quinta-feira, janeiro 28, 2010
Camões
sábado, janeiro 16, 2010
Tintin na China
domingo, dezembro 20, 2009
Europa
O dos Castelos
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita, com olhar esfígico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.
Fernando Pessoa (in "Mensagem")
sexta-feira, dezembro 18, 2009
Cleonice
sábado, outubro 31, 2009
Escritas
Hoje calhou-me passar por um blogue de que já aqui falei, escrito "a sério", por quem sabe escrever - não este escrevinhar despretencioso e ligeiro, mas a solidez profunda de um texto literário.
Ler "As cidades em que vivo", escrito no seu "Tim Tim no Tibete" pelo embaixador e escritor (ou será o contrário?) Luis Filipe Castro Mendes, foi um bálsamo nesta tarde de sábado parisiense. E serviu, do mesmo modo, como recordação dos dias que ambos passámos juntos em Delhi e em Budapeste, das muitas horas em livrarias ou em charlas soltas à volta do copo de velha amizade, como também algumas vezes aconteceu, já há muito tempo, aqui por Paris e mais tarde por Viena. Nesse texto fala também do Rio, como podia falar de Luanda, cidades que partilhamos sentimentalmente, cada um à sua maneira, sem nunca por lá nos termos cruzado.
Leia-no e, garanto, ficarão eternos clientes. Como imagem, deixo o Ganesh, o deus dos escritores, como ele.
sexta-feira, outubro 30, 2009
Sair & entrar
Isto leva alguns, mais simpáticos ou mais imaginativos, a irem para a justificação de que se trata de uma corruptela de "saída franca", isto é, saída livre de mercadorias, sem pagar impostos. A verdade é que a expressão é antiga entre nós. Nicolau Tolentino, o poeta satírico que morreu em 1811, escreveu: "Sairemos de improviso/despedidos à francesa". O que inviabiliza as versões que a ligam ao tempo das invasões napoleónicas.
Pelo sim pelo não, os franceses "passaram a bola" através da Mancha e criaram a expressão "filer à l'anglaise" (ver nota no fim), fórmula que já tenho visto utilizada num sentido não físico, por exemplo, designando uma escapatória numa conversa que se torna menos conveniente. Quem souber mais sobre isto que se levante por escrito.
Para que este post não pareça agressivo para o país que tão generosamente me acolhe no seu seio, para utilizar a fórmula do saudoso A.B. Kotter, aqui fica uma diplomática nota de tom auto-flagelatório: em Itália, "entrare alla portoghese" significa ter acesso a algo sem ser convidado ou sem pagar.
Só que, neste caso, e repercutindo outro clássico, parece que a História nos absolverá. Com efeito, a ideia terá ficado na memória italiana pelo facto de, aquando da famosa embaixada do rei dom Manuel I ao papa Leão X, os cidadãos portugueses que a integravam terem sido, por um gesto de hospitalidade local, isentos de pagamento para a frequência de locais públicos. Daí decorre, talvez, a generalização que passou a fazer-se. Mas, porque não tenho vocação para ser um "historiador à Saraiva", também não garanto, em absoluto, a consistência desta versão. A qual, como por lá também se diz, "se no e vera e bene trovata".
Em tempo: eu tinha escrito erradamente "sortir à l'anglaise". Um leitor atento esclareceu-me (leiam-no nos comentários)
quinta-feira, outubro 29, 2009
Futurismo
Hoje de manhã, na Sorbonne, na abertura do colóquio internacional "Le Futurisme et les Avant-Gardes au Portugal et au Brésil", Fernando Cabral Martins destacou a figura de Mário de Sá-Carneiro que, com Fernando Pessoa, criou, em 1915, a revista cultural "Orfeu".
É muito interessante esta iniciativa coordenada por Maria Graciete Besse, agregando diversas entidades dedicadas aos estudos portugueses e brasileiros que operam no ensino universitário parisiense. Ela "responde", de forma muito digna, ao esquecimento a que Portugal e o Brasil foram votados nas referências internacionais assinaladas na exposição internacional que foi organizada no ano passado pelo Centre Pompidou, ligada ao centenário do "manifesto" futurista de Marinetti, de 1909.
