Quem não tem papas na língua, chama cobardia à tibieza humana. Em política, o conceito transmuta-se e pode acabar por ser sinónimo de oportunismo.
Contava-me o meu pai que, há muitos anos, em Viana do Castelo, havia um fulano que era designado, entre os seus conhecidos, como o "não me convinha".
A história conta-se rapidamente. Um dia, o dito fulano passeava-se pela cidade, ao lado da sua mulher, quando esta entrou numa altercação com um homem que ia a passar, por razões que não interessam para o caso. A conversa azedou e, a certo ponto, o passante deu uma forte lambada na senhora. Quando todos pensavam que o marido ia lavar a honra da mulher, este, pelo contrário, ficou impávido e, cobardemente, não reagiu.
As pessoas que souberam do episódio ficaram indignadas com a inação do marido e alguns amigos do casal foram mesmo ao ponto de lhe perguntar a razão pela qual não defendera a mulher. Sem adiantar grandes explicações, ele apenas lhes retorquiu: "Não me convinha!" Não se livrou, para a vida, do auto-infligido apodo.
Reconheço que a similitude é um pouco forçada, mas o "não me convinha!" podia perfeitamente ser a resposta dada pelo PSD para não "ir a jogo", lavando a face e a decência do partido, depois do episódio racista protagonizado do seu candidato a edil em Loures.
Sejamos justos: neste caso não foi necessariamente cobardia, foi apenas oportunismo. Triste, para um partido com um historial que se pensava menos compatível com o cinismo cívico.
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