quarta-feira, junho 29, 2016

As malhas que o império deixa

Tinha-o notado no aeroporto de Lisboa. De "balalaika" cinzenta era, com toda a certeza, uma figura grada do "establishment" de um país africano de língua portuguesa. Tratava-se de um cavalheiro na casa dos cinquenta, negro, que viajava como se "deve" viajar: sem rigorosamente nada na mão. 

(Comparado comigo, ganhava-me à légua. Eu levava um pasta pesadíssima, "laptop", iPad, um livro, várias revistas, três jornais diários do dia, a que somei, na FNAC do aeroporto (não, não ia em "business class"...) o "Financial Times" e o "El Pais". E uma saca com roupa e higiene. Ele não: como "deve ser", despachara a bagagem).

Chegados a Amesterdão, caminhou, à minha frente, calmo e sem pressas, pela manga de acesso, apenas com um jornal na mão, seguramente obtido na classe "executiva" em que viajara.

Chegado ao topo da manga, aguardavam-no dois cavalheiros, também negros, engravatados, diplomatas pela certa (só diplomatas poderiam aceder àquela área).

Tudo o que até aqui relatei é irrelevante. O importante é o que vem a seguir.

No encontro entre o cavalheiro, chegado de Lisboa, e as duas figuras que o aguardavam, eu, que vinha imediatamente atrás, testemunhei o seguinte diálogo:

- Querem o "Record"? Trouxe-o do avião.

- Não havia "A Bola"?

- Não...

- Bom, sempre é melhor que "O Jogo"...

Perdemos um império, mas há coisas que não passam...

15 comentários:

Luís Lavoura disse...

Eu, pelo contrário, acho que se deve viajar de bagagem na mão. É muitíssimo mais rápido e seguro do que despachá-la. É como os executivos americanos viajam sempre: só com bagagem de mão. Com uma mochila na qual se coloca toda a roupa para mudar durante uma ou duas semanas.

Anónimo disse...

As malhas que o imperio tece... continuam a comprar os jornais desportivos e Portugal a "comprar", "importar" jogadores. Amanha se vera. Coragem Nani, Quaresma e outros - nao sou muito entendida em futebol - mas estarei atenta e torcendo. Por aqui comentam "Ja saimos da UE mas ainda temos o Pais de Gales no Campeonato"!!!!
Saudades

F. Crabtree

o Merceeiro disse...

como costumo dizer (lá vem mais uma frase), quando existirem só dois seres humanos ao cimo da terra, cada um terá a sua opinião.
isto porque encanito (também)com as malas, malinhas, tralha e guarda-vestidos que agora se leva para a cabine. às vezes até me lembra a camioneta das férias do sr. Hulot. e se por acaso vem uma valente turbulência, chove mala ou tralha.
e realmente uma mochila com roupa para uma ou duas semanas !?!?!?
by the way; eu prefiro o Diário de Notícias !

Anónimo disse...

Lembro-me de um colega do MIREX, apoiante entusiasta do Benfica, que me dizia à uns anos, é uma pena a malta nova de Angola é toda do Porto, nós já não ganhamos nada.

Calculo que depois de 3 campeonatos as coisas tenham mudado um pouco, mas a ligação a Portugal continua muito forte, felizmente.

Joaquim de Freitas disse...

Com a religião, a "bola" foi uma das doenças do Império, que os Portugueses por lá deixaram...

CORREIA DA SILVA disse...

Pois é, Senhor Joaquín de Freitas, já agora lembro que também deixamos lá a língua Portuguesa, e Combatentes de Portugal, abandonados pelos sucessivos governantes, desde a famosa revoluçao dos cravos.

Cordiais e Patrióticos cumprimentos.



Anónimo disse...

Para ler e pensar!...

Anónimo disse...

Caro Joaquim Freitas, não excluem contribuições.
http://outraspalavras.net/blog/2016/06/23/para-praticar-futebol-e-politica/

Portugalredecouvertes disse...


mas daí que não tenha sido nem a religião, nem a bola, que criaram a horrenda guerra civil

Joaquim de Freitas disse...

Caro Senhor Correia da Silva : Note por favor que escrevi « as doenças …. ». Ora a língua Portuguesa e os combatentes não eram doenças do Império. Eram sim as armas do Império. Retribuo os cordiais cumprimentos.

Anónimo disse...

Diga-se que por estes dias em Luanda os restaurantes se enchem nos dias de jogo da selecção e, felizmente, os corpos que se entusiasmam são de todas as cores.
Sendo certo que no jogo com a Croácia as cores eram todas mas para grandes entusiasmos não deu.

Miguel

Anónimo disse...

O FREITAS É DAQUELES PESEUDO ELITISTAS QUE PARA ELE FUTEBOL É COISA DE PELINTRA. Bom Bom PARA O FREITAS SÓ OS ÁRABES A INVADIR A EUROPA E A COLOCAR BOMBAS EM TODO O LADO. A CULPA DISSO É CLARO É PORQUE LÊM MUITO A BOLA.

Joaquim de Freitas disse...

Portugalredecouvertes disse...

“mas daí que não tenha sido nem a religião, nem a bola, que criaram a horrenda guerra civil”
Mas onde viu que uma e outra impediram alguma vez a “horrenda guerra civil”?

A primeira provocou-a frequentemente, mesmo nos países mais desenvolvidos.

Quanto à segunda, provocou muitas mortes nos próprios estádios, mas nunca passou dos”faits divers” !

Portugalredecouvertes disse...


Sr. Joaquim de Freitas, não tinha regressado a este post,
mas para esclarecer que o meu pequeno texto estava relacionado com Angola
ou seja
"mas daí que não tenha sido nem a religião, nem a bola, que criaram a horrenda guerra civil" em Angola

se entendo alguma coisa do assunto, teriam sido as ideologias do século passado e novos poderes em marcha apoiados nessas ideologias que prometiam criar um homem novo (fim da exploração do homem pelo homem) ou coisa do género...


Joaquim de Freitas disse...

A Portugalredecouvertes:


Oh, creio que foi muito mais simples : O direito inalienável dos povos à auto determinação do seu futuro, a ânsia de liberdade numa terra que lhes pertence e o fim do colonialismo ao qual as grandes potências foram “convidadas” na Conferência de Bandung , na Indonésia,, em 1955, com uma pressaozinha dos EUA por trás ! O que não impediu as potências coloniais de inaugurar logo de seguida uma outra fase, a do neo colonialismo, com os mesmos resultados de exploração dos povos e miséria total, mas com novos mestres no poder: - as elites autóctones, “fabricadas” pelos antigos mestres, nas suas universidades, que ultrapassam por vezes os primeiros na prática da corrupção e da tirania.

E a guerra civil foi o jogo da concorrência das potências coloniais na busca da dominação.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...