Foi sob o título “Portugal e a diplomacia económica” que um editorial deste jornal, há já alguns dias, criticou a diplomacia portuguesa, colocando-a aliás em contraponto com uma simpática avaliação positiva do trabalho dos eleitos políticos de turno.
Não tenho nenhum mandato dos diplomatas portugueses para os defender, mas aproveito o espaço de liberdade desta minha coluna para exercer o contraditório.
Escrevia-se no texto que a diplomacia económica “é um trabalho continuado dos embaixadores junto da classe empresarial e política, identificando oportunidades de negócio e fazendo a ponte para as empresas dos seus países”. Quer o editorialista dizer que os diplomatas portugueses não fazem isso? Se é esse o ponto, talvez fosse interessante o DE convocar o testemunho de empresários que, no passado, tenham apresentado queixas fundamentadas neste domínio.
Refere depois o editorial que será para obviar a essa suposta falta de ligação entre a diplomacia e as empresas que “os EUA nomeiam empresários ou gestores para as representações externas”. E então por que será que a imensa generalidade dos Estados, europeus e não só, não seguem esse exemplo, confiando nas suas carreiras diplomáticas? Conviria, já agora, esclarecer que esses “empresários ou gestores” americanos são, sem exceção, antigos coletores de financiamentos para as campanhas presidenciais, com mandato a prazo, vivendo apoiados por uma forte máquina de… diplomatas de carreira!
Diz também o editorialista que falta a Portugal “uma diplomacia que não se envergonhe de falar de dinheiro e de negócios”. É uma afirmação que reputo de preconceituosa, sem o menor fundamento e insuscetível de prova.
Na mesma linha, refere-se não haverá por cá “uma diplomacia que trabalhe em parceria com a AICEP”. Que pensarão sobre esta afirmação, p.e., os mais recentes presidentes da AICEP, de quem sempre ouvi palavras de apreço pela excelente articulação entre os embaixadores e a agência?
Tenho pena que o editorial do DE não tivesse aproveitado para perguntar ao governo por que razão o MNE, hoje apenas com 0,6% do OGE, foi dos ministérios mais causticados orçamentalmente nos últimos anos, por que se fecharam postos para agora reabrir alguns, por que há embaixadores sozinhos em certas capitais – num tempo em que ainda mais exige da nossa diplomacia.
Escrevo como antigo diplomata que, durante quase quatro décadas, trabalhou quase sempre em áreas económicas do MNE e que, tendo também exercido funções governativas, conhece particularmente bem o que fazem os profissionais da nossa diplomacia. Mas pronuncio-me também como atual membro da administração de duas das maiores empresas portuguesas na área internacional, as quais, talvez não por acaso, se mostraram interessadas em integrar um diplomata nos seus quadros de topo. E, por essas áreas onde me movo, ouço uma constante avaliação positiva da nossa diplomacia, consonante aliás com a imensa maioria de opiniões que fui recolhendo ao longo dos anos. Por muito que o DE pense, pelos vistos, o contrário.
(Artigo que hoje publico no "Diário Económico")
Em tempo:
"Com o meu agradecimento, transcrevo aqui o testemunho que o Dr. Pedro Reis, que até ao ano passado foi presidente da AICEP, quis deixar na caixa de comentários da minha página do Facebook, sobre o trabalho dos diplomatas na ação de natureza económica: "Sou testemunha do enorme valor e competência dos nossos Diplomatas, do seu trabalho fulcral em prol das empresas portuguesas, deinúmeros testemunhos da esmagadora maioria dos empresários que estão gratos pelo apoio que os nossos Diplomatas lhes prestam desde sempre, e da articulação virtuosa entre Diplomatas e profissionais da Aicep em que se complementam profissionalmente em prol dos mesmos objetivos. O trabalho de ambas as casas não seria tão eficiente isoladamente. E os empresários são os primeiros a reconhecer o valor dessa aliança".
