quinta-feira, junho 23, 2016

A gravata britânica


Esta manhã, ao escolher uma gravata, comecei a pensar que cor deveria usar, neste dia muito importante de referendo britânico, uma decisão que, qualquer que seja o seu sentido, terá reflexos sobre a vida de todos os europeus. Como à tarde vou estar num debate sobre o Brexit e à noite tenho de ir ao Telejornal da RTP 1, isso poderia não ser indiferente. 

Uma gravata vermelha ("diz sempre encarnada", aconselham-me às vezes pessoas amigas, preocupadas com o meu estatuto) poderia ligar-me aos trabalhistas, uma azul aos "tories" e uma amarela aos "lib-dem", desaparecidos sem combate. Não me interessa a cor do UKIP. Lá fiz a minha escolha, sob um critério que não o político, esclareço.

Os britânicos têm um gosto bizarro para gravatas. Lembro-me de um dia, num Conselho Europeu durante uma presidência britânica, nos terem oferecido uma horrorosa gravata com umas garrafais estrelas da União em que, cada uma delas, representava um Estado membro. Já não sei o que nos calhou em rifa, mas os italianos treparam pelas paredes porque a estrela deles apresentava uma pizza... Ainda guardo esse inusável exemplar. Já pensei levá-la em idas às embaixadas britânicas, mas temo ter de passar o tempo a explicar porque me atrevia a usar aquilo.

Quem era famoso pelas suas nada convencionais gravatas era o jornalista televisivo Jeremy Paxman, que fazia o "Newsnight", na BBC 2. Tinha-as nos tons e desenhos mais fantásticos, muitas vezes exemplares pintados à mão. Paxman entrevistava com uma imensa displicência, embora sempre muito bem preparado sobre os temas, pelo que era temido pelos interrogados.

Uma noite de janeiro de 2000, fui convidado, em Bruxelas, a ir a um estúdio de televisão para ser entrevistado por Paxman, que estava na BBC, em Londres. O tema era complexo: as "sanções" à Áustria, por virtude do acordo de governo com um partido de extrema-direita. Eu passara horas a responder no Parlamento Europeu, em nome da presidência portuguesa, num agitado debate, onde alguns conservadores ingleses não me tinham poupado. Mas fora uma tarde bem estimulante, em que até troquei argumentos com Jean-Marie Le Pen!

Naqueles escassos minutos que antecederam a ida "para o ar" da entrevista, troquei umas palavras com Jeremy Paxman. Confesso que com o objetivo íntimo de o "amansar", elogiei-lhe a gravata que trazia e contei-lhe que, quando vivia em Londres, tinha sempre alguma expetativa quanto às que ele iria mostrar no "Newsnight". Fosse por via disso ou não, a verdade é que Paxman me tratou lindamente e a entrevista correu muito bem.

Não faço ideia se Paxman ainda está no ativo (não vejo a BBC), se as suas gravatas continuam notoriamente bizarras mas, reconheço, gostava que amanhã, ele e os seus concidadãos (estou a olhar para um "paperback" da sua autoria que tenho na minha estante, com o título de "The English, a Portrait of a People"), continuassem a fazer parte deste simpático clube de paz e de bem, que trouxe harmonia, bem estar e segurança a milhões de pessoas, durante décadas, que dá pelo nome de União Europeia.

7 comentários:

Anónimo disse...

A gravata no R.U. até é importante porque pode indicar a formação de quem usa a do colégio que frequentou ou o regimento em que serviu quando militar. Quem não perceber isto não percebe aquela sociedade.

Anónimo disse...

Com ou sem gravata a mim não me perguntam se quero os ingleses ou não! Que raio de democracia é esta? Também sou filho de Deus, não sou?
Se o “Remain” ganhar deve haver um referendo para os continentais entre “consent e o F.O.”…

Anónimo disse...





A gravata no Reino Unido e realmente importante pela razao apontada pelo anonimo das 12.54 e outras.

Recordo alguns episodios relacionados com gravatas e apresentadores/comentadores de televisao

David Dimbleby (Question Time) famoso pelas gravatas coloridas, muitas com animais-tubarao cor de rosa, batraquios etc.

Jeremy Paxman (ex Newsnight) raramente usava gravata, mas sempre foi aguerrido nas suas perguntas...

Jeremy Vine:esta hoje na BBC a comentar o referendo - Doou as suas gravatas favoritas para serem leiloadas no programa "Children in need"- conseguiu quase £1.000,00 com gravatas um tanto sobrias...

Jon Snow (Canal 4 - News at 7)continua a ir para o estudio de biciclte, tem uma coleccao de gravatas garridas e as meias condizem com uma das cores da gravata do dia.

Aguardo os prognosticos e resultados. Boa intervencao hoje a tarde e a noite

Saudades

F. Crabtree

Anónimo disse...

Os desgravatados sairam dos bairros sociais e foram a votos. Temos BREXIT

Anónimo disse...

Na BBC David Dimbelby usou a famosa gravata azul escura com tubaroes cor de rosa. Pressagio? Acordei ha pouco e ainda estou chocada.Ate ir dormir tive esperanca que o "REMAIN" ganhasse embora com uma pequena margem! Neste momento a porta de 10 Downing Street mantem-se fechada. So o gato LARRY mostrou os bigodes por breves instantes como e normal nos bichanos.

Saudades

F.Crabtree

Joaquim de Freitas disse...

Eles eram tão pouco « europeus » , e eram tão « british » que não vejo razão nenhuma de não lhes cantar um “goodbye ” sem lágrimas.

Mas eu compreendo-os. Dá-me vontade de rir ,quando ouço o horrível Jean-Claude Juncker prevenir que “ele” não facilitará a vida aos Ingleses se deixarem a U E : “O RU deverá aceitar de ser considerado como um Estado terço, que não será acariciado no sentido do pêlo”!

O tratamento não poderá ser pior que o que a U E infligiu à Grécia europeísta, acariciada com uma luva de ferro, estrangulada, humilhada, caluniada. E o que infligiram a Portugal.

O eurocepticismo progride em todos os países, e em França neste momento nem se fala, com esta lei El Khomri, imposta pela U E ao governo francês.

Não é com matracas, granadas lacrimogéneas, flash-balls, mentiras, e anti sindicalismo primário que se constrói a união dos povos fraternais para os interesses comuns e pacíficos.

A utilização do artigo 49-3 da Constituição, que obriga os Franceses a engolir a destruição do Código do Trabalho e os tecnocratas de Bruxelas que governam a U E sob a pressão dos lóbis corruptores, não é aceitável.
Que se vayan todos !

Anónimo disse...

Mais gravatas...

Lembro-me muito bem da sua entrevista no Newsnight BBC2 com Jeremy Paxman. A altura achei J. P. muito mansinho; compreendo agora. Muitos espectadores (onde me incluo) ficaram tristes quando ele deixou o programa. Ja nao e o que era. Na BBC continua a fazer o "University Challenge". Durante o referendum estava no canal 4. Interessante notar que o numero de espectadores do Canal 4 (1,6 milhoes)ultrapassou os da BBC. Coincidencisa ou nao, a ultima hora Nigel Farage (UKIP) desistiu de ir ao debate do Canal 4 "por razoes de familia"...

Boa tarde. Amanha ha jogos!!!!

Abracos

F. Crabtree

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...