terça-feira, março 14, 2017

A conferência e o que eu acho


1. Um grupo de alunos pediu para organizar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL uma conferência com Jaime Nogueira Pinto. O tema era idêntico ao de muitas conferências e debates que hoje por aí se fazem.
2. O diretor autorizou o evento.
3. Um outro grupo de alunos, argumentando que o primeiro grupo estava ligado a uma estrutura de extrema-direita, convocou uma RGA que mandatou a direção da AE para falar com o diretor e pedir o cancelamento da sessão.
4. O diretor recusou revogar a autorização dada.
5. Vários estudantes anunciaram entretanto que boicotariam a conferência, invadindo-a e ameaçando lançar ovos e outros objetos durante o evento.
6. Perante a tensão instalada, o diretor propõe aos organizadores o adiamento da sessão.
7. Os organizadores contestam e pedem proteção policial (que o diretor recusa, atentas às práticas universitárias), oferecendo, em alternativa, o recurso a segurança privada (que, naturalmente, o diretor também recusou).
8. Atento o estado de tensão criado, que poderia trazer consequências para a segurança física da escola e das pessoas, o diretor decide não autorizar a realização da conferência na ocasião prevista.
9. O Conselho de Faculdade veio a considerar adequada e deu o seu apoio à essa decisão do diretor.
Estes são os factos para mim relevantes, na análise da situação. Ponto.

19 comentários:

Anónimo disse...

Perfeito! Quer a posição do Conselho da Faculdade, quer a atitude do Director.
O autor do Blogue, Seixas da Costa, que é amigo de Jaime Nogueira Pinto (assim o disse e está no seu pleno direito, naturalmente) – embora divergente das suas opções políticas - faz aqui a defesa do que se passou naquela Faculdade com JNP. Nada a opôr. Mas, convém sublinhar, uma vez mais, que se está a fazer (e FSC contribui para isso, com mais do que um Post no seu Blogue, sobre o assunto), quer aqui, quer noutros “media” e outras redes sociais, de uma coisa menor, sem relevância, um pequeno incidente envolvendo uma figura grata da extrema-direita portuguesa, um assunto relevantíssimo, quando, verdadeiramente, o não é. Deixou de interessar. Quem quer saber de semelhante caso, passados que estão uns tantos dias sobre isso? Um número diminuto de pessoas. O que é curioso é o burburinho que este “boicote” àquela figura de extrema-direita conseguiu, em contraponto ao que se está a passar, desde há algum tempo, na nossa imprensa, escrita e TVs, com os avanços da Direita Neo-Liberal e suas consequências. Veja-se o Público, que depois do Fernandes, agora tem o David Diniz, que já dispensou uns tantos jornalistas de esquerda do jornal que dirige, veja-se o Sol, veja-se o Correio da Manhã e até as mudanças subtis que se vão verificando no Expresso e DN e por aí. Para já nem falarmos dos convidados a opinar nas TVs. Desde comentadores políticos, económicos, fiscalistas, etc, na sua esmagadora maioria de Direita, ou Centro-Direita (quando o país votou, maioritariamente contra essa tendência política, daí António Costa ter formado o governo que hoje temos). Espanta-me que Francisco Louçã ainda continue! Uma excepção para branquear a regra dominante, só pode ser. Assim sendo, faço votos para que esta questão menor deixe de ocupar as redes sociais, já que nem na imprensa o assunto, ao que julgo perceber, merece relevo. E JNP pode sempre perorar, por exemplo, numa universidade católica, sobretudo na de Braga, mas mesmo noutras, onde seguramente terá um público com disponibilidade para o ouvir. E eu que julgava o assunto enterrado! Afinal continua desenterrado, ou assim parece, por vontade de uma minoria (nas tais redes sociais). Embora a vontade das minorias deva ser respeitada - apesar de não deixarem de ser minorias. Como é o JNP e aquilo que ele pensa.
Augusto Guedes

Carlos disse...

Serei o único a achar que face ao exposto e em particular aos pontos 3 a 7, a universidade preferiu vergar-se à razão da força e esqueceu o seu dever de ser o bastião da força da razão?
Já agora teria sido interessante recordar os números que vieram a público sobre a "representatividade" da famigerada RGA ... e ainda cabe perguntar porque razao a universidade é um território onde vigora uma excepção e está vedado ao exercício da autoridade policial? não Vivemos num estado de direito ou na FCSH vale o direito do mais forte?

Anónimo disse...

Nogueira Pinto, Marcelo ou o Senhor Embaixador são exemplos interessantes de tenacidade de personagens excêntricas,i.e. fora do centro, que conseguem, e bem,fazer carreira dentro do sistema e apesar do sistema. Necessária muita determinação num país que assassina geralmente as pessoas com valor por pura inveja.

Anónimo disse...

Sobre a demissão de Santana a que os cortesãos à volta de Sampaio ajudaram como poderia Sampaio ter vencido contra uma corte onde medrava a intriga e a conspiração? Razão tinha Soares para não querer Sampaio candidato à presidência, a falta de alegria e a tortura juntas, embora seja homem sério e íntegro.

Anónimo disse...

"Carlos" tem toda a razão, obviamente.

