Na noite de Santo António, optei por ir jantar com amigos, passear nessa jornada única no ano, pelas ruas de Alfama. Assim, não assisti, em direto, à abertura do campeonato do mundo de futebol. Verdade seja que só na manhã desse mesmo dia me havia dado conta de que o campeonato se iniciava nessa noite. Sabedores disso, alguns amigos brasileiros comentaram negativamente esta minha atitude, como se ela colocasse em causa a minha amizade pelo Brasil. Era o que mais faltava!
Gosto muito de futebol, como julgo que por aqui tem sido revelado, nesse campo tenho uma "paixão irónica" pelo meu clube e, naturalmente, sinto um grande gosto quando a nossa seleção vence. Mas, em geral, não fico "doente" quando ela perde, mesmo que injustamente. Estou longe de ser um fanático. Por exemplo, olhando para a minha agenda, já reparei que vou perder a transmissão direta de dois dos próximos jogos da nossa seleção, porque tenho outros compromissos simultâneos. Mas isso não me angustia minimamente: verei mais tarde a repetição dos jogos. E chega-me!
Entendo e respeito o sentimento de adesão patriótica que um campeonato internacional pode suscitar. No caso do Brasil, dessa "pátria em chuteiras", como escrevia Nelson Rodrigues, o futebol tem, de há muito, uma relação muito íntima com o sentimento profundo dos seus nacionais, que sofrem com a sorte do "time" nacional, como se o destino e o prestígio do país dependessem de um golo ou da prestação de um "craque". É bonito de ver e é uma expressão magnífica dessa forma de estar única que é a "brasilidade".
No nosso caso, de Eusébio a Ronaldo, passando por Figo, temos vindo a criar um entusiasmo crescente face à seleção, à medida que esta passou a obter mais vitórias do que desenlaces menos felizes, o que não era a regra do passado. Por cá, nestes tempos de défice, a nossa seleção é, para muitos, o superávite possível do orgulho nacional. E não devemos desprezar o efeito de estímulo à autoestima que as vitórias desportivas podem representar para o país: hoje é a seleção de futebol, como no passado foi o óquei em patins, como foram os tempos áureos de Joaquim Agostinho nos "tours" ou de Carlos Lopes e Rosa Mota no atletismo.
Dentro de mim, contudo, as coisas estão, desde sempre, muito claras: o desporto tem a sua graça, pode ser pontualmente emotivo, mas serve apenas para me divertir, nunca para me angustiar. As coisas que tenho por importantes na minha vida não passam por "futebóis".
8 comentários:
este mundial tem coisas interessantes, permite nos ver onde estão as nossas simpatias, para onde pendem as nossas emoções, tambem avaliar outras coisas.
p ex, nossas simpatias individuais regem se por quê? porque estava com a australia no jogo com o chile e não gostei da derrota daquela?
no caso da espanha holanda porque estava neutro entre os 2? embora fossem excessivos os 5 e desagradavel a humilhação da espanha.
no caso do brasil a vitoria não me pôs assim feliz e senti simpatia por um pequeno país a lutar contra um gigante.
vemos que a presidente dilma rousseff foi vaiada na partida brasil croacia e foi feito o slogan ou refrão que por vezes se ouvia das bancadas, pela palavra forte que incluia. e as manifestações continuaram depois da vitória do brasil, há de facto algo de estragado por lá, para haver tanta queixa e protesto. não, dilma não é um presidente muito amado nem é popular, parece, será um presidente distante, algo arrogante, no outro extremo de lula da silva, popular e populista.
e hoje a inglaterra italia? pois não puxo por enquanto para nenhum dos lados, outra coisa é o jogo do dia 16,
sim, não há que dar demasiada importancia ao mundial...
Pierre Selal regressa a Bruxelas para ocupar pela segunda vez a posição de RP de FR junto da UE. Aqui há gato.
A minha relação com o futebol pauta-se de maneira quase semelhante: gosto de ver, mas não me "sacode" mais que outro desporto. Mas considero que o problema da Dilma não será o do seu caracter mas antes o escândalo enorme das despesas monumentais e da corrupção num pais onde tantos sofrem da falta mesmo do essencial.Da mesma maneira, os salários exorbitantes dos jogadores que são um verdadeiro insulto para aqueles que sofrem da falta de tudo, mesmo de cadernos escolares!
Sabemos desde o tempo de Salazar, e outros, que o futebol pode ser um aliado momentâneo da ditadura ou a droga ou sedativo para aliviar a miséria.
Correndo o risco de passar por um "desmancha prazeres", vou mesmo mais longe": O futebol, como as religiões, são o alimento mais nocivo dos povos quando estes ainda não atingiram a maturidade cívica. Os governantes e os ayatollas sabem-no bem que o semeiam sem cessar através dos media, velhos comparsas da difusão da mediocridade nos países que são as vitimas.
Como os antigos folhetins da televisão brasileira, que esvaziava as ruas das cidades portuguesas há anos atras a hora da difusão.
Se o clube do Senhor Embaixador ganhasse mais jogos a conclusão seria certamente outra. Assim, compreende-se o desinteresse geral pela arte da bola.
a) Jaime Graça
"O futebol, como as religiões, são o alimento mais nocivo dos povos quando estes ainda não atingiram a maturidade cívica. Os governantes e os ayatollas sabem-no bem que o semeiam sem cessar através dos media, velhos comparsas da difusão da mediocridade nos países que são as vitimas."
Compreendo o que diz DeFreitas. Falta-lhe apenas, do meu ponto de vista, acrescentar a "política" aos outros dois temas alienantes a que se refere...
Creio, Cara Doutora, que um dos problemas graves na nossa sociedade, é que, embora a nossa época se caracterize por uma aceleração exponencial do acesso à informação (medias e tecnologias da informação e da comunicação electrónicas) , ao mesmo tempo , esta riqueza de meios de informação esconde grandes disparidades de acesso entre as pessoas e não diz nada sobre as possibilidades de analise e de relação com o conhecimento.
A política ( como um conjunto de práticas, factos, do governo dum estado ou duma sociedade ao serviço do interesse geral) não escapa a esta tara ! Ninguém se preocupa com o percurso educativo que daria o tempo às pessoas de se formar para compreender a sociedade, e de oferecer a cada geração possibilidade de fazer a experiência da democracia, favorecendo a análise, o debate, a expressão.
Pensava precisamente nisso, ao visitar há dias a casa onde viveu Clémenceau, na costa atlântica.
Assistimos hoje a uma rejeição da esfera politica ( ah, les "affaires") sentimento de afastamento entre as populações e os eleitos, incapacidade a encontrar soluções face à crise social, demagogia) . Uma das razões desta crise do politico é uma importante lacuna na campo da educação à política.
Lamentável o que tenho visto no noticiário televisivo de Portugal.
O Brasil recebeu com todo carinho a seleção portuguesa, e até está sendo retribuída com o mesmo tom. Não natural sempre ao mau humor lusitano.
Agora esculachar dizendo nos noticiários a Copa tropical????
Deve ser por isso que não nos damos bem. Aqui tambem achamos que Portugal não faz parte da Europa.
Caro anónimo das 13h17: registei o seu comentário sobre um assunto manifestamente na sua zona de conforto do saber:
"Pierre Selal regressa a Bruxelas para ocupar pela segunda vez a posição de RP de FR junto da UE. Aqui há gato".
E eu, acrescento, aqui há gato.
Presidente do CE francês?
Ou apenas uma disputa entre diplomatas, com ganho de causa para este?
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