sexta-feira, março 31, 2017

O novo mapa da França


A história da V República francesa, regime que no final dos anos 50 pôs fim a um modelo parlamentar atribulado e visivelmente ineficaz, tornou muito evidente que o sistema partidário se transformou, naquele país, numa dimensão puramente subsidiária na afirmação da vontade política. Quero com isto dizer que, à esquerda e à direita, a dinâmica de agregação de forças se revela dependente de lógicas conjunturais e, frequentemente, do apoio a alguns atores políticos. A meu ver, os dias que aí vêm, vão confirmar isto de modo claro.

Durante alguns anos, o Partido Comunista Francês foi a exceção, conseguindo sobreviver e prolongar, nesse regime constitucional quase imposto por De Gaulle, um forte poder de influência política que, em particular, lhe advinha da sua força sindical, como eficaz contra-poder. Curiosamente, os comunistas iniciaram aí o seu imparável declínio, com a cooptação para o governo com que François Mitterrand consagrou a sua vitória presidencial.

Convém lembrar que o Partido Socialista Francês é uma « construção » de Mitterrand, feita pela agregação de várias estruturas, clubes e sensibilidades socialistas, desejosas de esquecer o passado pouco glorioso, na IV República, da estrutura dominante nesse setor. Com a linha que impôs no início do governo, a partir da sua vitória em 1981, Mitterrand « secou » o terreno à sua esquerda e ligou o PS a uma agenda que tornou mesmo a expressão « social-democrata » num anátema.

É o ressurgimento dessa dualidade esquerda-direita que se verifica nesta eleição presidencial, com Hamon e Macron a prenunciarem o que, com toda a certeza, será a implosão do PSF.

À direita, desde De Gaulle, as forças políticas foram sempre desenhadas em torno dos presidentes, com o chamado « centro » a ser chamado a compor o ramalhete. Sem uma tradição democrata-cristã, o centro optou por uma « fulanização » (como aconteceu com Giscard d’Estaing) ou um vago credo liberal. Mitterrand tinha razão, quando ironizava que « em França, o centro não está nem à esquerda, nem à esquerda », isto é, é um parceiro tradicional da direita.

Assumindo que Emmanuel Macron ganha as eleições, com quem governará, partindo-se do princípio que, no sufrágio legislativo subsequente, a direita de Sarkozy e do « Les Republicains » sairão seguramente maioritários ? Como se comporá a « majorité presidentielle » no pós-Hollande e pós-PSF ? Terão futuro governativo as figuras da direita socialista que entretanto se juntaram ao « presidente Macron » ? E como se comportará, em termos de projeto, a direita democrática, desafiada pelo crecimento do Front National de Le Pen ?

(O leitor terá notado que dou Le Pen por derrotada. É isso mesmo, embora eu me tenha enganado no Brexit e em Trump.)

9 comentários:

mensagensnanett disse...

Demografia e Separatismo-50-50
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Está tudo certo, sejam 'globalization-lovers', UE-lovers e afins, que fiquem na sua... desde que respeitem os Direitos dos outros, e vice-versa; todavia, JÁ CHEGA! Leia-se, JÁ É ALTURA DO NAZISMO MADE-IN-PORTUGAL TER VERGONHA!
Para os nazis portugueses, como a sobrevivência de Identidades Autóctones prejudica os interesses económicos:
- no passado foi usada a teoria duma espécie de 'nova brasilidade' para negar o Direito à Sobrevivência de autóctones da América do Sul;
- no presente está a ser usada a teoria duma espécie de 'nova portugalidade' para negar o Direito à Sobrevivência de autóctones europeus.
[nota: nazi não é ser alto e louro, blá, blá, blá... mas sim, a busca de pretextos com o objectivo de negar o Direito à Sobrevivência de outros]
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OBS: Existem nazis alemães que não têm emenda: não passam sem andar por aí a negar o Direito à Sobrevivência de outros!
No passado os nazis hitlerianos argumentaram que para garantir mil anos de paz era necessário negar o Direito à Sobrevivência de outros.
No presente os nazis alemães andam por aí a proclamar que defender a existência de outros... deve ser considerado um crime de ódio; isto é, o estatuto dos «donos disto tudo» - os salvadores da demografia - não pode ser posto em causa.
[as reacções ao discurso de Donald Trump vieram realçar algo que já se sabia: o pessoal com uma elevada taxa de natalidade é altamente amigo... desde que... não seja posta em causa a sua condição de «DONOS DISTO TUDO»]
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NOTA: em vez de andar a chatear SEPARATISTAS-50-50 o bandalho europeu deve é ir fazer périplos... tal como o primeiro ministro de Portugal, António Costa, faz.
---» Como uma sociedade sustentável é uma coisa muito trabalhosa, o bandalho europeu prefere fazer périplos apelando à naturalização de jovens oriundos de povos com uma boa 'produção' demográfica.
Obs: o bandalho europeu é fácil de identificar -» como a sociedade nativa não é sustentável (média de 2.1 filhos por mulher), ao mesmo tempo que critica a repressão dos Direitos das mulheres, em simultâneo, para cúmulo, o bandalho europeu bajula a 'boa produção' demográfica daqueles que tratam as mulheres como úteros ambulantes - ex: islâmicos.
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Anexo:
Há que mobilizar aqueles nativos que se interessam pela sobrevivência da sua Identidade para o Separatismo-50-50.
Leia-se:
- Todos Diferentes, Todos Iguais... ou seja, todas as Identidades Autóctones devem possuir o Direito de ter o SEU espaço no planeta.
[nota: Inclusive as de rendimento demográfico mais baixo... Inclusive as economicamente menos rentáveis...]
Dito de outra maneira: os 'globalization-lovers', UE-lovers e afins, que fiquem na sua... desde que respeitem os Direitos dos outros... e vice-versa.
Explicando melhor:
- Democracia sim; todavia, a minoria de autóctones que se interessa pela sobrevivência da sua Identidade... tem de dizer NÃO ao nazismo-democrático, leia-se: é preciso dizer não àqueles que pretendem democraticamente determinar o Direito (ou não) à Sobrevivência de outros.
---» ver blog http://separatismo--50--50.blogspot.com/.
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Nota: é necessário um activismo global!!!
-» Imagine-se manifestações (pró-Direito à Sobrevivência) na Europa, na América do Norte (Índios nativos), na América do Sul (Índios da Amazónia), na Ásia (Tibetanos), na Austrália (Aborígenes), ETC... manifestações essas envolvendo, lado a lado, participantes dos diversos continentes do planeta... tais manifestações teriam um impacto global muito forte.

