sexta-feira, janeiro 03, 2014

"Ilustração Portuguesa"

São 37 volumes. Encadernados em belo couro. É a "jóia da coroa" da minha biblioteca. É a coleção completa da "Ilustração Portuguesa", esse retrato ímpar da vida portuguesa, de 1903 a 1924. São 947 números recheados de fotografias. Está lá tudo - a decadência (escondida) dos últimos Braganças, o regicídio, os números empolgantes sobre o 5 de outubro, toda a saga da Primeira República, com a Grande Guerra pelo meio. Os últimos números denotam já um certo cansaço. Era o regime a esvair-se, a caminho da ditadura.

A "Ilustração" figurava em destaque em casa da minha avó, em Viana do Castelo. Fora colecionada, durante mais de 20 anos, por uma figura que só conhecíamos pelo retrato fardado na parede e pelas medalhas pendentes num caixilho envidraçado: o Tio Túlio. O meu pai falava sempre desse cunhado, desaparecido ainda antes de eu nascer, como uma figura de pendor intelectual, dado a conhecimentos bizarros, do esperanto ao espiritismo, das técnicas policiais a estudos sobre tipos tipográficos. Já um dia por aqui falei desses armários recheados de belas encadernações, situados no apelativo escritório, uma sala onde, a partir de meados dos anos 50, durante os meses de verão, era armada a minha cama. Cresci com esse cenário das três paredes de livros que me rodeavam nas férias. Só muitos anos mais tarde essas vitrines me foram acessíveis, embora com decrescentes limitações. Foi a partir de então que pude começar a folhear a "Ilustração", mas também a coleção do ABC, uma revista iniciada nos anos 20 e que iria desaparecer nos primeiros tempos do Estado Novo, com um toque gráfico modernista, mas já sem a qualidade de conteúdo da "Ilustração Portuguesa".

Por um daqueles percursos das coisas que ocorrem na vida das famílias, aquela coleção da "Ilustração" surgiu um dia à venda, em meados dos anos 60, num alfarrabista do Porto. O meu pai soube do facto e pediu a um amigo, que se deslocava regularmente àquela cidade, para se informar sobre o preço que era pedido. O custo pedido ainda era significativo e os tempos não eram fáceis. Para minha surpresa, o meu pai, que não era muito dado a consultar-me para coisas da vida, perguntou-me se eu estaria interessado em ter a "Ilustração" para mim. Disse logo que sim, a "Ilustração" era um sonho que nem sequer ousara ter. O amigo viajante encarregou-se da compra e, um dia, lá chegou um pesado volume. A "Ilustração Portuguesa" passou, desde então, a ser "minha".

37 comentários:

Isabel Seixas disse...

Decerto sempre a Ilustração Portugues(z)a merece ser a jóia da coroa e ostentada assim até apetece admirá-la e ou cobiçá-la...

Anónimo disse...

Ex.mo Senhor Embaixador,

Sou leitor assíduo do seu blog, mas não posso deixar de expressar a minha opinião no que refere ao teor do primeiro parágrafo do post. Na minha humilde leitura, os últimos anos da Casa de Bragança enquanto família real portuguesa foram tudo menos decadentes. Foram anos difíceis, tanto de uma perspectiva política como económica. No entanto, não ousaria imputar a responsabilidade à instituição monárquica e muito menos às figuras que a encabeçaram. Tanto o Sr. D. Carlos como o Sr. D. Manuel II eram de uma probidade inquestionável e dispunham de um sentido de serviço público imprescindível ao exercício da chefia de Estado.

Quanto à I República, aí sim: sou adepto do qualificativo "decadente." Foi um regime que fracassou por causa de muitas pressões (internas e externas), chefiado por homens sem sentido de Estado e, em muitos casos, oportunistas. Terminou sem honra nem glória, o verdadeiro epitáfio dos decadentes.

Com os meus mais respeitosos cumprimentos,


Henrique Souza de Azevedo

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Henrique Souza Azevedo: a cada um a sua verdade. Nem eu tenho a sua opinião sobre as figuras com as quais os Braganças nos brindaram durante o final do período monárquico, nem comungamos a mesma leitura sobre os "malefícios" da República. A Democracia é isto mesmo. Bom Ano!

Anónimo disse...

