Percebo que este tema possa ser polémico e até desagradável para alguns. Todos os dias, imensos cidadãos lisboetas (não sei o que se passa noutras cidades) são confrontados, de manhã e à tarde, quando se deslocam para as suas ocupações ou delas regressam no final do trabalho, com diversas ruas da cidade atravancadas com o estacionamento, em locais não permitidos para tal, em segunda ou terceira fila, de viaturas privadas que impedem ou dificultam fortemente o trânsito. É bizarro o espetáculo de autocarros e elétricos, usados por quem não tem automóvel ou por quantos não o podem utilizar ou seguem a recomendação para o uso de transportes públicos, parados por largos minutos, com prejuízos incontáveis para quem os utiliza . Isto para já não falar das viaturas privadas, também elas limitadas arbitrariamente no seu direito de circulação. Trata-se de uma quantidade imensa de pessoas prejudicadas, atrasadas nos seus horários de vida, por esta prática diária e persistente.
Refiro-me, naturalmente, ao caótico transporte das crianças para as creches ou para outros estabelecimentos de ensino. Percebo que há uma necessidade imperiosa de se fazer a entrega e a recolha desas crianças. Mas isso tem de ser feito de forma organizada, expedita e sem prejuízo de terceiros.
Tendo todas essas escolas sido autorizadas a funcionar sem se preverem zonas para a receção de alunos que não chegam autonomamente, ou que os familiares decidem acompanhar, não seria possível esses estabelecimentos terem pessoal seu a acolher as crianças junto às viaturas ou mesmo à porta dos estabelecimentos de ensino, trazendo-as de volta à hora de saída? Não é próprio de uma cidade moderna europeia este espetáculo terceiro-mundista, vulgar em países onde a autoridade pública e a capacidade de influência deriva das clivagens económico-sociais, de ver pais e mães (e muitos avós) a mergulharem nos edifícios das escolas por longos minutos (e nós sabemos como os minutos são mais longos quando estamos com pressa), espalhando a confusão pelas ruas. Será legítimo um pai ou uma mãe ou um avô tornarem reféns da sua tarefa familiar dezenas de pessoas que seguem em transportes públicos ou privados? E por que razão a Carris não atua ao ver os seus utentes diariamente prejudicados? E o ACP? Só lhe interessam as velocidades e os parkings? Ou será que os associados (como eu sou) também fazem parte desses prevaricadores diários?
Repito. Sei que este comentário não é consensual. Sei que as autoridades policiais, tratando-se de quem se trata (pais, colégios, interesses), não "mexem uma palha". Mas poderiam fazê-lo, se assim quisessem? Claro que sim e a prova provada é que, às quintas-feiras, junto ao colégio dos Salesianos, perto dos Prazeres, uma das "no-go areas" da Lisboa matinal, o trânsito flui com rapidez. Mistério? Não, é porque, por ali perto, há, nesse dia, Conselho de Ministros...
10 comentários:
Para mim consensualíssimo.
Nem o passe social que utilizo cada vez mais me evita essa situação!
Na R S Domingos à Lapa até há um prédio que "apossando-se" de parte do passeio, deixa aos peões uma nesga que é um verdadeiro risco para qualquer transeunte mais distraído ou com dificuldades de locomoção
No dia em que houver respeito pelos cidadãos, os impostos que pagam, e para com os transportes públicos, essa situação deixa de existir. Noutros países da Europa há zero grau de tolerância para com ela. É muito simples de resolver: 'clamping', remoção do veículo e multa pesada para o reaver. E coragem política. Ponto final.
Senhora Ana Vasconcelos : Quem vai multar ou remover o carro dos "manda chuva" da terra? Quem se vai expor às consequências quando se é um pobre polícia pago como um pedreiro ou um trolha,
Não vimos a viatura dum Presidente da Republica eleito estacionar onde não devia, mas com um polícia a "protegê-lo" ? na sua infracção?
Nos Maristas, em Benfica, é ver os finórios com os carros em cima do passeio, bloqueando as passagem aos peões enquanto esperam na fila para entrarem no estacionamento e o contornarem para sair. É que o comodismo destas bestas é tal que nem sequer largam os miúdos na rua. Não! Têm de os levar "lá dentro" e, para isso, esperam literalmente em cima do passeio.
O que vale é que é gente fina e - claro -, civilizada.
Não é fácil! Há que ter paciência e saber esperar! É que essa gente move-se muito bem!... é vê-los a reluzir de amarelo... Não, não, não são os amarelos da carris... São os amarelos das camisolas.
A. Henriques
Não se iludam. À porta de uma escola pública, em Benfica Lisboa, não se rompe nas horas de entrada e saída. Estacionamento em segunda, terceira e até já vi quarta fila. Portas de garagem? Que esperem... Mais vale sincronizar as saídas ou entradas com horas que não aborreçam os paizinhos.
Também não é um problema só português. Uma amiga francesa colocava ainda há poucos dias fotos no FB de situação semelhante perto da sua casa em Paris.
Uma questão de educação...
A. Soares
É um tema fraturante. Coloca uns automobilistas contra os outros.
De um lado da barricada temos os automobilistas que não têm filhos, como o Francisco, e que se irritam contra os automobilistas que param em segunda fila.
Do outro lado da barricada temos os atomobilistas que têm filhos e que se irritam contra aqueles que pretendem não os deixar estacionar em segunda fila.
A olhar, gozões, para a barricada temos os peões, como eu, que estão muitíssimo satisfeitos por os automobilistas já não poderem estacionar em cima do passeio, como outrora faziam.
Luis Lavoura, e há ainda um outro lado da barricada, como o da malta que anda em transportes públicos, também prejudicados pelo estacionamento em segunda fila, que não têm a sorte de poderem flanar tranquilamente nos passeios.
e não há policias? só há automobilistas e peões?
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