. Não há garoto/a dessa altura que não saiba dizer o nome da prof. da primária assim todo inteiro. É que fica mesmo no ouvido. Das poucas memórias que tenho de NL, de onde saímos tinha eu 7 anos. Abraço, Clementina Garrido
As razões de tais esdrúxulos nomes foi-me confidenciado pela D. Eudília Diolentina.
Acontece que nos fastos da 1º República a confusão, as revoltas e as prisões mais ou menos arbitrárias eram o pão nosso de cada dia. Ora numa dessas levas prisionais o seu pai foi preso, e lá esteve na pildra uns tempos, só que tinha sido o seu nome confundido com um outro camarada homónimo. Remédio santo e jura cometida. Nunca nenhum filho seu haveria de ser confundido ou perseguido por ter um nome passível de confusão, daí o arrevesado dos "chamadouros".
Um pormenor curioso: tanta gente se indigna com o edifício Coutinho mas aquele hotel lá em cima, a "manchar" a imagem da igreja contra a floresta ou os novos mamarrachos junto ao rio ou a hélice heólica depois do forte... isso não parece incomodar ninguém.
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