Meu caro correligionário Henrique de Sousa Azevedo, estou de acordo consigo sobre D. Carlos e a biografia excelente de Rui Ramos veio recentemente fazer justiça a essa figura incompreendida que foi um grande Rei. Onde talvez divirja de si e ao crer eu firmemente que os males do nosso Pais vieram da implantação pela forca do constitucionalismo entre nos, pela acção perniciosa da Maçonaria e do seu chefe, o traidor D.Pedro. Mas isso daria para uma longa conversa. Deus salve El Rei, que actualmente e da boa linhagem. Bom Ano

a) Henrique de Menezes Vasconcellos (Vinhais)

Captomente disse...

Viva.

Visito o seu blog desde que soube que era Sportinguista, através de uma picardia qualquer num outro blog de cor mais vermelha, a propósito de uma discussão que já nem me lembro qual era. (Qualquer coisa a ver com o Estado Novo e o futebol?)

As suas histórias são deliciosas, obrigado por partilhá-las.

É a primeira vez que comento, porque quero partilhar consigo e com os seus visitantes, a informação de que toda a coleção da Illustração Portuguesa (e de outros periódicos da época) se encontra completamente digitalizada e acessível ao público através da Hemeroteca Municipal de Lisboa!

http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/IlustracaoPort/IlustracaoPortuguesa.htm

Gosto de ler jornais antigos desportivos (Stadium, Eco dos Sports, etc) e quando procurava mais informações sobre tais periódicos juntos do responsável da Hemeroteca, informou-me que havia algum conteúdo sobre o fenómeno desportivo nas páginas da Illustração Portuguesa.

Já as "folheei" a todas e é, de facto, uma revista extraordinária, carregada de belas fotografias, muita informação, cultura geral, etc, e, claro, desporto.

Pronto, fica a informação, acho que será do seu agrado.

Um Bom Ano Novo e cumprimentos!

João Forjaz Vieira disse...

Os Braganças decadentes? Só um sectário encarniçado republicano diria isso porque um republicano normal não atribuiria os males da pátria a figuras a que a história já reconheceu o seu papel. Diria que os ventos da história fizeram o seu caminho.
Quanto ao resto: confesso a minha inveja da colecção, tanto como da do Cavaleiro Andante.
João Vieira

Anónimo disse...

A Ilustração Portuguesa é, de facto, um dos periódicos mais interessantes e importantes da História Contemporânea portuguesa. Sobretudo porque é o primeiro exemplo da manipulação ideológica da imprensa. Aqui se experimentou o fotojornalismo e a fotomontagem. Esta revista foi a melhor aliada dos republicanos e a melhor amiga dos burgueses (se reparar a vida social documentada já não é a dos velhas aristocratas, mas das filhas de banqueiros, comerciantes e outros que apoiaram o 5 de Outubro e a I República). Só por isto já vale bem a pena louvar esse tesouro. Afinal de contas tão actual. Cumprimentos.

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

Senhor Embaixador,

Tal como o meu amigo João Vieira também invejo a sua colecção, e tal como ele venho aqui deixar o meu protesto sobre o emprego da palavra decadência em relação aos nossos dois ultimos Reis. Quer El-Rei Dom Carlos, quer El Rei Dom Manuel foram tudo menos decadentes. Foram sim Portugueses ( com P muito grande) que muito serviram ( e não se serviram) o nosso País. Mas tenho a ceteza de que o Senhor Embaixador sabe bem que sim, e quis apenas dar uma "ferroada" aos muitos leitores Monárquicos que tem.

Um Feliz Ano Novo para si e para toda a sua Família.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro José Tomaz Mello Breyner: está enganado. Tenho a pior das impressões dos últimos titulares da dinastia Bragança e nem a atenta leitura da historiografia branqueadora que por aí anda a ser afanosamente produzida nos últimos anos, tutelada pela pena revisionista do professor Rui Ramos, modificou a minha opinião. Talvez antes pelo contrário... Desculpe lá!

Anónimo disse...

Ainda há pouco tempo, aqui nos comentários, fiz referência o quanto me chocou ver num alfarrabista de Lisboa, uma boa coleção de livros de alguém, e de que fazia parte umas revistas da Paris-Match, encadernadas a rigor. É uma pena estas "coisas" irem parar aos alfarrabistas, isto é, os seus descendentes deveriam preserva-las. Mas para isso era necessário alguma sensibilidade dos herdeiros...

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

Está desculpado Senhor Embaixador, se todos gostássemos do mesmo era uma maçada. Mas ainda um dia lhe vou emprestar uns livros que o vão fazer mudar de opinião.

Abraço

AL disse...