13 comentários:
Sr. Embaixador, não posso avaliar - e quem sou eu para o fazer? - a competência e a eficácia (é isso que se trata, ao fim ao cabo) da nossa diplomacia para promover Portugal e os produtos portugueses por esse mundo fora. Mas há uma área que acompanho de perto por razões profissionais e onde tenho amiúde ouvido e presenciado queixas dos agentes económicos sobre a pouca atenção que alguns diplomatas dão à promoção do vinho português e em certa medida também da nossa gastronomia. Com algumas notáveis excepções e que por serem excepções são sempre assinaladas, a verdade é que muitas delegações nem sempre revelam a sensibilidade para "imporem" o vinho e os produtos portugueses nas recepções, encontros, conferencias e eventos por si organizadas. Não é preciso recuar muito para recordar os champagnes servidos como aperitivo e os vinhos chilenos servidos no almoço de uma visita presidencial, só para citar alguns exeemplos.
Muitos diplomatas,embaixadas e consulados existem mas nao existem... só para inglês ver , e uma boa parte representam e demonstram um Portugal dos anos 60.acordem estamos em 2015.
sangue novo com vontade de trabalhar e nao se acomodarem.
Mas a AICEP está uma confusão bonita...
Primeiro o Portas retirou-a do Ministério da Economia para a levar para o MNE. Depois, quando fez a birra, retirou-a do MNE para ficar com ela.
As nomeações da Administração são uma trapalhada.
- O PM nomeou para PCA o Frasquilho para o livrar do BES.
- O Portas nomeou uma individuo de uma financeira ligado ao CDS.
- O Ministro da Economia nomeou um ex-assessor de uma governo do PSD e agora quadro da EDP.
- O MNE Machete um individuo quadro do MNE que não faz nenhum.
E, para finalizar,
- Um individuo do centrão que se vai mantendo com governos de várias cores porque é quadro da casa e ganha de origem mais que qualquer membro do CA... então deixa-se ficar.
Alguma organização funciona com esta confusão?!
Um bom Post. Mas, haverá que reconhecer, caro colega, que muito do que li nestes outros comentários aqui faz sentido. O que é pena.
Cumprimentos,
a)Rilvas
http://www.portugalglobal.pt/PT/PortugalNews/Paginas/NewDetail.aspx?newId=%7B7D0E4955-B3BF-4FEC-9D54-36B29782112C%7D
O link supra dá conta do trabalho de divulgação que o Senhor Embaixador João de Vallera tem feito em prol do vinho português. Só a entrevista que conferiu ao Financial Times sobre o assunto deve ter adiantado mais do que várias campanhas publicitárias...
Senhor Embaixador,
Quando se refere ao AICEP, acredite que fico incomodado.
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O AICEP foi um bonito que o embaixador Martins da Cruz, em 2002 e ministro dos Estrangeiros do Governo de Durão Barroso desejou presentear a Diplomacia Portuguesa e fazer dela uma dinamizadora do comércio externo português.
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O senhor embaixador e eu (um mero manga de alpaca) fomos vítimas de Martins da Cruz que além de ex-mestre de cerimónias do PM Cavaco Silva, que assumindo o lugar que lhe foi dado de bandeja pelo, amigo, PM Durão Barroso, tratou desde logo concretizar suas raivinhas retirando o embaixador Seixas da Costa das Nações Unidos e enviá-lo para Viena e dali, “a toque de caixa” (como o escreveu Carlos Albino no seu blogue NV) para Banguecoque o embaixador Lima Pimentel.
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No que se refere a mim e porque criou o AICEP, perdi a função, acumulada, de representante do extinto ICEP, que já levava esse cargo havia 5 anos, que Martins da Cruz eliminou.
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Quanto ao Dr. Pedro Reis não conheço a sua obra, mas vi-o, várias vezes, no vidro do televisor de minha casa acompanhar o ministro (excêntrico) dos Estrangeiros Paulo Portas (quando estoicamente se movimentava de um continente para outro a vender Portugal quando do mister nada percebia) a fazer declarações para a RTP, um triste na rectaguarda do ministro cromo Paulo Portas.
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Senhor Embaixador não lhe tiro o mérito como um dos grandes da diplomacia portuguesa, mas nem todos os diplomatas são da craveira do senhor em promover o Comércio Português no exterior.
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Muitos estão no lugar errado e no regaço colocados no “Palácio das Oportunidades” (Necessidades).
