domingo, novembro 02, 2014

Parceria transatlântica

Há dias, fiz aqui notar que o surgimento, pela calada, de um tropismo liberal radical dentro do governo estava a colocar Portugal no lado mais extremado da negociação da Parceria Transatlântica entre a União Europeia e os EUA, contribuindo para um agravamento do fosso esquerda-direita nesse debate, numa matéria cuja importância virá sempre a requerer um consenso político interno alargado. Tratava-se de propugnar por uma instância de arbitragem que pudesse ultrapassar a jurisdição dos tribunais comuns dos Estados subscritores, como o argumento do reforço dos direitos dos investidores. Uma posição que nem sequer a Alemanha apoia. Dizem-me que o alarido provocado pelo assunto terá, entretanto, obrigado a um discreto puxão de orelhas de bom-senso. Mas nunca fiando... 
 
Hoje, o "Público" dedica ao assunto um dossiê clarificador. A esse propósito, e de forma reveladora da leviandade da posição portuguesa, o jornal transcreve este extrato do "The Economist", uma revista que, sem deixar de ser liberal, não perde, por essa razão, o sentido de responsabilidade que por cá parece faltar:
 
“Se a intenção é convencer o público de que os acordos internacionais de comércio são uma forma de enriquecer as multinacionais à custa dos cidadãos comuns, eis o que deve ser feito: dar um direito especial às empresas para recorrerem a um tribunal secreto, gerido por advogados extremamente bem pagos pelas empresas, para pedir compensações sempre que um governo aprova uma lei que, por assim dizer, desencoraja o fumo, protege o ambiente ou previne uma catástrofe nuclear.”
 
É preciso dizer mais?

8 comentários:

Alcipe disse...

Muito bem!

a) Alcipe

Helena Sacadura Cabral disse...

Meu caro Francisco
Ora aqui está um tema no qual, Alcipe, Francisco e Helena estão completamente de acordo!

Joaquim de Freitas disse...

O "The Economist" disse muito bem com as palavras justas. E o Senhor Embaixador também.

Anónimo disse...

Meu caro Francico.
Tudo bem,salvo o 'nem sequer a Alemanha'.
Ao contrário dos seguidistas do costume a opinião publicada alemã,sobretudo nos meios jurídicos,é desde que a questão surgiu,manifestamente contrária às pretensões americanas
Nem sempre a Alemanha está do lado errado e,admitirás sem dúvida que entre os seus maiores defeitos não consta o de não saber defender o que julga estar de acordo com os seus interesses.Que neste caso coincidem com os da Europa!
Triste é ver as manobras de intoxicação da opinião pública pelo Governo e seus agentes de comunicação....
Abraço e até breve

Anónimo disse...

Francisco,
O 'nem sequer' parece deslocado.
Ao contrário de muitos,na maior parte de entre os suspeitos do costume,é a Alemanha que tem liderado a oposição aos usa nesta matéria.
É que,além de juízes em Berlin ainda há no espaço público alemão,em especial entre juristas quem saiba defender as posições mais equilibradas nesta matéria.e não tenhamedo de as defender.
A Alemanha pode não merecer a simpatia de muitos;mas colocá-la,sistematicamente do lado mau....
Abraço JVJ

Anónimo disse...

Deus nos valha! se já temos de pagar pelas perdas dos bancos
só nos faltava agora as empresas?!!
quem disse que a escravatura foi abolida?!

Anónimo disse...

A 'velha senhora' diz regozijar-se com o acordo tripartido FSC-Alcipe-HSC, de quem se considera amiga devotada, e rimalha:

francisco, alcipe e helena
completamente de acordo?
então, não há mais problema...

t.t.i.p. vale a pena,
maçães sai fora de bordo
e assim a coisa se ordena.

vivá vitória do povo!...

Unknown disse...

Desta vez, o plano falhou. Mas o poder económico há-de voltar à carga, pois o dinheiro até consegue comprar a soberania (ou as pessoas).
Desta vez, a opinião pública percebeu a jogada (graças a artigos como este). Mas aos ricos (muito ricos) pouco lhes falta para "mandar no mundo", e este assunto vai voltar à baila até que passe (pela calada). A maior preocupação deles é ficar ainda mais ricos.

A Europa de que eles gostam

Ora aqui está um conselho do patusco do Musk que, se bem os conheço, vai encontrar apoio nuns maluquinhos raivosos que também temos por cá. ...