Senhor Embaixador Seixas da Costa,


Não posso deixar de lhe mostrar o meu desagrado perante o que li pois, é uma pena que tenha uma visão tão distorcida da realidade dos últimos anos de Portugal. Portugal pois, depois de 1910 deixou de haver Portugal mas sim República Potuguesa. Apesar de tudo tenho respeito pelo regime em que vivemos mas, e porque vivemos em democracia, nao posso, realmente, deixar de dizer que a sua opinião é, infelizmente, infundada.

Com os meus cumprimentos
Um Bom 2014,

Leonardo Abreu

Anónimo disse...

A Ilustração foi de facto um importante orgão de propaganda republicana dirigida às camadas sociais mais elevadas em Portugal naquela época. No entanto entre o regícidio e o 5 de Outubro de 1910 deixa de criticar a Casa Real.
Interessante também ainda não terem havido estudos sobre o proprietário e director do Século dessa altura o qual depois de 1918 se exilou em França onde morreu.

Anónimo disse...

O post e respectivos comentários, arrastam consigo o tempo da naftalina/arcas de cânfora de Macau, e musicalmente, "when the time goes by" e "when "when i´m sixtyfour".

Não caiam no tipo blockbuster I, II e III do "Regreso ao Futuro", que tanto sucesso teve na adoslescência dos anos oitenta (Sec. XX) !

Alexandre

Defreitas disse...

Ao Senhor José Tomaz Mello Breyner, que escreve:

" Quer El-Rei Dom Carlos, quer El Rei Dom Manuel foram tudo menos decadentes. Foram sim Portugueses ( com P muito grande) que muito serviram ( e não se serviram) o nosso País."

Que um descendente do médico pessoal do rei D.Carlos defenda o seu nome, nada de mais normal. Mas seria interessante de conhecer em que sectores da vida nacional o rei serviu (bem) Portugal. E como explicar que a burguesia e o povo, na sua grande maioria não o defenderam.

Anónimo disse...

@ Defreitas
Não devemos esquecer a actuação da Carbonária a qual era o nosso terrorismo da época. Fala-se pouco dela mas....

Defreitas disse...

Anonimo das 21:00:


A Carbonaria é de origem estrangeira. Mas é um facto que se manifestou sobretudo quando do Ultimato inglês em 1890 e de sobremaneira quando do desaire da revolta republicana de 1891 e posteriormente em 1908 quando no Porto foi abortada outra revolta.
A desgraça da Casa de Bragança começou precisamente quando o rei D.Carlos se submeteu às exigências do Ultimato inglês em 1890, cedendo assim à política colonial inglesa.

O povo não tinha esquecido esta capitulação, quando vinte anos mais tarde a governação despótica exercida pelo marechal britânico Beresford, que colocou a nação a ferro e fogo durante mais de uma década, se fez sentir.

É bom recordar, que entre as suas vítimas se encontrou o marechal Gomes Freire de Andrade, Grão Mestre da Maçonaria Portuguesa, enforcado no Forte de S. Julião da Barra, junto com outros companheiros, acusados de conspiração com a sua governação. Parece que a Maçonaria não tinha nada a ver com a Carbonaria, mas agia no mesmo sentido: a liberdade pública.

Era declaradamente anticlerical e adversária das congregações religiosas, o que não significa que os seus membros fossem ateus.

Anónimo disse...

Ex.mo Senhor Embaixador,

Já calculava que tivesse uma opinião divergente. E um bem-haja por publicar o meu comentário, mesmo não se revendo nas minhas palavras. Eu, como muitos monárquicos, também sou democrata e espero que a democracia esteja para ficar.

Votos de um Bom Ano.

Henrique Souza de Azevedo

João Forjaz Vieira disse...

Isto parece-me um pouco confuso demais. esta "revisão" histórica que é aliás a função principal dos historiadores está, parece-me, a trocar um bocado as datas e os protagonistas!
Louvo também a coragem e o realismo dos que entendem que o Ultimato era uma brincadeira dos ingleses que poderiam ser postos no bolso com um piparote.

Anónimo disse...

Ex.mo Senhor "Defreitas",

Ao ler esta caixa de comentários não pude deixar de reparar nas suas intervenções, daí estar a interpelá-lo. Vejo que levantou a questão do serviço público do Rei D. Carlos. Certamente sabe que o Sr. D. Carlos tomou a decisão de reduzir a dotação da Casa Real como gesto de solidariedade, algo que duvido que os chefes de Estado dos dias de hoje estejam dispostos a fazer. Foi um belíssimo administrador das finanças do ducado de Bragança, que herdou em muito mau estado. Consegui gerir os desequilíbrios políticos do país da forma mais pacífica que foi possível. Ademais, o seu contributo para as ciências e para a cultura, especialmente nos campos da oceanografia da pintura, ainda é relevante nos dias de hoje.

