segunda-feira, setembro 12, 2016

António Guterres


Acho impressionante que a comunicação social portuguesa, que tão entusiástica e "patriótica" tem sido - e com razão - no tocante à evolução da candidatura portuguesa de António Guterres ao lugar de secretário-geral da ONU, tenha sido tão parcimoniosa sobre as manobras, que são escancaradamente públicas, reveladas nos últimos dias contra essa candidatura.

Surpreende-me não ver uma linha sobre o papel que setores do Partido Popular Europeu estão a desenvolver, tentando criar condições para que a vice-presidente da Comissão Europeia, Kristalina Georgieva, surja rapidamente na liça - agora que a expressiva última votação em Guterres claramente assustou quem deseja a sua derrota.

Sabia-se do papel de setores do PPE para levar Georgieva a Bielderberg. Foi muito claro que Jean-Claude Juncker tentou promover a búlgara junto dos russos, ao tê-la levado consigo a Moscovo, num contexto sem qualquer sentido. Mais recentemente, o chefe de gabinete do presidente da Comissão Europeia declarou, na sua conta oficial das redes sociais, a forte vontade de ver Georgieva na ONU. Last but not least, sabe-se agora da campanha desenvolvida por Angela Merkel, durante o recente G20 na China, no sentido de tentar criar uma onda de fundo em favor da ainda comissária europeia, por forma a conseguir travar Guterres.

Essa manobra passa por tentar convencer o governo de Sófia a, nas próximas horas, deixar cair o nome de Irina Bukova, a diretora-geral da UNESCO que era a sua candidata, e avançar com Georgieva.

Era muito importante que, em Portugal, o PSD, para além de dar conta da sua indignação sobre as limitações à ação empresarial de Durão Barroso nos corredores da Comissão, também expressasse publicamente o seu repúdio ativo a estas manobras desenvolvidas contra o candidato português, e que formalmente apoiou, feitas no âmbito do PPE, a formação política europeia a que está ligado. 

De caminho, talvez os social-democratas portugueses pudessem também dar garantias ao país de que nenhum antigo membro do governo do seu partido está ativamenfe envolvido nesta operação que tem por objetivo minar a candidatura portuguesa. Se assim acontecesse e viesse a provar-se, o PSD poderia vir a ficar muito mal na fotografia.

20 comentários:

Luís Lavoura disse...

a candidatura portuguesa

As candidaturas são pessoais e não nacionais.

Anónimo disse...

Caro Francisco,

Porque não publicar este post no Público, no Jornal de Notícias e/ou noutro orgão de comunicação social? Como escreve, é matèria que merece a mais ampla difusão.

Um abraço

JPGarcia

Anónimo disse...

"Manobras" não será um termo demasiado forte e depreciativo para as iniciativas, que se saiba legítimas, dos que não se revém na candidatura de Guterres? Não andou o embaixador a anunciar que seria uma coisa parecida com o que se está a passar que se iria passar? Qual é o espanto e porquê o tom de ilegitimidade?
João Vieira

Francisco Seixas da Costa disse...

Luis Lavoura não sabe, mas eu esclareço-o: são os governos nacionais quem promove as candidaturas, respondendo a convite que lhes é formulado pelo presidente da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança. São candidatos apresentados por um país. Por essa razão é que Kristalina Georgieva ainda não é candidata: porque o governo búlgaro tinha apresentado como sua candidata Irina Bukova e agora, se quiser "obedecer" à sugestão de Angela Merkel, vai ter de consagrar esse volte-face. Se o fizer, será amanhã, ao que me dizem fontes europeias. Nestes assuntos, é mais prudente não afirmar sem se informar

Anónimo disse...

foi golias, o redondo, aquele que parece o cass casey do arame farpado na pradaria, que esta sempre a comer bifes
so lhe falta o bigodes

Portugalredecouvertes disse...


Então a senhora Merkel prefere as louras ?!

Anónimo disse...

mas o senhor putin parece nao preferir a loira o que talvez simplifique a task do senhor antonio

Anónimo disse...

Senhor Embaixador

Espero que o Engenheiro Guterres seja eleito Secretário-Geral das Nações Unidas, mas não se esqueça, que de acordo com os esquemas de rotação por blocos regionais a indicação do próximo SG deveria caber só Grupo da Europa de Leste, apesar de prática esse grupo já não fazer grande sentido.

