quarta-feira, novembro 19, 2014

Tive uma amiga que foi jornalista

Tive uma amiga que foi jornalista. Tinha nome e mundo, as portas abertas, a graça do verbo ágil, a questão felina e inventiva, mas sempre cordial. Cresceu na sua carreira, em notoriedade e também na escrita. Nunca escondeu onde o seu coração pertencia, na vida como na opção cívica. Em ambas, cultou os seus heróis, viveu deles as saudades, por eles enlevou-se em entusiasmos, caiu em alguns "trompe l'oeil". Na profissão, o viés parecia equilibrado pelo desejo de compreender o outro, de se colocar na sua pele, de sempre o respeitar. E, assim, também foi respeitada. Um dia - terá data? - mudou. Crispou o verbo, acidulou o comentário, verrinou a crítica. Encandeou-se então com fogos fátuos, perdeu-se pelo facciosismo, tornou-se pena oficiosa da obsessão. Para tal, patriotou a sua escrita ao absurdo, lateralizou o olhar, deixou de ver, de vez, a paisagem do mundo. Hoje, essa amiga que tive e que foi jornalista está reduzida a mera observadora, contemplativa deslumbrada, não do sol, mas da lua, cujo brilho, como se sabe, é emprestado. E, mesmo esse, antes do eclipse que aí virá. 

17 comentários:

Santiago Macias disse...

Ena!
Belo texto. O mais fantástico é rever nessas palavras, às quais não falta um toque de nostalgia (isso me parece), tantas pessoas que passaram pelos meus dias e que cederam aos mais diversos deslumbramentos.

Isabel Seixas disse...

Que bonito Senhor Embaixador o texto em prosa poética.

"felina e inventiva
tinha nome e mundo

mudou

Crispou o verbo,
encandeou-se então com fogos fátuos,

pena (...)
eclipse que aí virá..."

In FSC

Um Jeito Manso disse...

É lá, Embaixador! Belo texto. Nem sei se a dita merece texto tão bem tecido. É observadora, diz, e eu acrescentaria que nem isso embora por lá paire. É apenas uma caricatura.

Mas, olhe, inspirou este seu belo texto e isso não é pouco.

Anónimo disse...

será esta ?
observador.pt/opiniao/cara-ha-e-coroa/

Lamas disse...

Pois é senhor embaixador.
É que com a idade deixamos de ser mais tolerantes. Por mim vejo. E não há tolerância para tanta incompetência e "outras coisas".
Dantes ainda tinha algum tento na língua, hoje já não e despejo tudo na cara.
Ela também.
Habituem-se, como dizia o outro.
Mas o seu texto é brilhante mesmo não concordando com ele.

Anónimo disse...

o texto é muito bom (só podia ser dum diplomata). não interessa saber quem é, parece simples de perceber. acontece com frequencia qd não se consegue perceber o tal mundo e afinal verifica-se que aquilo que parecia capacidade era apenas personagem.

Anónimo disse...

O senhor embaixador tinha uma amiga e deixou de ter uma amiga. E assim vai o mundo. Parece que é um belo texto, muito bem escrito, e que, ainda por cima, nos entretém como charada.

Anónimo disse...

Anónimo das 05.23.Quando acabei de ler o grande texto do Embaixador, ocorreu-me imediatamente essa pessoa, mas, pensei, não, não pode ser tal personagem, porque este texto, é Bom de mais, para a Srª.

Anónimo disse...

Como eu o compreendo, caro Francisco!

Um abraço

JPGarcia

Anónimo disse...

Pois é! Para bons entendedores meio "texto" dá...

Anónimo disse...

Belo texto. a dita "jornalista" já faz parte do passado onde pululam actualmente os que.não-evoluem.

A ler no Observador, uma jornalista:

António Costa existe mesmo?
Maria João Marques

Anónimo disse...

A Maria João Marques é uma escriba inqualificável. Aquilo que escreve chega a ser sórdido. E ainda há quem lhe pague por aquele fel político que espalha com a sua escrita.
João Ferreira

JS disse...

Muito bom.
Catártico?.
Vale também pelo que de universal tem.
Obrigado.

Unknown disse...

É um comentário vergonhoso e despeitado que mostra a pesporrência e a arrogância de quem acha que verdade vive no Largo dos Ratos e de quem acha que quem não se verga à retórica e ao revisionismo da história recente que de lá emana, e não se curva aos seus inventados Messias cujo passado é revelador do que será o nosso futuro, deixou de reunir as qualidades óbvias que ainda tem. É certamente uma voz incómoda para o Embaixador e aquilo que defende e representa, mas de si, de um Embaixador, mesmo socialista esperava-se no mínimo um conceito de democracia mas lato!

PS: Vamos ver se o meu comentário passa por esse estreito conceito de democracia!

Francisco Seixas da Costa disse...

Como vê, "Miguel Cardoso", foi publicado. Era o que mais faltava não dar espaço ao desespero...

Manuel do Edmundo-Filho disse...

Maria João Marques!? Não. Falta-lhe, além do mais e de tudo, charme para ter sido amiga do embaixador. Creio,mas isso pouco importa, ser uma outra Maria João...

Anónimo disse...

Não me surpreenderia que M.J.Marques ainda viesse a cair num qualquer gabinete governamental actual, dado "os serviços que tem vindo a prestar".

A Europa de que eles gostam

Ora aqui está um conselho do patusco do Musk que, se bem os conheço, vai encontrar apoio nuns maluquinhos raivosos que também temos por cá. ...