Quanto à questão do ultimato, direi que fez o inevitável. Os republicanos teriam optado por uma solução conflituosa, com consequências bélicas, que teria como resultado uma mortandade e a destruição dos (já parcos) recursos do país.

Por fim, não posso deixar de mencionar que o povo também não defendeu a república. Aliás, em muitas zonas os populares só tomaram conhecimento da ocorrência dias mais tarde. Fico muito feliz que mencione esta questão, pois serve para lembrar que a I República nada teve de democrática, sendo imposta por uma minoria à maioria. Assim que deitaram as mãos ao poder, os republicanos trataram de reduzir a base eleitoral e de se envolver em conflitos (internos e externos) que nos saíram caros.

Com os melhores cumprimentos,

Henrique Souza de Azevedo

Anónimo disse...

Não podemos esquecer também a actuação das Maçonarias especulativas desde 1821 para desacreditar a Casa Real, principalmente depois de 1881. Isso do papel da Inglaterra no Ultimatum parece ser rivalidades entre as Maçonarias francesa e inglesa mas....todos os países europeus nos invejavam a nossa posição em África. Veja-se a Conferência de Berlim para a partilha desse continente. Há documentação que nos demonstra que por volta de 1912/13 Inglaterra e Alemanha teriam feito um acordo para tomar as nossas colónias de África, ocidental e oriental, como forma de pagarmos as nossas dívidas.

Defreitas disse...

Exmo. Senhor Henrique de Sousa Azevedo,


Não tenho a pretensão de o convencer que a queda da monarquia e a implantação da República são devidas antes de mais à medíocre governação do reino. Exprimo simplesmente a minha opinião.
A cultura e os conhecimentos gerais na pintura, na música e na ciência, (e porque não na culinária) que atribui ao rei D.Carlos, que não contesto, não eram de certeza o que mais falta fazia ao povo Português nessa época .
Eram tempos em que os bancos portugueses foram à falência e muitas empresas atravessaram graves crises económicas que agravou o descontentamento dos burgueses. Para pagar os juros aumentavam-se os impostos o que não agradava nada à população. Os operários estavam permanentemente ameaçados de desemprego, baixos salários com muito trabalho e viviam em condições extremas de pobreza.
Na realidade, aqueles que eram pobres estavam cada vez mais pobres, o rei e a família real gastavam cada vez mais dinheiro do reino, numa vida faustosa sem igual, a alta burguesia enriquecia cada vez mais com os seus lucros e os governos da monarquia não conseguiram melhorar as condições de vida do povo.( Eu sei que podemos procurar e encontrar hoje algumas analogias !) Acrescente-se o atraso do desenvolvimento agrícola e industrial.
Nada mais normal que os novos partidos políticos se apoiassem no operariado e nas classes médias, descontentes com a sua situação.
A solução imposta pelo rei para este descontentamento geral do povo Português, foi entregar a chefia do governo a um ditador, João Franco, que passou então a dirigir o país A ditadura desenvolvida por João Franco levou a uma forte oposição à monarquia, o que não é nada de admirar
Ao modificar o sistema politico num sentido repressivo, a Monarquia conseguiu suster, provisoriamente, a maré de descontentamento. Mas, quando chegou o momento decisivo, ninguém quis morrer por ela. Esta é a conclusão .
A República vai herdar desta situação catastrófica. Mas ela vai agir.

A Laicização do Estado (separação da igreja e do Estado); nacionalização dos bens da Igreja, legalização do divórcio e a obrigatoriedade do registo civil aplicado aos nascimentos, casamentos e óbitos.
As diferenças acentuam-se ainda ao nível da educação: criação das escolas públicas, e escolas primárias, escolas comerciais e industriais, além da criação da Universidade de Lisboa e Porto. A escolaridade passa a ser obrigatória a aprtir dos sete anos. Assim, a taxa de analfabetismo foi reduzida e os níveis de ensino melhorados.
(Quando, na minha terra, passava , a caminho da escola, em frente do busto de João Franco, sei que não lhe devia essa "liberdade", mas à República)
Para além da redução das despesas com a queda da monarquia, os republicanos preocuparam-se em pôr em prática os seus ideais de liberdade e igualdade.
A situação de Portugal melhorou muito com as medidas tomadas, em especial com a protecção à velhice e à doença, o direito à greve e a redução das horas de trabalho para 42 horas. Apesar de todo este esforço, o novo governo não foi capaz de impor o cumprimento de todas as medidas e o país resvalou para uma certa instabilidade política. Era o tributo a pagar à democracia, sistema novo em Portugal, cuja aprendizagem é longa, como se sabe.
Quanto ao Ultimato inglês, a reacção passiva do rei D.Carlos à nota de Lord Salisbury, sem negociação que permitisse pelo menos a criação dum corredor ligando Angola e Moçambique, deixou o pais numa situação humilhante.