Anónimo disse...

Nao entendo... Mas o Juncker nao era afinal um grande amigo de Portugal?!

Por outro lado isto talvez seja bom para o Guterres... Com este puxa-puxa estao a conseguir irritar os russos... Sem eles ela nao vai la' e nao me parece que eles a queiram!... Nem agora nem antes.

carlos cardoso disse...

O secretário-geral das Nações Unidas é uma figura com grande exposição mediática mas com nenhum poder efectivo. Por isso não vejo em que é que António Guterres, que eu sinceramente gostaria de ver eleito, poderia, se isso acontecer, incomodar quer a senhora Merkel, quer o senhor Juncker para que eles se cansem à procura de soluções alternativas. Quanto ao senhor Juncker parece agora que afinal não é tão amigo de Portugal como o senhor embaixador aqui escreveu...

Anónimo disse...

Bom dia! Deixo aqui uma pergunta/comentário:

Qual o sentido das audições públicas e votações entretanto feitas, ao longo deste ano?
É como se um participante da maratona entrasse apenas para correr os últimos 100 metros.
Não conheço o quadro legal que regula o processo de candidatura, mas soa a injusto e inexplicável. Lá vai pela água abaixo a anunciada transparência de todo este processo, com uns requintes de hipocrisia...

David Caldeira

Anónimo disse...

O picareta falante, já mostrou que quando o pântano é espesso "dá o fora"...

carlos cardoso disse...

Acabo de ler uma notícia que me deixa um pouco mais perplexo: um ministro luxemburguês propõe que a Hungria seja suspensa ou até expulsa da União Europeia. Como é que isso se conjuga com o facto de outro luxemburguês defender a candidatura da senhora Kristalina Georgieva, candidatura essa que seria apresentada precisamente pela Hungria?

Anónimo disse...

A verdade é que nunca a europa ocidental teve alguém como sg. Um presidente britânico da comissão instaladora da ONU, uns escandinavos, um europeu-central de reputação maculada. Tirando o da comissão instaladora, tudo bastante a leste.

Anónimo disse...

Estará a referir-se a um dos seus sucessores na SE doa Assuntos Europeus,Mário David?

Anónimo disse...

Caro anónimo das 10h39.

Atenção que o Reino Unido, a Noruega e a Áustria fazem formalmente parte do bloco da Europa Ocidental nas Nações Unidas, o WEOG (Western European and Others Group).

Anónimo disse...

Caro homónimo de 13 de setembro de 2016 às 17:01,

Sim, claro, mais que ao formal político-institucional referia-me a certas afinidades electivas. Sob uma secular tradição centralista e autoritária aquela dita Europa Central (com as ditas democracias liberais instaladas apenas desde a segunda guerra mundial)e o dito Leste andaram sempre unidos e desavindos em várias guerras. E a Escandinávia (embora outros que não os noruegueses) até deu origem ao nome Rússia. E vento que sopra nas pautas das sinfonias escandinavas tem muito do sopro gelado que se encontra nos compositores russos.

Anónimo disse...

comentador das 10:16, está a brincar ou é ignorância pura? O Dag Hammarskjöld e o Kurt Waldheim não eram da europa ocidental? Eram o quê? Mongóis?

Anónimo disse...

Não comentador das 13:19, não estou a brincar. Geográfica e historicamente a Áustria é europa central, enquadrada num sistema de potências de tendências autocráticas. Aliás, a Áustria foi cabeça de um império caído para leste. Quanto à Noruega, é um país escandinavo, veja onde lhe cai o eixo em relação ao centro geométrico europeu. Não confunda alinhamentos estratégicos recentes com a eternidade.

Anónimo disse...

A verdade é que isto era sobre António Guterres e a sua candidatura a SGNU, mas os comentadores perderam-se em tergiversações que em nada contribuem para este debate.
É minha convicção que AG vai ser SGNU, com ou sem nova candidata, vinda do Berlaymont.
26 setembro será decisivo para confimar a consistência, ou introd~uzir um novo parâmetro nas decisões que estão por detrás das votoações dos 15.
Há que aguardar.

Outros tempos

Sou do tempo em que os entendimentos políticos em torno dos orçamentos se não procuravam, em altos berros, à borda dos tanques onde se lava ...