O recente ato terrorista na América pode vir a ter consequências bastante mais graves do que as significativas perdas humanas que causou. A emergência deste tipo específico de violência, ideologicamente motivada, induz insegurança e vontade de retaliação. A resultante política destes sentimentos não é por ora clara, mas tudo indica que não deixará de projetar-se sobre o momento eleitoral que os EUA atravessam, influenciando os compromissos securitários dos candidatos, quer na ordem interna, ao estimular efeitos sobre a cultura cívica e de liberdades, quer no comportamento externo do país, onde facilitará uma atitude favorável à afirmação autónoma do interesse nacional americano, com condições para forçar novas clivagens e agravar riscos que podem afetar todo o mundo. Uma América provocada a sob tensão é tudo quanto não precisamos nos tempos que correm.
7 comentários:
Caro Francisco Seixas da Costa:
Adoro estas historietas, que nos deixam "pano para mangas".
Cordiais e Patrióticas saudações.
O Senhor Embaixador escreve:
"onde facilitará uma atitude favorável à afirmação autónoma do interesse nacional americano, com condições para forçar novas clivagens e agravar riscos que podem afetar todo o mundo. Uma América provocada a sob tensão é tudo quanto não precisamos nos tempos que correm."
Como escreveu o Senhor Correia da Silva : "há pano para mangas neste "post"".
Crê realmente, Senhor Embaixador, que os Americanos precisam de ser atacados por um homofóbico, no seu solo, onde há já tantas fobias : negrofobia, islamofobia, arabofobia, palestinofobia, latinofobia, para utilizar a sua força, urbi et orbi , para defender os seus interesses estratégicos e outros ?
Não fizeram nada de outro desde o fim da segunda guerra mundial. E se algumas destas fobias têm em comum um forte odor de petróleo, o que me impressionou no gesto deste assassino , terrorista ou não, é a sua origem: o Afeganistão ! Um nome que fala tanto dum Saudita, Bin Laden, de Al Qaïda, do 9 de Setembro e de tantos milhares de mortos na sequência fatal da intervenção no Afeganistão : Iraque, Líbia, Síria, etc., em defesa precisamente dos interesses americanos no mundo!
A exploração imediata deste ataque ignóbil, faz parte duma tendência mais geral que consiste a explorar as questões societais progressistas para glorificar as palavras de ordem militaristas, atiçar os conflitos intracomunitários e defender as politicas estrangeira agressivas.
Resta que o tipo de sociedade que o homofóbico atacou num assassinato ignóbil, não "quadra" com os valores que os Americanos querem impor desde à tantos anos nestes países, onde a democracia é considerada como a negação doutros valores obscurantistas que nunca poderão conviver com os nossos.
Quem abandonará o primeiro este combate de "arrière-garde" resta a grande questão. O mundo ocidental é tão contraditório nos valores que propaga que tenho dúvidas sobre o sucesso da nossa cruzada .
Senhor Embaixador, recorda-se dos anos 1990, época em que passei frequentemente nos EUA, Eric Rudolpf, educado num meio católico e afiliado na seita "Christian Identity", pôs bombas nas clínicas que praticavam o aborto e um bar gay, insistindo sobre o facto que se tratava de lugares de deboche e de mal.
No mês de Julho do ano passado, um Israélita judeu ortodoxo atacou os participantes do gay pride em Jerusalém, com um punhal ,ferindo seis, entre os quais , um adolescente , morreu dos seus ferimentos. Justificou os ataques apoiando-se sobre as penas prescritas no Talmude para a homossexualidade. Acabava de ser libertado duma pena de prisão de 10 anos pelo mesmo crime em 2005.
Ontem, Senhor Embaixador, um pastor cristão do Arizona, Steven Anderson, saudou o massacre de 49 pessoas em Orlando pelo motivo que "os homossexuais são um bando de perversos imundos" e "pedófilos".
Os ataques contra os bares gays nos EUA são coisa corrente.
O que é curioso é que, segundo o Instituto Pew, um estudo de 2015, indica que , os Muçulmanos americanos são "mais tolerantes" para com os homossexuais que os Evangelistas, os Mormons e as Testemunhas de Jehovah .
Que os Americanos elejam presidentes militaristas que simbolizam marcas de progresso social em matéria de raça e de sexo e rapidamente o seu militarismo parecerá mais progressista, mais tolerante e talvez posa mesmo ser uma fonte de inspiração.
Recordo J.F Kennedy, tolerante como nenhum outro antes dele para os Negros, lançando a sua guerra do Vietname.
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Inadvertidamente, inseri aqui o comentário anterior, quando o objetivo era o "post" sob o título:
Privilégios.
Inadvertidamente, inseri aqui o comentário anterior, quando o objetivo era o "post" sob o título:
Privilégios.
@Joaquim de Freitas
"Crê realmente, Senhor Embaixador, que os Americanos precisam de ser atacados por um homofóbico, no seu solo, onde há já tantas fobias ... para utilizar a sua força, urbi et orbi , para defender os seus interesses estratégicos e outros ?"
Basta olhar para a história para que não haja qualquer dúvida.
No total as guerras "oficiais" desde a independência (ano 1775) foram 91. Feitas as contas, os Estados Unidos estiveram quase sempre em guerra com alguém, com poucos períodos de excepção, e precisamente:
entre 1806 e 1809
em 1816
entre 1829 e 1832
entre 1843 e 1844
entre 1934 e 1940.
Estes foram as únicas alturas durante as quais os Estados Unidos conseguiram não zangar-se com alguém. Ou talvez andassem simplesmente distraídos, não sabemos. No total foram 18 anos de paz ao longo de 237 anos de história. Nada mal.
Diferente o discurso relativo às operações militares no estrangeiro. Neste caso, é necessário contabilizar 280 intervenções, que aconteceram também nos já citados anos sem guerra. Uma exaustiva lista é visível nesta página https://en.wikipedia.org/wiki/Timeline_of_United_States_military_operations
Portanto, os únicos períodos nos quais Washington conseguiu não disparar contra alguém foram:
entre 1829 e 1830
entre 1935 e 1939
Devem ter sido alturas deprimentes. E se é verdade que pudemos entender o segundo intervalo, ditado pelas dificuldades económicas da Grande Depressão, os anos de 1829 e 1830 ficam incompreensíveis.
Eu diria que o mais triste é que o principal opositor à irracionalidade presente nos EUA se chama Barack Obama e não Hillary Clinton. Mesmo que ela seja eleita, vamos sentir muita falta do presente inquilino da Casa Branca...
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