Era num desses países onde a tradição manda que o dono da casa, no início dos jantares formais, diga sempre umas palavras sobre cada um dos convidados, sem nenhuma excepção. O exercício parece fácil mas, para um embaixador estrangeiro, para quem muitas das pessoas presentes eram conhecimentos recentes, alguns com nomes bizarros, a tarefa era sempre algo complicada. O recurso a uma "cábula", discretamente colocada em frente do anfitrião, costumava ser a solução tradicional.
Mas o nosso embaixador - porque é de um embaixador português que falamos - rapidamente perdeu a paciência para seguir, nos seus jantares, o protocolo local e decidiu-se por um expediente, que considerou ser uma imbatível trouvaille. Um dia, levantou-se ainda antes do início da refeição, e disse: "Eu teria muito gosto de falar sobre cada um dos convidados, como mandam as regras locais, mas acabo de saber de um impedimento que, julgo, todos compreenderão: há um soufflé a sair! Ora um soufflé, como é sabido, não pode esperar e afirmam-me da cozinha que está pronto a ser servido. Assim considerem-se todos cumprimentados... e bom apetite!"
Os convidados entenderam a pressa do embaixador e o jantar decorreu da melhor forma. Tudo estaria muito bem se o embaixador não tivesse decidido enveredar, nos jantares seguintes, e quase sistematicamente, pela repetição do "truque" que lhe permitia evitar o discurso. Só que não se dava conta que alguns dos convidados eram, por vezes, os mesmos e, por isso, já tinham ouvido a estafada história do soufflé. Que se tornou famosa no corpo diplomático local...
Há uns anos, regressei a essa cidade e jantei com um desses convivas, que logo me perguntou: "Que é feito daquele simpático embaixador português que, durante anos, para evitar fazer discursos, dava sempre soufflé como entrada?"
Mas o nosso embaixador - porque é de um embaixador português que falamos - rapidamente perdeu a paciência para seguir, nos seus jantares, o protocolo local e decidiu-se por um expediente, que considerou ser uma imbatível trouvaille. Um dia, levantou-se ainda antes do início da refeição, e disse: "Eu teria muito gosto de falar sobre cada um dos convidados, como mandam as regras locais, mas acabo de saber de um impedimento que, julgo, todos compreenderão: há um soufflé a sair! Ora um soufflé, como é sabido, não pode esperar e afirmam-me da cozinha que está pronto a ser servido. Assim considerem-se todos cumprimentados... e bom apetite!"
Os convidados entenderam a pressa do embaixador e o jantar decorreu da melhor forma. Tudo estaria muito bem se o embaixador não tivesse decidido enveredar, nos jantares seguintes, e quase sistematicamente, pela repetição do "truque" que lhe permitia evitar o discurso. Só que não se dava conta que alguns dos convidados eram, por vezes, os mesmos e, por isso, já tinham ouvido a estafada história do soufflé. Que se tornou famosa no corpo diplomático local...
Há uns anos, regressei a essa cidade e jantei com um desses convivas, que logo me perguntou: "Que é feito daquele simpático embaixador português que, durante anos, para evitar fazer discursos, dava sempre soufflé como entrada?"
4 comentários:
Parabéns à rubrica "a França na literatura portuguesa". Já leste um livro do José Augusto frança chamado "A Bela Angevina"? Eu gostei...
Nunca achei grande piada aos souflés. São comida demasiado etérea para meu gosto.
Mas acabo de lhes encontrar uma utilidade prática: a de pôr os convivas na mesa a tempo e horas!
PS Exceptuo destas considerações o Souflé à L´Armagnac do Gambrinus que, pedido logo no início da refeição, é divino.
Aqui há uns anos atrás, conheci um casal curioso, que um dia nos convidaram para jantar, de algum modo por causa de amigos comuns. Ele teria uns 25 anos a mais do que ela e já ia, na altura, nos cinquenta e muitos (cá para mim, já estaria a “tirar” uns anos ao “cadastro” da sua idade). Ela, que nutria por ele um carinho quase paternal, sublinho paternal porque até lhe chamava “paizinho”, era de uma ternura e enlevo para com ele, absolutamente extraordinária. Ele parecia não se importar muito com aquele tratamento e tratava-a por “você”.
Enquanto se estava naquela fase de “pré-jantar”, ou seja, dos aperitivos, fui notando um certo nervosismo na dita jovem esposa, que se foi acentuando com o passar do tempo. Na verdade, contrariamente a certas “regras”, aquele período foi muito além do socialmente “permitido”. A razão, pelo que vim a perceber, deveu-se a um último casal, que chegou tardíssimo. Mas, o nosso “host”, ao contrário do que lhe era habitual, não ficou aborrecido. “Compreende-se”: o elemento feminino do tal casal era uma mulher de grande beleza, a que, pelos vistos, o dono da casa era (muito) sensível.
Quando nos sentámos à mesa, deparou-se à nossa frente uma “entrada” que, de início, não conseguimos identificar. Naqueles segundos em que se espera que o anfitrião abra as “hostilidades”, antes de metermos o primeiro garfo à boca, ouve-se a sua voz rouca e alta a perguntar: “que nome tem o que vamos comer?”. Resposta calma e com um sorriso de sua Mulher: “paizinho, não sei bem como designar! Até há uns 40 minutos atrás, eram pequenos “soufflés”, mas como foram obrigados a esperar para além do tempo de cozedura normal, diria que, com muito boa vontade, poderiam agora ser designados, de empadas.”
Ficou-me a impressão que toda a exuberância e segurança que a dita “bela” revelara à chegada, se desvaneceu logo após, quase não falando durante o jantar (apesar de muito “instigada” pelo dono da casa).
À despedida, ainda “topei” esta “tirada” da jovem anfitriã à tal extravagante beleza: “coitada, ficou-me a impressão de que não gostou lá muito do jantar!” Ao que a outra retorquiu: “não, não, adorei! Particularmente as empadas, que estavam óptimas!”.
Recordo-me ter o anfitrião exclamado, depois: “isto de mulheres!”
P.Rufino
A deliciosa história recorda-me um jantar no parador de Alcañiz, Teruel, Espanha, há uns anos atrás.
Na sala de jantar de um quente dia de Agosto ainda havia poucos comensais. Os que primeiro aparecem são os que estão desfasados do ritmo da "siesta" e do viver aragonês.
Assim, a partir das 20h30 começam a aparecer os ingleses, alemães, belgas, franceses, portugueses, etc.
A sala de jantar do bonito e imponente castelo que domina do alto do monte Pui Pinos, a antiga povoação de Alcañiz, que foi sede da Ordem de Calatrava, a partir do século XII, era um refúgio agradável após um dia de calor abrasador.
Ambiente calmo, convidando ao relaxe e a um jantar reconfortante.
Numa mesa próxima um casal de ingleses, já na reforma, tentava questionar a funcionária sobre que tipo de entradas estavam a servir. A funcionária, aragonesa cinquentona e arredondada, ignorava completamente qualquer esforço por parte da senhora inglesa.
Nisto, a senhora gesticula imitando uma rã com os braços sobre a mesa. Aí, a empregada percebe e confirma. Sim, eram coxas de rã a entrada inicial! Espanto nos ingleses...
Realmente os "peixinhos da horta" tinham uma cartilagem muito especial...
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