sábado, março 25, 2017

O desastre de Trump


Donald Trump aprendeu ontem uma lição: a de que ter vencido as eleições presidenciais e ter um Congresso com maioria republicana em ambas as câmaras legislativas são condições insuficientes para poder gerir o país a seu bel-prazer. E isso é uma boa notícia, que prova que os "checks and balances" não desapareceram no cenário constitucional americano.

"Repeal & replace" o Obamacare era algo que os Republicanos tentavam há muito. Mesmo em tempos de Obama, poderiam já ter conseguido esse objetivo, desde que se tivessem entendido entre si. Com efeito, a maioria de que hoje dispõem em ambas as câmaras legislativas já existia antes das recentes eleições presidenciais. Só que, durante anos, os Republicanos não conseguiram acordar numa lei alternativa. Trump pensou que o impulso dado pela sua vitória facilitaria o entendimento entre aqueles republicanos que têm uma leitura reformista das mudanças a introduzir no Obamacare e quantos, pura e simplesmente, querem um regresso ao "statu quo ante", anulando-o por completo. Foram estes últimos que "roeram a corda" ao presidente, jogando agora no "quanto pior melhor", esperando pela implosão do Obamacare, através da sabotagem administrativa, já anunciada, de algumas das suas componentes. Verdade seja que, mesmo que o "Repeal & replace" tivesse passado na Câmara de Representantes, nada garantia uma aprovação no Senado. Mas o efeito político de uma passagem na câmara baixa teria sido muito importante.

Esta derrota de Trump, somada às objeções judiciais que dificultam a aplicação das medidas restritivas do acesso ao território americano e a outros recuos menos visíveis, induz uma imagem de ineficácia operativa numa presidência que já provou necessitar de êxitos adjetivados de forma gongórica para viver. A palavra fracasso não parecia fazer parte do vocabulário de Trump, que tinha saído de todos os relativos desaires anteriores sempre "aos ombros de si próprio", numa coreografia de megalomania que parecia imparável. Agora, com esta derrota, não há como esconder o desastre. Se eu fosse um comentador independente também esconderia a minha satisfação.

4 comentários:

Anónimo disse...

Segue a proposta do senador Tom UDALL de confirmar simultaneamente Gorsuch e Garland simultaneamente na Supreme Court...

Anónimo disse...

Muito Obrigado, Sr. Embaixador. É um apontamenteo muito verdadeiro do primeiro desastre aparatoso de Donald Trump. É de notar que a maioria do povo americano não está e nunca esteve a favor do "repeal" Obamacare, embora Obamacare necessite correções e ajustamentos. É a diferença entre a maioria do Colegio Eleitoral e o voto popular, quase 3 milhões a favor de Hillary Clinton.
Antonio da Silva
New Jersey

Anónimo disse...

Exacto, "checks and balances".
Trump prometeu uma nova Lei de "Segurança Social" e continua a prometer (com um sorriso nos lábios).

O projecto de Lei retirado e sem votação não era obra de Trump.
Tinha sido iniciativa da maioria partidária republicana. Tinha o apoio do Presidente, Trump, do "seu", mas autónomo, partido. O que não acontece em Portugal. Legislativo e Executivo são a mesma coisinha, sem "checks nem balances". Democracias, há muitas...

Como se sabe foi elaborado e retirado pelo líder da maioria.
Era um bébé de parte do partido Republicano.
Lutas internas, partidárias -não no poder Executivo- pois há quem não queira ter o seu voto associado à perda de previlégios dos seus eleitores. Óbvio. Uma vez previlégios dados, nenhum político os quer retirar. "Politics as usual".

O mais curiosos é que quem ficou agora com um bébé nos braços é outra vez o partido Democrata, pois "Obamacare" continua em vigor e cada vez mais a mostrar as suas fragilidades, o que os próprios Democratas reconhecem. Irá implodir?.
Daí os Democratas, agora, já quererem sentar-se à mesa ....

Anónimo disse...

Cá por mim, metia o Arnaldo a ajudar, a resolver os problemas do outro maluco!.

Senado

Dois terços dos senadores do Partido Republicano americano não foram eleitos no dia 5 de fevereiro, isto é, na onda política Trump II. É de ...