Defreitas disse...

O Senhor João Forjaz Vieira tem razão: Houve erro na frase do terceiro parágrafo do meu comentário de ontem, das 21:35, que deve ler-se assim:

"O povo não tinha esquecido a governação despótica exercida pelo marechal britânico Beresford, que colocou a nação a ferro e fogo durante mais de uma década". As minhas desculpas.

Anónimo disse...

@ Defreitas.
Resumindo o seu comentário das 09.34: ficamos a saber que Portugal depois de 1910 ficou um país moderno e prometedor. A partir de 1928 é que veio a desgraça até 1974, ano em que voltámos a ser decentes.

Defreitas disse...

Ao anónimo das 13:30:


Deixo-lhe a responsabilidade do resumo. Se prefiro o Portugal dos cidadãos ao dos sujeitos, do povo que se instrui, ao povo analfabeto, não esqueço que após 1910 são as mesmas famílias que possuíam tudo, riqueza e influência, mas escondendo por vezes os títulos nobiliárquicos, que continuam a tudo dominar. Onde a Igreja, separada do Estado, continuou a obrar ao lado dos poderosos.

A obra da ditadura de 1926 até 1974 está à vista no atraso e nas sequelas que marcaram para muitos anos o povo Português.

Pelo menos, desde 1974, além de tudo o que tornou Portugal mais decente, sem ser ideal nem suficiente, não posso ir para a prisão por escrever tudo isto.

Anónimo disse...

o comentador de Freitas tem uma capacidade simplificados das coisas e da história que é de louvar! Mas as coisas são tão lineares e tão de acordo com os nossos sonhos revolucionários?
João Vieira

Defreitas disse...

Caro Senhor Vieira : Creio desde há muito que uma acção pode ser determinada e livre . Linear ? Não sei, mas sei que ela pode ser mais ou menos livre. Somos mais ou menos livres em função das nossas aptidões interiores a organizar a nossa liberdade, e também, em função das determinações económicas, sociais, políticas, históricas que nos contêm, nos submetem ou, ao contrário, nos abrem possibilidades de autonomia.
Trabalhar na incerteza e no inesperado, é o destino do pensamento e da acção humana. Toda acção é aleatória, pode ser sancionada com um fracasso. Mas acho que é melhor assim. Nao acha ?"Rien n'est acquis d'avance" !

Unknown disse...

Caro Sr. Embaixador F. Seixas da Costa, é bem verdade que a democracia é isto mesmo: cada um tem livremente o direito à sua opinião, mas quando olhamos para a historia deveremos procurar alguns distanciamento e análise critica desapaixonada.
Dizer que os Braganças eram “decadentes” parece-me uma atitude apaixonada e pouco lúcida. Considerar um homem como D. Pedro V como decadente, por exemplo, é demonstrar demonstrar alguma ignorância pelo trabalho e pelo pensamento de um homem, democrata e muito à frente na sua época. É útil ler a sua correspondência com o seu tio Alberto de Saxe.
Dom Luís, apesar de tudo foi um Rei que soube democrática e ajuizadamente gerir um rotativismo, que apesar de tudo nos deu um significativo desenvolvimento ecónomico-social. Dom Carlos, é cada vez mais considerado, e igualmente por historiadores republicanos, um Estadista de grande mérito na difícil politica externa da transição do século. A acção conjunta do Rei com um diplomata de 1º plano mundial como foi Luís de Soveral é um exemplo do que afirmo, e disso é exemplo a gestão do caso do “ultimato” inglês.
Haveria alguma decadência do país nas ultimas décadas do sec. XIX, certamente que sim... decadência moral, de um país que não soube “digerir” precisamente o ultimato. Essa decadência agravou-se e foi amplamente demonstrada pela I Republica cuja gestão ineficaz e corrupta ficou amplamente demonstrada em todos os campos. Foi completamente autofágica a gestão pública dessa fase da nossa historia... triste... violenta... antidemocrática, enfim!!! Realmente decadente.
Dizer que a decadência foi dos últimos Braganças é errar completamente o alvo. Esses pobres Reis, talvez tenham ingloriamente lutado contra essa decadência que se instalou e que teve custos tão elevados. Considerar que a decadência estava nos últimos Braganças, é esquecer o que se passou depois de estes serem afastados definitivamente.... pode custar a engolir, mas essa espiral de decadência só foi travada depois de 1926!

