Um colega que comigo coincidiu em Brasília, ao tempo em que eu por lá chefiava a nossa representação diplomática, enviou-me, para recordação, duas "instruções" que então eu distribuí por todos os funcionários.
A primeira tinha a ver com as comunicações recebidas na Embaixada:
"Qualquer comunicação escrita (carta, fax ou mail) dirigida a qualquer serviço da Embaixada, quer para o endereço geral, quer para um qualquer funcionário nessa sua qualidade, deverá, sem excepção, ser respondida. Em situação limite, em que o funcionário entenda que a comunicação não tem condições de ser respondida, deve ser sempre acusada a recepção."
A segunda prende-se com o "estilo" que eu entendia que os textos que seguem para Lisboa (e que são sempre assinados pelo embaixador) deviam assumir:
A primeira tinha a ver com as comunicações recebidas na Embaixada:
"Qualquer comunicação escrita (carta, fax ou mail) dirigida a qualquer serviço da Embaixada, quer para o endereço geral, quer para um qualquer funcionário nessa sua qualidade, deverá, sem excepção, ser respondida. Em situação limite, em que o funcionário entenda que a comunicação não tem condições de ser respondida, deve ser sempre acusada a recepção."
A segunda prende-se com o "estilo" que eu entendia que os textos que seguem para Lisboa (e que são sempre assinados pelo embaixador) deviam assumir:
- Não escrevam em estilo jornalístico. Escrevam como se tivessem que assinar “Nestrangeiros” (telegramas recebidos de Lisboa), isto é, linguagem totalmente neutral, pouco adjectivada, frases curtas e sem personalização, citando pouco e interpretando muito. Nós não concorremos com as agências noticiosas na busca dos factos: interpretamos.
- Não utilizem (nunca!) expressões brasileiras ou termos locais: “reforma tributária”, “reforma ministerial”, “inadimplência”, etc. Há termos portugueses para isto.
- Um telegrama tem de ser auto-explicativo, partindo-se do princípio de que quem o lê está a contactar com essa realidade pela primeira vez. Deste modo, não há “CPI” ou “MP” mas sim “Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)”, podendo, então, repetir-se a expressão “CPI” no mesmo telegrama. As “MP” são “Medidas Provisórias (MP)”, devendo sempre ser seguidas da explicação de que se trata de “iniciativas legislativas que o Governo submete ao Congresso com prioridade de apreciação”. Temos que ser didácticos e partir (sempre) do princípio que é uma pessoa nova que nos lê todos os dias.
- Procurem evitar referir nomes de pessoas, a não ser que sejam muito conhecidas ou importantes.
- Façam telegramas curtos. Ninguém lê em Lisboa mais do que página e meia. Quando possível, façam textos de menos de uma página.
- Façam parágrafos. Ajudam a ler.
- Não façam ironias ou graças nos textos: esse é o privilégio do embaixador… algum havia de ter !
10 comentários:
Será este post um ponto de ordem aos comentários aos post(s)?
antonio pa
Lembro-me desta sua instrução..quando nos "cruzámos" em Viena!
Nem mais!
Ora resumindo Sr. Embaixador regras básicas para redigir um documento formal visando efetivamente a sua leitura, prevenindo o cansaço do recetor da mensagem.
As regras ajudam porque orientam.
Está perfeito, Senhor Embaixador. Mas que pena que muitos dos seus queridos colegas das Necessidades, de ontem como de hoje, não sigam esse guião.
Não lhe bastava o privilégio dos croquetes?! Esta gente quer tudo!
Inteiramente de acordo! Regras sábias como todas as que traduzem bom senso, clareza e correcção. A língua portuguesa não necessita de estar a "importar" palavras ou expressões por simples mimetismo ou snobismo, deve ser facilmente entendida por quem lê e os floreados literários não fazem falta em documentos de trabalho. Bom conselho para os dirigentes, em geral...
Em síntese, devemos ser concisos, simples e claros!
José Honorato Ferreira
Estou certa que tem muitos seguidores nas camadas jovens da carreira e que agradecem estas dicas. Infelizmente já vão sendo poucos os que as sabem e transmitem
Caro Francisco,
Alguns telegramas sem "regras" fizeram as minhas delícias.Se,quando os li e reli,tivesse um fininho tirado pela Adelaide...
Forte abraço.
a adjectivação excessiva é irritante e inutil, torna inclusivamente os textos e o que se quer dizer menos expressivos, portugal vê com profunda preocupação e desagrado, etc, para quê o profunda?
e o comentário jocoso deixá lo de facto ficar para o chefe...
e sobretudo nada de narcisismos nos escritos, isso não, pf...
Se todos seguissem essas regras d'ouro não teria nunca havido essas verdadeiras pérolas de telegramas que vão enriquecendo o património das Necessidades e que servem, pela sua originalidade, pelo seu ridículo ou pela sua insensatez, para divertir os diplomatas que a eles vão tendo aceso e aos outros a quem vão sendo transmitidos de geração em geração.
Mas não teria havido também outros que, embora excedendo toda a contenção aconselhada, foram constituindo um notável acervo de peças notáveis de estilo literário e de interpretação de factos que honram quem os redigiu e que entraram para a História da Diplomacia portuguesa.
Enviar um comentário