sábado, março 18, 2017

Rui Afonso (1947-2017)

Uma tarde, antes do 25 de abril, na Boa Hora, o Rui Afonso foi a julgamento no Tribunal Plenário. Era a política, claro, porque a ditadura, mesmo já na decadência, não perdoava o dissídio. Creio tê-lo conhecido nesse dia, através de um dos seus maiores amigos. Ao longo dos anos, fui-o encontrando a espaços, em especial depois de Macau ter passado a ser o seu porto de ancoragem de vida. Para além de Lisboa, cruzámo-nos em Oslo, em Londres e, claro, lá em Macau, onde voltou a sentir-se tentado por alguma ação política, num registo agora mais sereno. Lembro-me muito bem de uma conversa que tivémos uma noite em Londres, num tempo pessoalmente menos fácil para ele, por razões que não vêm ao caso: falámos por bastante tempo do conceito de medida do sucesso individual, cruzando os perfis de vida muito diferentes que ambos tínhamos e leituras mútuas sobre algumas realidades. O Rui era uma figura imensamente cordial, tinha um tom de voz inesquecível, que acompanhava um eterno sorriso que, numa primeira leitura, podia parecer um pouco sarcástico, mas que, com o fluir da conversa, se percebia ser o de alguém que tinha sobre a vida um olhar divertido e positivo. Era, ao que sempre me disseram, um jurista de eleição e via-se que tinha um imenso prazer naquilo que fazia e que o realizava. O Rui saiu ontem da cena da vida, imediatamente após celebrar as badaladas das sete décadas. Sei que os seus últimos tempos foram bastante difíceis. Mas o que é isso comparado com a vida feliz e completa que teve, com uma bela família e muitos amigos? À distância, deixo aqui um beijo sentido à Cesaltina e a toda a família.

2 comentários:

Sérgio de Almeida Correia disse...

O Rui foi um senhor, um dos melhores amigos que tive. Vai fazer muita falta, em especial a quem diariamente o acompanhava. Um abraço para si e obrigado pelas suas palavras.

António Almeida disse...

Fui amigo do Rui Afonso desde os anos de 1977 quando o conheci em Macau. Tivemos sempre uma optima relação pessoal e enquanto fui responsável pelos assuntos de justiça em 1991 recebi dele conselhos avisados e uma colaboração preciosa na Assembleia Legislativa, na sua qualidade de Deputado. Foi com surpresa que acabo de saber do seu falecimento. Serviu Macau com dedicação e competência.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...