terça-feira, julho 04, 2017

O discurso

O discurso político é parte da ação política. Não a substitui, mas complementa-a, explicando-a e procurando torná-la percetível e aceite aos olhos dos cidadãos. 

Quando se exerce funções políticas, a regra (não escrita) é assumir um discurso afirmativo, com escassas dúvidas, transmitindo confiança às pessoas. Parte-se do princípio de que, perante a insegurança e as dúvidas naturais das pessoas, em face de situações que abalem o seu quotidiano, cabe aos dirigentes políticos oferecer uma direção, dar a ideia de que as coisas estão "em boas mãos". Se o cidadão delegou em alguém o exercício da autoridade e da gestão do Estado, é importante que esse mesmo cidadão, ao olhar para quem titula o Estado, encontre razões para atenuar por as suas eventuais inseguranças, ao ver que a governação aponta um caminho em que ele acredita.

Em tese, as coisas são assim. Mas a eficácia do discurso, junto de quem o ouve, nem sempre é garantida. Desde logo, isso acontece se alguns dos titulares políticos, na perceção própria de cada cidadão ou que nele foi induzida por setores críticos, perderam entretanto a imagem de um portador da confiança. Por maior simpatia que Constança Urbano de Sousa me mereça - e merece-me muita - tenho a sensação de que, perante a opinião pública portuguesa, hoje acontece isso com ela.

A segunda marca de um discurso ineficaz é a que é dada por uma afirmação de segurança que a realidade não acompanha. Azeredo Lopes foi, para mim, uma surpresa bastante positiva à frente da pasta da Defesa. Porém, o modo como tem reagido ao escandaloso roubo de armamento em Tancos é, a meu ver, menos adequado. Perante um país mergulhado em fortes dúvidas sobre a capacidade das Forças Armadas em guardarem as suas instalações, entendo que o ministro não deve e não pode assumir um tom "neutro", cheio de rigor "técnico", um fácies impassível. 

O ministro deveria ter acompanhado o sentimento coletivo, deveria ter-se indignado. A emoção faz parte da política: o cidadão que (como eu) se sente encandalizado perante a bandalheira a que (pelos vistos!) chegou a segurança dos paióis militares, quer ter um ministro a partilhar a sua indignação, solidário com o seu espanto, em sintonia com a sua exigência de responsabilidades, perante uma omissão que tem graves efeitos reputacionais na imagem do país.

O discurso, para ser eficaz, tem de ser credível. Às vezes, isso é injusto para a qualidade objetiva dos agentes políticos - como me parece, aliás, ser o caso -, mas é a vida!

8 comentários:

Reaça disse...

Em democracia tudo se resolve dizia o pai da democracia M. Soares.

Tudo numa boa!

Anónimo disse...

Quem é Azeredo Lopes ?


Entretanto morreu um Senhor: Medina Carreira.

Dito na SIC em 2005:

"Sabe que, nós, para além da dificuldade dos problemas, temos uma outra condicionante muito grave. É que não temos dez, quinze anos para resolver estes problemas. Nós temos 5 anos para resolver estes problemas. Se estas questões que agora ocupam muito a nossa sociedade não estiverem resolvidas dentro de uma meia dúzia de anos, o Estado português, dentro de dez anos, entra num colapso financeiro.

Isto que se está a passar não é sustentável e toda a gente que estuda isto e que, enfim, com um mínimo de honestidade reflecte sobre estes problemas, sabe perfeitamente que isto é assim. Portanto, não é só a qualidade das medidas – naturalmente que isso é positivo – é também a quantidade dos resultados que são de esperar."

josé ricardo disse...

Registo a sua mudança perante as consequências que o desajustado ministro (este qualificativo é por demais notório neste dificílimo teste de Tancos) deve ter. Azeredo Lopes tem sido de uma inabilidade política preocupante, roçando mesmo uma inadequada presunção e excentricidade argumentativa, tendo em conta a gravidade desta situação.
Tanto o ministro da defesa, com a ministra da administração interna deveriam ter sido despedidos ou colocado o seu lugar à disposição do primeiro-ministro. Não vinha mal ao mundo nisto, nem o Governo descia nos seus índices de popularidade. Bastaria o PS encomendar um novo "focus group" para consignar esta mesma relação.

Anónimo disse...

Como sou não-politizado, espero que seja por isso que não percebo nada disto das armas roubadas.
Recordo-me na tropa, desde os primeiros dias, tínhamos de ter muita atenção com a arma que nos tinha sido distribuida e que a minha por sinal tinha a indicação que era do tempo de D. Luis I. Balas já não deviam existir mas aquelas armas eram para nós nos habituarmos a ter uma arma à nossa guarda.
Seriam estas armas e munições que foram roubadas, tambèm do tempo de D. Luís I? Espero que sim.
Adorava saber se as notícias do roubo das armas em questão saiu na imprensa estrangeira e em que termos.
Não sei bem o que poderei dizer mais sobre este assunto até porque sou não-politizado e este facto faz com que eu seja falto de cabeça.
Mas que é espantoso é.....mesmo para mim.

Anónimo disse...

Acompanho a premissa mas discordo na substância. Discursos diferentes facilmente seriam interpretados como estratégias de "passa-culpas", comprando guerras que dificilmente poderiam vencer, quando se sabe que a comunicação social é solidária com os objectivos da direita de tudo fazer para criar dificuldades ao executivo.

MRocha

Anónimo disse...

Não se deve dizer mal de mortos. Convocá-los para aqui, ainda para mais quando padeciam de óbvios distúrbios psiquiátricos é má onda, que certos senhores ainda acabam mimoseados com a falta de pachorra de quem os teve de aturar sem contraditório na interesseira comunicação social.

Anónimo disse...

São piores os "disturbios e as "avestruzes " de certos indivíduos...

A hipocrisia é a virtude dos socialistas.

Anónimo disse...

6 de julho de 2017 às 22:03 deve seguir com atenção qualquer louco que caia no goto dos jornaleiros - uma gente que não sendo hipócrita não se safa de comissariar as virtudes das que estando de férias assinam de cruz ou dos que jogam à pela com suicidas.

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