quarta-feira, março 29, 2017

David contra Michel


Em 1995, a União Europeia iniciou um processo de revisão do Tratado de Maastricht, que iria ter como resultante, dois anos depois, o Tratado de Amesterdão. Cada país designou o seu "chief negotiator". A França indicou o seu ministro delegado para os Assuntos europeus, Michel Barnier (à direita, na foto). O Reino Unido tinha então o seu "minister for Europe", Davis Davis (à esquerda). Conheci muito bem os dois, porque representava Portugal nessa negociação.

Hoje, curiosamente, Davis é "minister for exiting the European Union", o que significa que tem a responsabilidade de conduzir, por Londres, a espinhosa negociação do Brexit. Vi sempre David Davis como um conservador fortemente eurocético, dotado de um espírito sardónico, muito cáustico face aos costumes da máquina bruxelense, que visivelmente desprezava. Nessa sua vontade de afrontar a UE foi sempre coerente até ao fim, pelo chegou a ser interessante observar o modo como a nova administração trabalhista, sem perder por completo as "reticências" dos seus antecessores, se conseguiu adaptar a um estilo mais pró-europeu, sob a batuta de Tony Blair.

Por seu turno, Barnier, depois de ter sido ministro em governos franceses (da Agricultura aos Negócios Estrangeiros), foi membro da Comissão europeia e agora foi escolhido para chefiar as negociações, em nome dos 27, para a consecução do Brexit. É um homem muito diferente de Davis, com muito menor humor e quase sem capacidade de saber rir das coisas sérias, mas é seguramente um melhor conhecedor dos dossiês, pela sua ampla e diversificada experiência. É um fervoroso europeísta, bastante mais até do que o generalidade dos membros da sua família política da direita francesa.

Não vai ser um despique fácil. Boa sorte, Michel Barnier!

2 comentários:

Anónimo disse...

O interessante é saber com que maioria Macron governará no Parlamento agora que Sapin irá liderar o Euro grupo.

Anónimo disse...

Excelente post.
O perfil dos dois homens no terreno diz muito do que poderá vir a acontecer.

Mas é de crer, no entanto, que um potencialmente bom trabalho destes dois responsáveis seja completamente torpedeado pela insuperável, histórica, animosidade franco-germânica e pela cacafonia ego-motivada dos restantes, não miscíveis, 25 espectadores na plateia.
Não será assim de crer que ambos aqueçam o lugar por muito tempo.
Quanto o mar começar a bater na rocha eles serão, como os treinadores de futebol em tempo de chicotada psicológica, afastados, quiçá vilipendiados.
Serão "apenas" os dois bodes espiatórios atirados ao deserto pelas duas máquinas de, no, poder europeu, a Alemanhã e a França.

Entretanto o Reino preclitantemente Unido aprveitará para tratar de si e renegociar a sua re-União desenganando uma, um pouco desavinda, Escócia. JS.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...