Os contabilistas estavam perplexos. A conta de "mini-bar" que o hotel tinha remetido ao Ministério, relativa ao convidado estrangeiro que lá alojáramos durante três dias, era espantosamente alta. Muito maior do que as despesas efectuadas no próprio bar do hotel. Que se teria passado? Teria o homem decidido encerrar-se no quarto e esvaziar todo o whisky, gin, cognac e outras bebidas, mandando recarregar o mini-bar algumas vezes mais?
Porém, quem lidara com ele, durante esses mesmos dias, não ficara com a menor impressão de se tratar de alguém afectado na sua sobriedade. O nosso hóspede era quadro superior de um país estrangeiro, de um Estado pobre e com grandes dificuldades. No passado, já tinha ocorrido o Ministério ter de suportar algumas despesas exageradas, feitas por alguns convidados de perfil idêntico, um pouco deslumbrados pela circunstância de todo o consumo que fizessem no hotel ser por nossa conta. Mas isso, à partida, continuava a não explicar a elevada despesa do mini-bar.
Foi tomada a decisão de pedir uma factura detalhada dos consumos de mini-bar, dia-a-dia, feitos pelo cliente, durante todo o tempo da sua estada. A resposta veio e, com ela, a desarmante explicação: a rubrica "mini-bar", inserida na conta do hotel, nada tinha afinal a ver com o consumo de bebidas. Tinha a ver com o facto do nosso homem, no embalar final das suas bagagens, antes de sair do hotel, ter decidido levar consigo, seguramente bem embrulhado, o próprio pequeno móvel do mini-bar...
(Reedição de histórias da diplomacia publicadas neste blogue há alguns anos)
3 comentários:
E pagaram?
O saudoso Aventino Teixeira, quando de passagem por Belém, não perdoava. Whisky, nada do convencional café.
Vá lá. Esta personagem, era capaz de levar, se fosse um pouco mais pequeno. Até o próprio hotel. É a natureza humana!!
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