De Banguecoque seu admirador
José Martins
Sr. Embaixador,
Sou, como deve saber, funcionário diplomático. Entre 2001/2002, redigi uma tese de mestrado em Economia sobre Diplomacia Económica (pub. em 2003 pela UTL). Foi basicamente um exercício comparativo entre as diplomacias económicas portuguesa, espanhola, britânica e holandesa. A partir daquela data, comecei a desenvolver, no contexto das habituais funções diplomáticas no estrangeiro, atividade económica, designadamente a procura de oportunidades de negócio para as nossas empresas e captação de investimento externo. Devo dizer-lhe que nunca fui devidamente apoiado nem reconhecido pelo MNE por exercer aquela atividade. Para lhe dar um exemplo, o tão falado contrato com a Fuso - Mitsubishi, para a produção de camiões "verdes" em Portugal, foi previamente assinado, em 2010, no Consulado-Geral em Estugarda, com a Daimler AG, na sequência de contactos que desenvolvi, por minha iniciativa, com aquela empresa, enquanto chefe daquele posto consular à época. Recordo que do MNE não recebi o mais pequeno elogio, nem referência. Nem deram por isso. Exceção feita ao então Secretário de Estado das Comunidades António Braga, que me louvou e agradeceu pessoalmente por escrito. E este foi um de entre muitos outros casos. Entretanto, desde finais de 2013, estou no Panamá a dirigir uma missão que antecede a abertura da nossa nova Embaixada neste país. Uma vez mais, todo o trabalho de diplomacia económica que aqui tenho desenvolvido (o Panamá é um exemplo notável de "business land") não tem merecido qualquer reconhecimento das elites do MNE. Recebo os mais diversos testemunhos de apreço de associações empresariais, de empresas, de institutos públicos e privados, de outros Gabinete de membros do Governo; são remetidas cartas ao Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros a louvar-me; fui proposto para o Prémio FMT de Diplomata de 2014 (CCIP CIEP). Contudo, das minhas autoridades diretas, que têm conhecimento integral daqueles testemunhos, uma vez mais nunca recebi nenhum elogio nem prova de reconhecimento.
Dito isto, sou levado a constatar que o MNE ainda não está verdadeiramente vocacionado para a área da micro-economia. Não há de facto uma cultura de reconhecimento efetivo do trabalho diplomático feito junto das empresas, de Governos e de outros agentes económicos em geral, salvo raras exceções. E sem reconhecimento, não há incentivo. E sem incentivo das hierarquias, só com muita carolice nos poderemos verdadeiramente empenhar nas nossas embaixadas e consulados em apoiar a tão necessária internacionalização das nossas empresas e a captação de IDE para Portugal.
Com os melhores cumprimentos
Manuel Gomes Samuel
Caro Manuel Gomes Samuel. Percebo as suas razões. Devo contudo dizer-lhe que, em 38 anos de funções diplomáticas, tendo servido o Estado com 5 presidentes da República, 15 primeiros-ministros e 21 ministros dos Negócios estrangeiros, muito raros foram os momentos em que recebi um expresso reconhecimento pelo meu trabalho. E da hierarquia da casa, que me recorde, nunca! Tendo saído do MNE há mais de dois anos, posso agora revelar-lhe um segredo: com assumida soberba, sempre me preocupou muito mais o que eu próprio pensava sobre o que fazia do que os juízos sobre ele dos poderes de turno, políticos ou funcionais. O MNE pode parecer, às vezes, injusto e ingrato mas a experiência demonstrou-me que, a prazo, quem trabalha muito e bem acaba por ser recompensado. Desejo-lhe uma ótima estada no Panamá e, se puder, dê abraço meu ao cônsul honorário Edwin Vieira, que foi muito simpático quando há uns anos por aí passei em férias. Um outro abraço para si. FSC
"a experiência demonstrou-me que,
a prazo,
quem trabalha muito e bem acaba por ser recompensado"
Francisco Seixas da Costa
Há homens que lutam um dia e são bons,
há outros que lutam um ano e são melhores,
há os que lutam muitos anos e são muito bons.
Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis.
