António Costa venceu, da forma esmagadora que já se presumia, o congresso do PS. A sombra da tragédia que envolve José Sócrates pairou por algum tempo sobre o conclave socialista, mas Costa foi capaz de mobilizar as hostes e de dar um sentido de forte unidade política ao seu partido. Os "seguristas" terão sido respeitados, os "socratistas" não terão sido excluídos e só Francisco Assis terá visto o seu individualismo desenquadrado da nova liderança. O discurso de encerramento de António Costa foi uma lufada de esperança, pelo que é agora de presumir que o PS exerça, neste ano que o separa das eleições legislativas, uma oposição determinada e efetiva à maioria "sortante", como dizem os franceses. Este congresso acabou por correr muito melhor para o PS do que, à partida, se poderia esperar.
À porta do conclave ficaram dois nomes: Sócrates e Seguro.
O futuro de José Sócrates não passa pelo PS, mas o contrário não é necessariamente verdade. Se Sócrates estiver inocente e impoluto, como espero e desejo, essa será uma sua grande vitória pessoal e sairá pela porta grande, com tudo o que isso representará para o prestígio da nossa Justiça. Se acaso se viesse a provar que, no exercício de funções de Estado, Sócrates tinha cometido algum delito grave, esse já seria então um problema do qual o PS não sairia incólume. Para já, e porque o reino do "achismo" só aos especuladores interessa, aguardemos. Quanto ao juízo que os socialistas fazem do trabalho de Sócrates à frente dos governos, só posso esperar que haja seriedade, isto é, destaque público para o muito que foi feito de bom e uma reflexão serena e modesta sobre os aspectos negativos que haja a apontar. O resto é "espuma"...
António José Seguro, cujo comportamento durante a campanha interna no PS não me eximi de criticar, é uma figura de bem, cujo recato atual configura uma atitude de grande dignidade, à altura daquilo que, com grande sentido de Estado e de serviço público, executou durante os cerca de três anos do seu mandato. O PS deve a Seguro a construção, num tempo inigualavelmente difícil, de um património de ideias e propostas que, sem a menor dúvida, também estarão no centro do programa de António Costa. E fica igualmente devedor de um ato de abertura democrática do partido que permitiu o sopro de legitimidade de que António Costa é hoje beneficiário. António José Seguro pode não ter o élan mobilizador de Costa, mas é um homem respeitável que também integra a história do socialistas.
Este é o primeiro dia de um PS renovado que se espera possa estar à altura daquilo de que muita gente no país hoje espera.
12 comentários:
sem duvida que ajs se portou com enorme dignidade, retirando-se imediatamente do cargo e da politica.
A realidade é bem diferente dos discursos inflamados.Penso que uns bons milhões de portugueses não caíram na real.
Quando se delapidar o aforro de 20.000M€ agora conseguido, com as apregoadas devoluções( chamados roubos)à função pública e pensionistas ( da qual ao serei contemplado), a guitarra vai ser afinada.Daqui a 3 anos veremos a afinação.Virão em força os congelamentos,cortes e as pensões limitadas a 2000€.Dou um dos exemplos pessoais na família(mas tenho mais).No governo Sócrates,Um dos meus filhos que é professor,por 6 dias ficou com a promoção congelada até hoje.
Cá estarei para ver os comentários?
Cumps.
"Wake up and smell the coffee!"
Não deixa de ser interessante notar que entre a inocência de Sócrates e a vergonha para a Justiça, o senhor prefira a primeira.
Medite...
Caro Anónimo das 19.14: então não acha natural que eu deseje que um amigo pessoal, acusado de um crime, esteja inocente? Seria muito estranho o contrário, não lhe parece?
Muito bem - bela análise do momento.
(E boa, excelente, resposta -que subscrevo - ao anónimo.)
Bem haja!
Uma frase, se me permite. Percebe-se a ideia (fala-se de reputação, de honra, de consideração, etc.) mas seria + claro ler-se «o que isso representará para o DESprestígio da nossa Justiça». As palavras existem, usemo-las.
acho um piadão ao exemplo mostrado pelo opinador opjj :))
ó pá, em vez de se queixar do Engº Sócrates não seria melhor pedir ao seu amigo Passos de Coelho que retire o seu filho do congelador? 3 anos são mais que suficientes para descongelar um mamute siberiano, quanto mais um professor!
não deixa de ser elucidativo que haja quem prefira a condenação de um inocente para encobrir a maldade de pretensos justiceiros.
barrabás! barrabás!
Um inocente condenado?! Que grande confusão que vai nestas cabeças.
A Justiça, funciona ou não?
Se funciona e condena, então não é inocente!
Se não condena e é inocente, então, não se desprestigia!
Mas, a lógica dos amigos à frente das instituições, sobretudo quando defendida por "institucionalistas", é interessante, é sim, senhor.
Se amanhã soubermos que o Salgado recebeu dicas de... amigos, veremos se a bitola é a mesma...
Com "amigos" desses, prefiro os inimigos !
Estou em crer que sim, que será um PS renovado e ganhador e, sobretudo, social democrata.
Quanto à atual e indefinida situação de Sócrates, não comungo da tese que toda a situação que envolve o ex-primeiro-ministro é objetivamente prejudicial para o Partido Socialista. Em primeiro lugar, porque os portugueses não são ditosas cavalgaduras (só alguns, uma clara minoria). Depois, porque os portugueses têm uma precisa ideia do centrão político, o qual não é mais do que um avia-te se puderes ou, menos coloquial mas de igual sapiência popular, a asserção de que melhor do que ser ministro, é ser ex-ministro.
Dito de outro modo, a questão Sócrates, se eventualmente carregar prejuízos eleitorais, não serão só para o PS, mas também para o PSD. Por acaso todo o processo BPN trouxe a António José Seguro sondagens projetadamente tangíveis? Logo, os partidos que mais proveitos tirarão deste dossiê serão, precisamente, o PCP e o novel Livre (o Bloco não me parece de saúde).
Também estou propenso a crer que a morte política e irrevogável de José Sócrates é, eventualmente, exagerada. Se o homem sair limpinho disto tudo, terá mais asas do que o Red Bull.
um abraço,
José Ricardo
ps. Não sei por que razão, pensei ver 21:30 onde dizia, penso, 15:30. Daí ter aparecido, desconforme, no Teatro em Vila Real. Perda minha.
jr
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