Saiba mais sobre este colóquio aqui.
terça-feira, outubro 20, 2009
Aliados
(Devo confessar, em jeito de nota à margem, que cada vez sinto uma tentação para trabalhar na promoção da língua portuguesa através do conceito da lusofonia, sem com isso descurar a minha obrigação primeira de tratar do que é especificamente português.)
Hoje, ao final da tarde, na Gulbenkian de Paris ("where else?", diria George Clooney), a fundadora e directora da editora, Anne Marie Métailié, lado-a-lado com alguém que por aqui é um "embaixador" constante e teimoso do Portugal cultural, Pierre Léglise-Costa, falaram desses já longos anos de bom trabalho. Por aí estiveram também, em mesa-redonda, escritores como Lídia Jorge, José Eduardo Agualusa e Pedro Rosa Mendes - sendo este último o novo delegado da Agência Lusa em França, um "luxo" jornalístico-cultural de que poucos países se podem gabar.
Léglise-Costa é responsável na Métailié pela "Bibliothèque Portugaise", onde também já foram publicadas obras de escritores como Vergílio Ferreira, José Régio, Jorge de Sena, Mário Cláudio, Maria Gabriela Llansol, Eduardo Lourenço ou Agustina Bessa Luís.
O debate foi muito interessante, com Pedro Rosa Mendes a falar, entre outras coisas, do destino complexo da língua portuguesa em Timor-Leste, com Lídia Jorge a defender a importância da narrativa na literatura e com Agualusa a chamar ao português "uma língua com afeição a diversas geografias".
quinta-feira, outubro 15, 2009
Álvaro Guerra
Senti falta das nossas conversas depois dos opíparos jantares que a Helena por aqui preparava, quando ele era embaixador junto do Conselho de Europa. Gostava das nossas eternas discussões sobre os touros, vício vilafranquense que eu combatia com argumentos ideológicos, com ele a atirar-me à cara com o Hemingway. Um dia, ofereceu-me um livro de Jean Cocteau para me convencer da bondade natural da "fiesta".
O Álvaro era um homem com uma serenidade bem disposta, que tinha prazer genuíno em partilhar connosco leituras feitas, que nos ajudava a procurar na magnífica imensidão da Kléber. Nunca concretizámos uma viagem várias vezes planeada pela "route des vins", durante a qual me prometia que eu iria conhecer néctares que iam ser a alegria cimeira dos meus triglicéridos.
segunda-feira, outubro 12, 2009
Romance
Porque este género de literatura também faz parte da vida, decidi-me a ler o livro. Cheguei a duas conclusões. A primeira é que, não obstante ser membro titular da Academia Francesa, Giscard d'Estaing dificilmente será prémio Nobel da literatura. A segunda é que a obra pode ajudar a que, um destes dias, ainda possamos ter uma boa tradução gaulesa da expressão "wishful thinking".
quarta-feira, outubro 07, 2009
Debate
As dezenas de atentos espectadores ontem presentes à sessão mostraram-se muito interessadas no debate que esta obra suscitou e deram-nos mais razões para continuar, no futuro, a abrir as nossas portas a iniciativas culturais congéneres.
Devo confessar que me causa uma certa tristeza que, à parte as magníficas iniciativas do Centro da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris, Portugal não disponha, na capital do país onde tem a sua maior comunidade no estrangeiro, de instalações adequadas e especificamente dedicadas a exposições e debates sobre a nossa cultura, bem como para a promoção regular da nossa economia.
Mas se há uma atitude com a qual não podem contar da minha parte é a resignação. Por isso, continuaremos a "travestir" a nossa Embaixada numa espécie de centro de divulgação português improvisado...
segunda-feira, outubro 05, 2009
Gonçalo M. Tavares
terça-feira, agosto 25, 2009
Guia de Portugal
Devo, desde já, advertir o leitor que sou um coleccionador obsessivo de guias sobre o nosso país, portugueses ou estrangeiros, para cujas editoras escrevo, quando as informação (em especial em matéria histórica, cultural e de costumes) considero erradas ou como inaceitáveis distorções. Acho mesmo que a importância deste tipo de publicações na criação de uma ideia de um país no imaginário dos leitores é fortíssima - e digo isto pelo modo como eu próprio reajo ao ler guias sobre outros países. Por essa razão, entendo que a "diplomacia pública" de Portugal passa também pelo modo como soubermos influenciar o que , sobre nós, é dito nesses guias.
