Há meses, num "Prós e Contras" em que eu participava, um dos parceiros de debate ficou chocado com a utilização do termo "destruição criativa", empregue por outro dos intervenientes. A conversa não era diretamente comigo, pelo que me coibi de clarificar que o conceito era bem antigo, de Schumpeter, e que estava longe de ser uma "trouvaille" neoliberal, embora fosse esta corrente quem obscenamente o utilizava. A ideia é simples: numa economia de mercado, o velho e inadequado sacrifica-se para dar lugar ao novo e mais criativo.
Hoje, ao passear por uma rua lisboeta, lembrei-me muito da "destruição criativa". Lojas de toda a espécie, com poucos anos ou mesmo meses, que não há muito faziam as colunas do "Time Out", estão irremediavelmente fechadas. Fui andando pela rua e o ambiente era estarrecedor.
Pus-me a pensar no que será feito dessa gente, quase sempre jovem, que investiu numa ideia para logo se dar conta que o mercado não respondia positivamente. Terão sido suficientemente cautelosos? Terão avaliado bem as hipóteses de sucesso daquilo em que se envolviam? Onde estão hoje? Na lógica da "destruição criativa", já deverão ter aberto um novo espaço? Mas será assim? Ou terão emigrado? Que aconteceu às suas famílias? E às suas dívidas?
Um dia, numa conversa transatlântica, tive uma longa conversa com um liberal lusitano, entretanto já desaparecido. Fiquei surpreendido com o seu entusiasmo, quase lírico, pelo futuro, com a sua crença na inevitabilidade do sucesso das suas ideias, numa lógica imparável de raciocínio que não tinha tempo a perder com ceticismos, que considerava como retrógrados e tributários de uma categoria inferior de abordagem. Ele era um homem maduro, com experiência, com bastante sucesso. Não se tratava de um miúdo voluntarista, desses que pululam pelos blogues, que têm o "Observador" como bíblia sintética, saídos das "business schools" e que se vestem como acham que os "yuppies" da City ou daWall Street se vestem.
Devo dizer que fiquei siderado com o tom da sua conversa. No fundo, ao ouvi-lo, via-me a mim nos meus vinte anos, com as ilusões do meu marxismo radical de então, na minha crença, também ela inabalável, nos inevitáveis "amanhãs que cantam". Num outro modelo, também eu acreditava então que uma certa "destruição criativa" era essencial, para a sociedade poder dar um salto em frente. À época, eu pensava que o caminho para o futuro implicava, necessariamente, queimar etapas, sacrificar gerações, para pavimentar esses dias radiosos e regeneradores.
Hoje, congratulo-me com o facto dessas minhas ideias não terem vingado, ciente de como elas eram perigosas e cruéis, por muito generosas que fossem (e eram). Tal como os liberais que por aí andam, por alguns meses ainda com responsabilidades de poder doméstico, eu tinha por justo que a geração em que eu próprio vivia fosse sacrificada no altar de um futuro salvífico. Hoje não acredito em nada disso e, no que toca à "destruição criativa", acho mesmo que devemos atender em prioridade aos "destruídos" (desempregados, reformados, falidos, emigrados). O amanhã é amanhã e os nossos concidadãos têm de comer hoje.
Hoje, ao passear por uma rua lisboeta, lembrei-me muito da "destruição criativa". Lojas de toda a espécie, com poucos anos ou mesmo meses, que não há muito faziam as colunas do "Time Out", estão irremediavelmente fechadas. Fui andando pela rua e o ambiente era estarrecedor.
Pus-me a pensar no que será feito dessa gente, quase sempre jovem, que investiu numa ideia para logo se dar conta que o mercado não respondia positivamente. Terão sido suficientemente cautelosos? Terão avaliado bem as hipóteses de sucesso daquilo em que se envolviam? Onde estão hoje? Na lógica da "destruição criativa", já deverão ter aberto um novo espaço? Mas será assim? Ou terão emigrado? Que aconteceu às suas famílias? E às suas dívidas?
Um dia, numa conversa transatlântica, tive uma longa conversa com um liberal lusitano, entretanto já desaparecido. Fiquei surpreendido com o seu entusiasmo, quase lírico, pelo futuro, com a sua crença na inevitabilidade do sucesso das suas ideias, numa lógica imparável de raciocínio que não tinha tempo a perder com ceticismos, que considerava como retrógrados e tributários de uma categoria inferior de abordagem. Ele era um homem maduro, com experiência, com bastante sucesso. Não se tratava de um miúdo voluntarista, desses que pululam pelos blogues, que têm o "Observador" como bíblia sintética, saídos das "business schools" e que se vestem como acham que os "yuppies" da City ou daWall Street se vestem.
Devo dizer que fiquei siderado com o tom da sua conversa. No fundo, ao ouvi-lo, via-me a mim nos meus vinte anos, com as ilusões do meu marxismo radical de então, na minha crença, também ela inabalável, nos inevitáveis "amanhãs que cantam". Num outro modelo, também eu acreditava então que uma certa "destruição criativa" era essencial, para a sociedade poder dar um salto em frente. À época, eu pensava que o caminho para o futuro implicava, necessariamente, queimar etapas, sacrificar gerações, para pavimentar esses dias radiosos e regeneradores.
Hoje, congratulo-me com o facto dessas minhas ideias não terem vingado, ciente de como elas eram perigosas e cruéis, por muito generosas que fossem (e eram). Tal como os liberais que por aí andam, por alguns meses ainda com responsabilidades de poder doméstico, eu tinha por justo que a geração em que eu próprio vivia fosse sacrificada no altar de um futuro salvífico. Hoje não acredito em nada disso e, no que toca à "destruição criativa", acho mesmo que devemos atender em prioridade aos "destruídos" (desempregados, reformados, falidos, emigrados). O amanhã é amanhã e os nossos concidadãos têm de comer hoje.