Anónimo disse...

Tivesse a situação tido as cores ao contrário e teríamos aqui lembranças das lutas estudantis dos anos 60, histórias sobre a PIDE e a polícia de choque, recordações da resistência e elogios ao papel dos estudantes na luta contra a opressão. Assim sendo - e porque no tempo da velha senhora não havia estudantes pró-regime, "obviamente" -, ficamos por uma questão de bom senso.

carlos cardoso disse...

resumindo:
1.

carlos cardoso disse...

Resumindo:
1. o director autoriza um evento;
2. um grupo de arruaceiros faz ameaças;
3. o director anula a autorização;
4. o embaixador FSC acha que sim!

E eu aqui à espera, há vários dias, de uma boa análise da evolução recente das relações entre a Turquia e a Europa, como o embaixador FSC tão bem sabe escrever...

Luís Lavoura disse...

Esteve bem o diretor.
Só convem acrescentar que a Faculdade deve aprender com este incidente e, doravante, recusar todos os pedidos de grupos de alunos, ou de seja quem fôr, para usar as suas instalações para eventos de natureza não académica e, sobetudo, política. Quem quiser promover tais eventos, que o faça a suas expensas, alugando uma sala de hotel, o Pavilhão Carlos Lopes, ou seja o que fôr fora da universidade. A universidade não tem por função nem vocação sustentar financeiramente as paixões políticas dos alunos.

Anónimo disse...

Chama-se inflacionar atritos artificialmente, de modo a tirar proveito político. Os institucionalistas PSD e CDS, que nunca se manifestaram de modo Parece, borrifaram-se para condenação parlamentar do grupo neofascista que "visitou" a aefcsh. Tudo os ajuda à sabotagem.

Anónimo disse...

O Luís Lavoura acaba de ditar a morte da FCSH! Aquilo, sem política existe?

Anónimo disse...

O sindrome Marie Antoinette.....

"Depois de casa roubada trancas á porta" ou "Querer sol na eira e chuva no nabal"

Vão todos "virar frangos para as churrascarias dos partidos"......

Luís Lavoura disse...

Carlos,
a alternativa seria a universidade gastar o seu escasso dinheiro a contratar seguranças privados para proteger um evento que não lhe dizia respeito. Acha que a universidade tem alguma obrigação de o fazer - gastar o seu dinheiro para oferecer segurança a um grupelho políico qualquer? Acha que isso seria uma utilização razoável dos escassos dinheiros da universidade? Eu, não acho.

Luís Lavoura disse...

Anónimo

inflacionar atritos artificialmente

Claro. Tudo isto cheira que tresanda a uma polémica artificialmente fabricada para a direita se fazer de vítima e poder acusar (com razão) certa esquerda de não ser democrática. Como a FCSH tem o péssimo costume de oferecer eventos a grupelhos esquerdistas, a direita resolveu promover nela um evento que, sabia, serviria de excelente chamariz aos grupelhos esquerdistas que dela fazem a sua casa. A direita tinha tudo pronto nas redes sociais para, mal o evento fosse proibido, começar logo a gritar "ó da guarda!". Foi tudo uma fabricação, à qual a universidade se pôs a jeito.

Manuel do Edmundo-Filho disse...

"A conferência e o que eu acho".

Os factos são do conhecimento geral. E o que é que o Embaixador acha? Esqueceu-se de deixar a sua opinião.

Em total desacordo com Luis Lavoura: a Faculdade, ainda por cima de Ciências Humanas, é um dos locais privilegiados para o debate de ideias sejam elas qual forem. No tempo da outra senhora é que assim não era.

Anónimo disse...

Completamente de acordo com Carlos e em total desacordo com Luís Lavoura: as Universidades, sobretudo as de ciências sociais, servem para ensinar a pensar e a debater e a política, que é a mãe e pai de todas as ciências sociais não pode ficar de fora. Proibir o debate de ideias numa universidade de ciências sociais? Extraordinário!,
João Vieira

Anónimo disse...

e onde está a fonte de 5. Vários estudantes anunciaram entretanto que boicotariam a conferência, invadindo-a e ameaçando lançar ovos e outros objetos durante o evento."

Anónimo disse...

Este «resumo», coisa muito em voga nas escolas de todos os ciclos hoje, não o esperava de si, senhor Embaixador.
Paciência...

Anónimo disse...

Se ninguém está interessado em discutir assuntos sérios, como este, se gostam que tudo se transforme numa novela para vender jornais/pasquins, noticiários e programas de tv a fingir (felizmente, já que pagamos a fibra, podemos logo mudar de canal...), quem sou eu para sentir tanta tristeza/desânimo?

Com a idade que tenho (73), não me esqueço de como era em pleno salazarismo, da farsa do marcelismo, dos dias conturbados e dos dias alegres e de festa do 25A, mesmo com precs vários e nunca me passou pela cabeça que, em pleno século XXI, fossem possíveis estas cenas, esta cobardia de uns e outros, este diktat de assembleias de vinte jovens que se acham vanguardas...

E o tal Conselho serve para quê, Senhor Embaixador? SAÚDE!

João Miguel Tavares no "Público"