Mas é a propósito do velho "Guia de Portugal" - sou um feliz proprietário das 1ªs edições de todos os seus volumes - que gostaria de deixar umas breves notas. Trata-se da recriação portuguesa, embora em moldes de escrita bem mais elaborados, dos guias Baedeker, que tanto sucesso fizeram na Europa no final do século XIX e inícios do século XX.
O primeiro volume do "Guia de Portugal" foi lançado em 1924 e dedicou-se ao tema "Generalidades - Lisboa e Arredores". Foi seu organizador e principal autor Raul Proença e conta com preciosos textos de grandes figuras da cultura portuguesa como Aquilino Ribeiro (Etnografia), António Sérgio (História), Reinaldo dos Santos (Arte), para além imensos textos do próprio Raul Proença e colaboração vária de Matos Sequeira, Afonso Lopes Vieira, Jaime Cortesão, José de Figueiredo, Teixeira de Pascoaes, Júlio Dantas, Pina de Morais, Orlando Ribeiro, Raul Lino, etc. É um volume riquíssimo, praticamente sem par. As descrições de Lisboa e percursos nos arredores, de uma região onde hoje sobram apenas os monumentos e escassos excertos de paisagens, são um imenso prazer de leitura. A capa de Raul Lino é, em si mesma, de uma bela simplicidade.
O 2º volume publicado, ainda pela Biblioteca Nacional, sobre "Estremadura, Alentejo, Algarve", foi impresso no final de 1927 - isto é, já sob ditadura militar. Nele estão alguns dos nomes do volume anterior e, também, outras figuras como Brito Camacho, Carlos Selvagem, Hernâni Cidade, Rodrigues Miguéis, Sarmento de Beires, Teixeira de Sampaio, etc. O prefácio é assinado por Raul Proença, agora já na qualidade de "ex-chefe dos serviços técnicos da Biblioteca Nacional". O regime tinha-o, entretanto, demitido das funções que ocupava desde 1911...
O prefácio que Proença escreve para este 2º volume revela que o Guia não quer ser um "bonzo doméstico", para o "fútil destino de ornamentar as estantes e os móveis das saletas". Quere-o "um companheiro de viagem (...), pronto a ser consultado a cada momento", pelo que necessita de ser "um livro portátil, que se pudesse folhear a todo o momento". Do texto transparece já, todavia, uma amargura profunda em Proença, sintoma do seu destino político e pessoal trágico, depois de ter combatido com armas o novo regime, que o levaria ao exílio, aqui em Paris, onde viveu alguns anos em condições de enorme dificuldade, em St. Germain-en-Auxerrois.
Só em 1944 é que sai o 3º volume, sobre "Beira Litoral, Beira Baixa e Beira Alta", ainda sob a chancela da Biblioteca Nacional, assinalando-se, no prefácio, que a responsabilidade da edição recai agora sobre um "núcleo de amigos" de Raul Proença, depois da morte deste, em 1941. O nome de Sant'anna Dionísio aparece agora como o novo coordenador do projecto e seu principal impulsionador, e assim será até ao final da edição completa, nos anos 70. Note-se que, neste volume, vão aparecer ainda textos de Alberto de Oliveira, Egas Moniz, Eugénio de Castro, Ferreira de Castro, João de Barros, Raúl Brandão, Rodrigues Lapa, Tomaz da Fonseca ou Vitorino Nemésio.