Bertolt Brecht
Ao Anónimo das 15:02: conheço e reconheço o notável trabalho do Embaixador João de Vallera em Londres na promoção dos vinhos portugueses e era a ele um dos que referia quando em cima referi "as notáveis excepções que por serem excepçoes sao sempre assinaladas". Como aliás é justo reconhecer, já que estamos a citar nomes,a acção que o dono deste espaço, enquanto Embaixador em Paris, teve por exemplo na promoção do vinho do Porto naquele que é o principal mercado deste generoso. Mas uma andorinha, neste caso duas, não farão propriamente a primavera.
Os portugueses possuem uma enorme capacidade de acreditarem que são grandes (herdeiros de um império que dividiu o mundo a metade) mas de agir e pensar como pequenos por questões de ego e pessoais. Portugal é o país a que chamam carinhosamente de Terrinha, que tem 10 milhões de habitantes mas que tem instituições e representações em duplicado e que se sobrepõem. Entidades que deveriam trabalhar em conjunto mas que não o fazem por "invejinhas" e coisas pequenas. Somos o país que está numa feira internacional com um total de 10 empresas separadas em dois stands conjuntos de Portugal: um da AIP e outro da AEP. Não se entendem, existem invejinhas e intriguinhas e não se querem juntar. Fica penalizado o orçamento público e a imagem de Portugal que sai enfraquecida. A questão das representações externas (Embaixadas, Consulados e delegações da Aicep) é mais do mesmo. Alguém te que assumir a decisão corajosa de organizar essa rede, cortar o que tem que cortar (e há muito para cortar, ao contrário do que o Senhor dá a entender), reforçar o que tem que ser reforçado e definir claramente as funções de cada parte. O Senhor Pedro Reis, referiu uma imagem de cooperação exemplar entre as Embaixadas e a Aicep. Talvez não tenha tido tempo para entender como as coisas funcionam na realidade. Posso garantir que está longe de ser uma colaboração exemplar e funcional. Basta percorrer a rede consular e embaixadas e de imediato se entenderem inúmeros atritos entre Consul ou Embaixador e representantes da Aicep. Cada um quer defender o seu quintal, justificar o seu posto e tentar obter visibilidade para o seu lado. Coisa de gente que pensa pequeno. Para o empresário é-lhe relativamente indiferente quem será o protagonista do apoio que poderá receber da rede externa, o que ele pretende é ter um apoio eficiente e rápido. Contudo anda perdido e frustrado ao verificar de que forma é utilizado o dinheiro dos seus impostos na tão falada rede externa. São muitas vezes residências magnificas, nas melhores localizações e que fornecem excelentes prints de listas telefónicas e de diretórios de associações setoriais. Escrevo com muito conhecimento de causa.
Este parece-me ser um post interessante (comentarios incluidos).
para mim que sou emigra em frança (alguns diriam expatriado...) pergunto-me o porque de nao se tentar, no que toca a comida, vinhos, petiscos e afins, uma marca Portugal, no mesmo sentido em que ha uma marca Espanha ou Italia. Porque é que ir a uma épicerie espanhola comprar um jabugo é "sexy", ir a uma épicerie italiana buscar um lasbrusco é "chic", mas ir a uma épicerie portuguesa comprar um madeira é...
é um problema... porque épicerie portuguesas havera uma duzia em frança... ha os minimercados do sor manel e da dona alzira, mas esses nao terao os clientes requintados prontos a gastar, sao para os tugas e tem o typical portuguese gourmet (ver abaixo)
porque é que as epiceries, lojas de comida e afim libanesas, italianas, gregas existem e sao feitas para os outros e os restaurantes portugueses so tem na generalidade clientes tugas...
e porque é que resumem a comida portuguesa ao bacalhau a bras, ao frango no churrasco, a entremeada e ao caldo verde? nao sabem fazer mais nada?...
a embaixada e os consulados deviam distribuir uns livros da maria de lourdes modesto... (pois claro...)
é curioso que muitos supermercados comecem a ter um "rayon portugais" que geralmente incluem sumos compal, atum bom petisco, muralhas de monçao, feijao frade e afins... enfim.... o tal typical portuguese gourmet, que é sempre o mesmo
cumprimentos
não faz falta nenhum mandato da classe (a que pertence) para escrever sobre o tema
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