A Festa do Avante é uma grande romaria laica. Os santos têm vindo a perder fulgor e o eixo da fé caiu há uns tempos com um muro, lá para o meio da Alemanha. As músicas populares que animavam os romeiros, dos primeiros tempos, deram lugar a sonoridades de grupos de vanguarda, sempre com uma pitada nacional, para manter uma referência à tradição. Quem por lá vai nos dias de hoje é uma mistura simpática de gente, tão diversa que, no ano passado, ficou por esclarecer uma triste trapalhada homofóbica, com a complacente cumplicidade da imprensa.
Não foi apenas o calor que fez com que não me desse para passar este ano pela Festa do Avante. Foi o sentimento de que, não obstante ter uma simpatia residual pelo sonho que leva muitos cabelos brancos a confiarem nos amanhãs que cantam, aliados a uma juventude militante cujo entusiasmo não me foi ainda dado entender, aquela mensagem é-me já um pouco alheia. Mas, este ano, teria uma curiosidade: fazer a exegese do discurso equilibrista do PCP, na sua qualidade membro da "geringonça". Não deve ser fácil estar e "não estar" no poder. Amanhã vou ler Jerónimo de Sousa e olhar a cara de Arménio Carlos e Mário Nogueira. "Pode alguém ser quem não é?", cantava Sérgio Godinho. Se calhar, pode.
Mas, afinal, fui à Festa ou não? Claro que fui. Fui à festa de aniversário de um grande amigo e, no final, cantou-se a Internacional com a letra do "Parabéns a você!". Ou seria vice-versa? É uma grande confusão? Lá isso é, mas teve muita graça, talvez mesmo muito mais do que a Festa do Avante.
5 comentários:
Iria a uma festa de fascistas? É que a coisa é altamente comparável. Pois.
É... a "Festa" é uma coisa esquisita. Por exemplo: não há "Segurança" - o que há é uns grupos de indivíduos mais ou menos mal encarados com umas camisolas a dizerem "Apoio" e que trazem à cintura umas lanternas enormes.
A triste trapalhada foi aquelas 2 criaturas estarem a fazer num local aberto ao publico, coisas que apenas deveriam fazer em privado. Não foi homofobia mas sim terminar aquele triste espetaculo e repor a decencia.
Os Jornalistas estão sempre (bem) na primeira linha da defesa dos homossexuais e (mal) na primeira linha de ataque ao PCP. Para que uma coisa que permitia defender os primeiros e atacar os segundos tivesse sido tratada pelos jornais da maneira que foi, se calhar sempre se verificou o acto sexual de relevo feito em público que terá conduzido à acção dos segurancas.
Aparentemente, o partido que tanto defende a liberdade e ainda mais mantém viva a memória da luta contra os fascismo e a tortura, acha bem que dois tipos apanhados a terem relações sexuais sejam espancados. Admito que haja aqui alguma confusão entre xuxa e chucha mas já me parece demais. Ou não... que isto de comunas nunca foi coisa boa.
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