José Carlos Craveiro Lopes Cortez de Lobão

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro José Cortez de Lobão: como diria o Herman José, esta é uma conversa que nos levaria muito longe. Portugal entrou em declínio, como país, a partir da independência do Brasil. A decadência é a marca inelutável do Portugal do sec. XIX, perdida a "jóia" lucrativa do império, humilhado pelo episódio do mapa cor-de-rosa. A monarquia acompanhou essa decadência e os três últimos reis são talvez a melhor e menos gloriosa imagem desse tempo, com a perporrência cabarética do diletante dom Carlos, que "reinava" por semanas os adiantamentos à casa real pelas casas de passe de Paris, a ser o retrato mais exato desse tempo. Não foram os Republicanos a chamar "piolheira" ao nosso país. Foi esse rei. Cordiais cumprimentos.

Defreitas disse...

José Carlos Craveiro Lopes Cortez de Lobão :

" mas essa espiral de decadência só foi travada depois de 1926"
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A origem da mentira está na imagem idealizada que temos de nós próprios e que desejamos impor aos outros."

Anónimo disse...

Creio que posso fazer facilmente uma "revisão histórica" da hitória do embaixador:Portugal entrou em declínio com as invasões francesas que destruíram o Exército, o sistema económico e alteráram radicalmente as relações internacionais: deixámos de navegar entre franceses e ingleses contra os espanhóis, com uma habilidade enorme que teve como último episódio as tentativas fracassadas do rei D. João VI, para passarmos à dependência total do nosso primeiro aliado a pérfida Albion. O fim do antigo regime, a guerra civil e a perda do Brasil compuséram a instabilidade total até meio do século, depois as consequências da falência financeira de 1890 e do Ultimato déram cabo do resto. É muito difícil pensar que questões demagógicas e de baixa política como os adiantamentos e a vida privada de um rei possam ter qualquer importância face à gravidade dos outros.
João Vieira

josé ricardo disse...

leio os comentários ao seu post e concluo, rapidamente, o seguinte: o sr. Seixas da Costa é lido por gente de outros tempos. pelos menos, gente que pouco tem a ver consigo, do ponto de vista, digamos, ideológico. e isso, caro sr. Seixas da Costa, é um grande elogio.

bom ano!

José Ricardo

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

Caro José Ricardo,

Gostaria de lhe perguntar no seu entender acha que os Espanhois, Ingleses, Holandeses, Belgas, Noruegueses, Dinamarqueses, Luxemburgueses, são "gente de outros tempos"

arnaldo silva disse...

Caro colecionador e amigo da Ilustração Portugueza,
Acabo de sentir a sua alegria pelo facto de ter essa rica coleção. Eu tenho para venda à volta de quatrocentas. Ainda não sei se o farei, contudo...
cumprimentos e se souber quem compre.
cumprimentos
arnaldo silva

Anónimo disse...

Os comentários da descendência dos Braganças postados neste blogue atestam a decadência do ramo miguelista da Casa Real.

Leonor disse...

Bom dia,

Descobri recentemente várias caixas com revistas "Ilustração Portuguesa" de diversos anos (alguns completos, outros soltos) e estou a adorar descobrir este pedaço de história! Desde as publicidades, às historias quotidianas, é absolutamente precioso!

Além das revistas, descobri outros livros também, como a "Paródia" ou "comédia Portuguesa".

Infelizmente, não poderei ficar com elas. Não tenho espaço nem condições para as "exibir". Assim, pergunto-lhe (visto que claramente domina o tema) se há algum local específico para a venda das mesmas.

Muito obrigada.

Rui Fonseca disse...

...Em relação à revista "Ilustração Portuguesa", penso que há uma anterior série da aqui mencionada. Em minha casa há vários números e alguns são dos finais do Séc.XIX. Alguém me pode esclarecer sobre essa primeira edição?

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