Portugal tem coisas curiosas.
Anda para aí toda a gente a falar do livro de Thomas Piketty, "O Capital no século XXI", que já foi considerado um dos livros económicos da década, por uma figura tão ilustre como Paul Krugman. Trata-se de uma obra de economia que, ao que vejo, recupera certas categorias inspiradas no famoso livro de Karl Marx, "O Capital". Quando o livro saiu em França, no final de 2013, não teve um sucesso estrondoso, o que só aconteceu depois de ter circulado em versão inglesa. Hoje, não se fala noutra coisa. A versão portuguesa ainda demorará uns meses.
O debate em torno das teses do livro já começou. Hoje, recebi um mail com uma boa dezena, não apenas de recensões críticas, mas também de artigos, a favor ou contra. Entre nós, a sensação que tenho é que se iniciou uma polémica em torno do livro... na maioria por gente que o não leu e que apenas tem (já) opiniões "sobre" ele, feita à luz do que escreveu quem, de facto, o leu. Não querendo "perder o pé" ao que está na moda, a muito do nosso "impressionismo" doméstico basta a opinião dos outros. E, por isso, já hoje vi comentários sobre a análise feita à obra por Vitor Gaspar (que, claro, a leu cuidadosamente), por parte de quem só quer aproveitar a onda para mandar bitaites, as mais das vezes cavalgando até a maré política.
País curioso, este.
9 comentários:
Não o li. E a ver pelas resenhas, ele está fora das minhas prioridades. Soma-se ao ranço que nutro pelos gurus da economia: as mais das vezes buscam apenas amenizar os problemas que a própria falta de capital lhes impõem.
PS: O Pikkety com dois 'kás' foi proposital? Sabem a dificuldade que os brasileiros temos para captar o humor tuga ...
Senhor Embaixador: Reconheço que esse grande "pavé" de 1 000 páginas é o meu livro de "chevet" há já alguns meses. Algumas frases resumem bastante bem este trabalho imenso de Piketty , resultado de quatro anos de pesquisas duma equipa de economistas, quando escreve, cito:
" A contradição central do capitalismo: r>g
"A lição geral da minha pesquisa é que a evolução dinâmica duma economia de mercado e de propriedade privada, abandonada a ela mesmo, contém no seu seio forças de convergência importantes, ligadas particularmente à difusão dos conhecimentos e das qualificações, mas também das forças divergentes poderosas, e potencialmente ameaçadoras para as nossas sociedades democráticas e os valores de justiça social sobre as quais se fundam.
A principal força destabilizadora está ligada ao facto que a taxa de rendimento privado do capital "r" pode ser fortemente e duravelmente mais elevada que a taxa de crescimento da renda e da produção g.
A desigualdade r> g implica que os patrimónios resultantes do passado se recapitalisam mais rapidamente que o ritmo de progressão da produção e dos salários.
Esta desigualdade exprime uma contradição lógica fundamental. O empresário tende inevitavelmente a transformar-se em rendeiro, e a dominar cada vez mais fortemente aqueles que só possuem o seu trabalho.
Uma vez constituído, o capital reproduz-se sozinho, mais depressa que o aumento da produção. O passado devora o futuro." Fim de citação.
Nestas poucas palavras podemos ler o drama que apoquenta o nosso mundo, onde o dinheiro se transformou na arma fatal da sociedade humana.
Um outro livro de Piketty, " L' économie des inégalités", merece também uma leitura atentiva.
Realmente...Ninguém me tira da cabeça que ler tanto sobre economia só Os baralha vejam-se os resultados...
A começar pelo iluminismo de Vitor Gaspar... Só considero insigth a economia que reduz a fome...
Nem vou perder tempo nem dinheiro ...
Meu caro Francisco
As teses de Piketty foram bastante discutidas em França, nomeadamente no âmbito da candidatura Hollande ( que rejeitou as suas teses fiscais), do PS ( quando pensava) e dos economistas, em geral (o Baverez chamou-lhe, desdenhosamente, "marxiste de sous-prefecture"). Assisti a um debate com ele, em 2012, na minha pacata Estrasburgo. O problema e que nada tem existência neste mundo até ser traduzido pelos americanos ( os ingleses são um apêndice). Diga-se, em abono deles, que onde ainda há algum pensamento critico no mundo e nos Estados Unidos ( na Alemanha também, mas aqui só se conhece o alemão da Merkel, portanto, esses tem ainda que esperar pela tradução americana...).
No comentário de Alcipe sobre Pikkety, a afirmação que Hollande rejeitou as suas teses fiscais, o que é verdade, justifica a perda de popularidade do mesmo . Pikkety defende o imposto progressivo . Hollande aplicou o imposto regressivo , o que deu como resultado que a taxa média de 47% de impostos de renda, em França, para 50% dos contribuintes, é de 40%-para os 40% seguintes, declina em seguida para os 5% de contribuintes auferindo as rendas mais elevadas, com uma taxa de 35%. não é aquilo que se pode chamar uma política social e fiscal de esquerda! E isso paga-se no barómetro da popularidade.
Quanto a Baverez, desculpe Alcipe , mas foi o economista que defendeu a famosa " poll tax" , de Thatcher, género de imposto local do qual não conheço o nome em Portugal, mas que prevê um imposto do mesmo montante para cada pessoa adulta que vive sob o mesmo teto, qualquer que seja o nível de renda ou de capital! Claro que quando as rendas são mais elevadas (os ricos) é um grande negocio para estes em proporção da renda ou do capital. Esta ideia custou-lhe o lugar de primeiro ministro!
Desculpe porquê, Defreitas? Não sou de modo algum admirador de Baverez...
Desculpe mais uma vez, Alcipe. exprimi-me mal.
Estou como De Freitas. Vou lendo - e relendo, porque nem sempre compreendo - o calhamaço na versão original.
Confesso que algumas propostas dão que pensar e por isso não percebo que só agora tenham acordado para a versão em inglês.
Vamos aguardar então a chegada da "obra". Há muitos anos li, com vagar o outro, "O Capital" (com a visualização de Engels para o segundo volume). Na altura, compravam-se os 2 volumes em capa vermelha, edição Delfos). O que requeria vontade política para tal empenho!
Mas, estou um pouco como Pedro Lemos relativamente a esta. Mas vamos ver e depois de o folhear bem, numa livraria, a ver se me entusiasmo.
Já quanto a Gaspar, não percebi bem onde queria chegar. Para mim, a obra do indivíduo foi aquilo que fez enquanto Ministro das Finanças e essa foi um desastre e uma prova de incompetência. O livro que publicou (com a apresentação de António Vitorino!!!) jamais o irei ler pois não sustento malvados e já me chegou, nos bolsos, o que essa vil criatura me e nos fez!
Lourenço
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