segunda-feira, abril 06, 2009

Tu

A prática diplomática faz com que, na maioria dos casos, os embaixadores, num determinado posto, se tratem entre si por "tu". Nos países de língua inglesa, ou quando o inglês é a língua de comunicação, o problema nem se coloca, porque o "you" dá para tudo. Porém, no caso do francês, alguém tem de propor a passagem ao "tu" - ou, pura e simplesmente, começar logo a usar o "tu", sem formalidade.

Hoje, quando um colega me propôs, no fim de um almoço, que nos passássemos a tratar por "tu", não pude deixar de lembrar-me numa historieta célebre de François Mitterrand.

Um conhecido seu estava inseguro sobre se tratava ou não por "tu" o presidente francês e, por isso, ousou perguntar-lhe: "François, est-ce qu'on se tutoie?". Distante como era, Mitterrand respondeu-lhe: "Si vous voulez..."

7 comentários:

Anónimo disse...

É interessante verificar como as expressões verbais são determinantes nas relações interpessoais.Mas a comunicação não verbal consegue ser contundente, penso que nesta situação houve coerência entre ambas por parte do Presidente que preferiu reafirmar a distância.
Isabel Seixas

Helena Sacadura Cabral disse...

O "tu" nem sempre revela intimidade. Atente-se na linguagem de certas classes sociais em que o "você" é o tratamento dado aos mais próximos...
Ao menos no Brasil, usa-se qualquer deles, sem que daí resulte mais ou menos proximidade. Um pouco como o "you" dos ingleses!

margarida disse...

Isto sucedeu-me com uma amiga e foi delirante!
Conhecemo-nos há anos em circunstâncias profissionais até de alguma rivalidade mas, em tempo, ficámos amigas.
Num almoço (precisamente) propus-lhe isso.
Anuiu, mas continuou naturalmente com o 'você'.
Obviamente não insisti e secundei-a.
Até hoje.
Trocamos as confidências mais peculiares, visitamo-nos, confraterniamos em família, mas sempre com esse delicioso 'lisboetismo' (é assim que o vejo, eu, que sou em muitas coisas 'uma rapariga do norte').
Caso único.
O resto 'da malta' anda toda'corrida' com o popular, democrático e emotivo 'tu'.
('emotivo' porque sou eu. que sou assim) :)

Helena Sacadura Cabral disse...

Oh! Margarida como eu a entendo... Mas agora, com a livre circulação - ia dizer de capitais, mas abstive-me e fico apenas pelas pessoas - temos mais outra novidade linguística, muito comum nas lojas, por parte de quem atende, e que é o "vocemecê". Tem, claro, origem mais erudita, mas que soa muito mal...lá isso soa!

Anónimo disse...

A propósito do divertido comentário de Helena Sacadura Cabral, sobre o vocemecê, aqui há uns tempos, quando estive na Beira-Alta, um individuo tratou-me por “bomecê”, que creio ser um diminutivo do tal “vocemecê”. Há muitos anos, quando andava na primária, numa escola do Porto, havia um colega que nos tratava, ou chamava por “hum”, para sermos exactos tendo em conta o som proveniente daquela garganta seria “humhe” (à moda do Porto). Assim sendo, proporia, muito humildemente, uma tentativa de hierarquização dos diversos tipos de tratamento conhecidos, mais populares digamos:
Começando pelo Senhor/Senhora, colocaria o “vocemecê” a seguir, depois talvez o “você”, vindo imediatamente a seguir o tal diminutivo “bomecê” e no fim, se concordarem o tal “humhe”. Que tal? “Vocências” (ou “Bocências” depende se estão a Norte se a Sul) concordam?
Quanto ao “tu” julgo não caber nesta categoria.
P.Rufino

Helena Sacadura Cabral disse...

Impossível não concordar com tal proposta de enriquecimento da língua pátria. No meu caso pessoal, a maior dificuldade será, mesmo, a de pronunciar "humbe" sem dar a impressão de poder estar a dizer algo que se confunda com um convite impróprio da minha idade...

Anónimo disse...

Mui Estimada Helena Sacadura Cabral,
Fui ás lágrimas com este seu último comentário!
P.Rufino

Livro