segunda-feira, março 20, 2017

Rockfeller

A morte, hoje, do milionário David Rockfeller, aos 101 anos, trouxe-me à memória um episódio ocorrido numa viagem de Mário Soares a Nova Iorque, nos anos 70. Foi-me contado, não há muito tempo, por alguém que acompanhou Soares a um encontro com uma figura, já bastante idosa, também da família Rockfeller. 

Na altura, Mário Soares procurava concitar apoio a Portugal por parte de entidades do setor financeiro americano, tendo em atenção o prestígio que criara como figura de credenciais democráticas, no Portugal ainda algo convulso desses tempos. O Rockfeller milionário com quem então se encontrou é que, muito provavelmente, tinha um escasso conhecimento da História recente de Portugal, pelo que talvez não tivesse sido a pessoa mais adequada...

Nessa reunião, Mário Soares explanou as suas razões, devidamente traduzido para inglês por um colaborador. O seu interlocutor parecia um pouco "aloof", mas quem o acompanhava tomava as necessárias notas, pelo que a utilidade do encontro parecia assegurada. No final, o idoso Rockfeller disse umas palavras de circunstância e a reunião terminou. Quando ambos tinham acabado de se cumprimentar, o americano "deixou cair", em jeito de derradeira mensagem: "My best regards to doctor Salazar". 

Soares só ouviu a última palavra e perguntou, já na porta, para um dos integrantes da delegação: "Ele disse qualquer coisa, no fim, sobre Salazar. O que é que foi ?". "Não foi nada de importante...", retorquiu-lhe o colaborador.

3 comentários:

Anónimo disse...

Há 2 antigos ex primeiros ministros que vêm por em causa a aura de santidade de Sampaio. Como militante socialista, antigo candidato à assembleia municipal de Lisboa lamento ter tido Sampaio na presidência mas não Soares que foi um grande Presidente.

Olindo Iglesias disse...

Se calhar queria dizer que o Soares só entendeu a última palavra!

Unknown disse...

Sr. Embaixador,

Essa história é óptima e foi tão bem relatada que parece que estava a vê-la em filme. Não pude deixar de dar uma enorme gargalhada.

Os meus cumprimentos,
tbm

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...