Anotar restaurantes é um "vício" que tenho (estava para escrever "alimento"...), desde há muito tempo. Comecei a fazer isso nos anos 80, com o meu amigo Alfredo Magalhães Coelho, criando guias para várias regiões portuguesas. Eram uma espécie de ajuda, a quem se passeava pelo país, para poder encontrar bons locais para comer, estivesse onde estivesse. No fundo, esses guias eram o resultado da busca que fazíamos para nós próprios, ajudados por opiniões tidas por fidedignas. Desses apontamentos constavam os pratos mais destacáveis em cada casa e as respetivas referências identificativas, com telefones e dias de fecho.
Mais tarde, nas várias cidades do mundo por onde fui vivendo, ia tomando notas sobre os lugares que me tinham agradado e, com gosto, passava-as a amigos. Não eram críticas gastronómicas, porque não me reconheço minimamente competente para tal, mas simples listas de boas mesas, à luz da minha discutível opinião.
Como é sabido, o risco da produção das listas de restaurantes é imenso. Uma mudança de proprietário ou de cozinheiro pode alterar radicalmente, de um dia para o outro, o cariz de um restaurante, e nem sempre para melhor. As coisas mudam mas o que escrevemos fica, para eterno equívoco de quem lê.
Em Brasília, o meu "vício" passou a uma coisa um pouco mais séria: por sugestão do meu amigo embaixador Pedro Bório, fiz parte, durante dois anos, do júri da revista "Veja". Foi então que me dei conta de que a expressão de uma opinião sobre um restaurante, se lida e tida em consideração por muitas pessoas, pode ter sérias consequências no plano comercial e, por essa via, na vida das pessoas que trabalhavam nesses locais. Passei a ser muito mais cuidadoso nos meus comentários, tanto mais que eles eram baseadas em escassas visitas e isso reduzia seriamente a minha legitimidade para me pronunciar.
Em 2010, aceitei o desafio da revista "Sábado" para ser, sob pseudónimo e por um semestre, o "crítico mistério" da revista. Sucedi nessa tarefa a Paula Teixeira da Cruz, a Proença de Carvalho, a Ruben de Carvalho e a Miguel Esteves Cardoso. Embora residente em Paris, tive o maior gosto em levar a cabo essa tarefa. Mas foi aí também que percebi melhor as minhas sérias limitações como "crítico", a minha completa incapacidade de me colocar ao nível de um David Lopes Ramos ou de um José Quitério, figuras cimeiras na arte portuguesa da escolha restaurativa. Devo dizer que, desde então, olho para a crítica gastronómica com muito maior respeito.
Ainda no Brasil, criei o blogue "Ponto Come", onde fui colocando algumas notas sobre restaurantes. Regressado a Portugal há poucos dias, decidi retomar a escrita desse blogue, nele inserindo curtas e despretenciosas notas sobre os locais a que me vou deslocando, na minha vida quotidiana. Quem quiser ler esses apontamentos deve ter a certeza antecipada que as opiniões que exprimo valem apenas o que valem, com toda a sua subjetividade e amadorismo. E ninguém se espante se vir desaparecer ou alterarem-se alguns dos "posts", porque eles vão naturalmente evoluindo à medida das minhas experiências, pelo que a data da última atualização deve ser sempre tida em atenção.
Reconheço, com facilidade, que em tempo de crise alguns poderão considerar algo ostentatória a revelação destas experiências gastronómicas. Concedo que isso possa ser visto assim, mas, não obstante o tempo que atravessamos, a verdade é que há, por todo este país, muitos restaurantes que necessitam de clientes para subsistirem e darem emprego a pessoas. É por essa razão que entendo ser adequado, por parte de quem vai tendo a felicidade de os poder visitar, sublinhar a qualidade do trabalho dos melhores profissionais deste importante setor económico.
Assim, e se estiverem interessados, consultem o "Ponto Come".