Uma nova interrupção faz com que, só em 1964 e 1965, saiam os dois volumes relativos a "Entre Douro e Minho", o 1º sobre o Douro Litoral e o 2º sobre o Minho, com Sant'anna Dionísio como impulsionador, mas agora sob a responsabilidade editorial da Fundação Calouste Gulbenkian. A qualidade dos colaboradores, há que dizê-lo, baixa drasticamente nestes volumes. Finalmente, em 1969 e 1970, são editados os últimos volumes, sobre "Trás-os-Montes e Alto Douro", um sobre "Vila Real, Chaves e Barroso" e outro sobre "Lamego, Bragança e Miranda". Neste caso, há novos colaboradores conhecidos: João Sarmento Pimentel, Jorge Dias, Miguel Torga, Ribeiro de Carvalho, etc.
A Fundação Gulbenkian reeditou, desde então, todos os volumes do "Guia de Portugal". Vale a pena tê-los, porque é uma interessante leitura de um outro Portugal (embora sem a Madeira e os Açores) que aí ficou registada.
Recomendaria ainda às novas gerações que conhecessem um pouco mais a figura honrada e a grande personalidade da nossa cultura que foi Raul Proença, a alma por detrás do "Guia de Portugal". Por exemplo, aqui ou aqui.
terça-feira, agosto 18, 2009
Namora
"Un livre que je ne pensais pas trouver, car il n’a pas été réédité depuis 1955. Et quel bonheur de le trouver à la bibliothèque, bien relié, attendant ma visite. Avec son odeur de vieux livre qui ne se décrit pas. Son papier qui a jauni. Ses pages qu’on a trop peu tournées.
Dommage. Oui, dommage que ce livre ait été si peu lu. Car il y a dans ce récit, ou plutôt cette suite de récits, un ton, des images, des scènes, une époque. Un Portugal qui n’est pas encore révolu, dont les villages reculés hébergent encore des guérisseurs de tout genre, où la population gitane n’a jamais cessé de croître, où l’étranger - comme ce médecin venu du nord - n’est pas accepté d’emblée mais après avoir fait ses preuves, dix fois plutôt qu’une. Un Portugal de petites gens, de superstitions, de simplicité. Le Portugal des villages éparpillés dans la montagne, isolés. Un Portugal que l’auteur aime intensément, avec un respect profond pour les travailleurs de la terre.
Le Carnet d’un médecin de campagne est à découvrir, dans cette édition qui a certes vieilli mais qui n’en est pas moins intéressante, en attendant que quelqu’un pense à faire une nouvelle traduction de ce bijou afin de donner à celui-ci le rayonnement auquel il aurait droit, celui d’un « classique » de la littérature portugaise."
domingo, julho 26, 2009
"Literatura"
quarta-feira, junho 24, 2009
Mollat
Como habitualmente faço, fui ver a estante de literatura portuguesa, traduzida em francês. Alguma óbvia: Eça, Saramago, Lobo Antunes, Pessoa e Agustina. Mas também Cardoso Pires, Torga, Ferreira de Castro, Carlos de Oliveira, Graça Moura e José Luís Peixoto, para além de antologias. Nada mais, o que é escasso, embora bem melhor do que em muitas livrarias em Paris.
Má surpresa na zona da nossa literatura publicada em português. Muito pouca coisa e a fantástica revelação de que tiveram de importar os nossos livros via Brasil (!), dada a falta de resposta e a excessiva demora (além de imprecisão nas encomendas) dos seus fornecedores possíveis em Portugal. E foi-me dito que existe uma real procura, a que não conseguem dar resposta, por virtude dessas limitações. Apenas incrível! A ver vamos se é possível à Embaixada intervir.
sexta-feira, junho 05, 2009
Agustina
sexta-feira, maio 15, 2009
Filinto Elísio
Cerca de 100 pessoas estiveram a ouvi-lo, ontem à noite, na Embaixada de Portugal em Paris, apresentado pelo professor Luis Silva. As Embaixadas de Cabo Verde e de Portugal juntaram-se para esta iniciativa, numa parceria de lusofonia que espero possa frutificar.
O pássaro da foto? É de Cabo Verde.
quinta-feira, março 26, 2009
Portugal em Paris
quarta-feira, março 25, 2009
Maria Gabriela Llansol
A fórmula de Garrincha
Foi no Mundial de 1958. Garrinha estava a ser instruído pelo treinador Feola sobre o modo de ultrapassar a defesa russa. Feola dava sucessiv...