Anónimo disse...

Boa noite

Eu so nao sei o que acontecera se um atentado de grande envergadura atingir a França. Macron parece ser o mal menor, mas às vezes ainda é muito verde (rispido/rigido, em particular, por vezes parece o Valls)..

Além da quebra em cacos do PSF, o LR também nao parece estar muito bem.

A minha pergunta é mais, quantos deputados vai conseguir eleger a FN e até que ponto isso vai condicionar a proxima legislatura, e como é que Macron vai governar sem um partido, vai escolher um PM LR, um PM PS? quem? como?

(Macron ao destruir o PS, destruiu também as possiveis alianças UMPS como lhes chama a FN, que eliminavam o FN nas segundas voltas das eleiçoes. Macron nao tendo partido como impede a FN de ganhar na segunda volta? (falo de legislativas))

Resta ainda saber como se vai resolver a crise de identidade francesa. Tenho as minhas duvidas que Macron o consiga fazer, a ver vamos. ( MLP também nao o conseguira, mas pode criar uma celeuma gigantesca e por o pais de pantanas.)


https://www.youtube.com/watch?v=kxrrnW5zxAk

Anónimo disse...

Não me parece que haja a certeza de o clube de Sarkozy ter a maioria dos deputados nas legislativas. Fillon é o chefe do grupo e se não for para a Santé ( nome notável de prisão parisiense ) deverá andar lá muito perto. Menos de 20% dos votos nas presidenciais não dão maioria absoluta nas legislativas, mesmo num sistema maioritário a duas voltas.

Um abraço

JPGarcia

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro JPGarcia. Com o PSF de rastos, com o Front National bloqueado pelo sistema, quem pode ganhar as legislativas?

Anónimo disse...

Caro Francisco,

Os neo-macronistas: sociedade civil, centristas, transfugas do PSF e de LR. Ficarão na oposição restos de socialistas e de republicanos e alguns comunistas e melenchonistas.

Um abraço

JPGarcia

Joaquim de Freitas disse...

Uma consequência grave da situação actual é de desviar os cidadãos fartos da coisa politica, enganados desde há muitos anos com promessas regularmente traídas.
O clima de confiança do qual cada politico eleito devia beneficiar afim de poder exercer o seu mandato nas melhores condições não existe. Ao contrário a desconfiança é omnipresente.

E o mais curioso é que são precisamente aqueles que são responsáveis desta situação que nos vêm dizer que votar por eles traria mais probidade nas práticas politicas.

Estes “carreiristas” são verdadeiramente bombeiros pirómanos, tanto mais que o fazem sem vergonha.

Mas o pior talvez, é que para lá deste nojo generalizado, muitos cidadãos que ainda conservam um certo senso cívico não vêm como é possível fazer, na prática, para mudar o curso dos acontecimentos.

Os partidos, sim, como escreve, vão pagar a factura. Mas no imediato, o fascismo vai tentar impor a sua candidata , ajudada pela abstenção mortal.

Anónimo disse...

Se a Europa não se une, com a demografia a diminuir e a "importar" mais islamistas (não esquecer as percentagens aterradoras das segundas gerações, cada mulçumano tem em média 4 filhos por casal a média europeia deve ser de 1,3 filhos por casal) em 5 anos a Europa será constituída por vários sultanatos.

A culpa vai morrer solteira graças ao ego idiota de políticos
europeus "lassez faire laisser passer" .

O nazismo religioso (idêntico ao de Hitler e Estaline) está cá dentro, e ás portas Do Castelo Europa

Anónimo disse...

Já agora leia o que Nuno Melo escreveu também no JN.....

Anónimo disse...

Caro embaixador


Tenho impressao que se o PSF esta de rastos entao o FN nao esta bloqueado pelo sistema. Quem é o "Hamonista" que vai votar Fillon? (legislativas) Que tipo de votante da esquerda esta disponivel para votar Fillon no que quer que seja?

O mias provavel é ninguém ter maioria absoluta dos votos, tendo eventualmente os LR a maior votaçao (nem isso é claro para mim).

cumprimentos

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...