Ascenso Simões está longe de ser uma figura consensual. E acho que ele cuida, com divertido zelo, em não sê-lo, inserindo-se frequentemente em algumas polémicas, com palavras sonantes e uma vontade própria afirmada.
Bastante mais novo do que eu, partilhámos uma aventura autárquica, em Vila Real, nos anos 90, que, no meu caso, só não foi mais divertida porque eu tinha então uma vida internacional infernal, que não me permitiu dedicar ao desafio local o tempo que seria desejável.
Em "Opções inadiáveis para uma política progressista", um livro que acaba de publicar, Ascenso Simões apresenta reflexões em várias temáticas e políticas públicas. É uma ousadia de quem tem uma vida dedicada à política - oferecer opiniões sobre diversas áreas da governação. (Gabo-lhe o esforço: nunca tive a mais leve inclinação para mundividências).
A esquerda, por essa Europa fora, está hoje mergulhada num dilema. Perante uma direita que conseguiu infetar ideologicamente as instituições europeias, ela vive entre uma mimetização "modernaça" e oportunista da matriz conservadora e a tentação da rutura radical com o modelo dominante, a qual, no entanto, para ter sucesso, implicaria colocar em causa certos pressupostos político-institucionais que fazem parte do pacto de regime vigente - entre outros problemas que não vêm agora ao caso.
No prefácio ao livro, Pedro Adão e Silva considera Ascenso Simões um "socialista singular, de inclinação aparentemente conservadora nos costumes e sócio-liberal da economia, mas com um compromisso inabalável com a ética republicana". Revejo-me exclusivamente neste último item, mas as minhas discordâncias com Ascenso Simões não me impedem de apreciar este seu meritório esforço de pensar o país como um todo, num tempo em que a "espuma dos dias" parece raptar, de forma inexorável, o debate político.
1 comentário:
Eu vejo Ascenso Simões com mérito próprio num lugar internacional que um dia contarei.
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