sábado, julho 01, 2017

... de autor


Eu tinha-o conhecido há muitos anos, algures no mundo. Sabia, desde então, que nunca fora nem iria ser um diplomata excecional. Fazia apenas o essencial, cumpria os mínimos, dava ares de tentar aproveitar os postos o melhor que podia. Em consequência desta postura pouco ambiciosa e empenhada, a sua carreira foi o que foi: mediana. Como tinha uma vasta rede de amigos, cultivava-os nas suas colocações no estrangeiro, acolhia-os por ali, organizava festas, tinha fama de divertido e espirituoso. De certa maneira, eram esses conhecimentos que acabavam por protegê-lo na sua capital.

Todos os seus colegas ficaram curiosos quando, um dia, ele foi nomeado embaixador. Como iria chefiar um posto? Não desiludiu. Tornou a embaixada que passou a dirigir, localizada numa capital pouco relevante, num local movimentado, sem que daí, porém, resultassem resultados significativos para os interesses do país que representava - um Estado com alguma importância, que dele exigia algo mais. 

Mas o seu consabido estilo sobrepunha-se a tudo. A residência da embaixada fora por si decorada de uma forma tida como bizarra, típica da sua personalidade, bem distante daquilo que era a matriz normal, discreta e funcional, habitual nos postos diplomáticos daquele país. Também a chancelaria acabou por ter um ambiente pouco comum, quase "caseiro", cheia da notas pessoais, sem a "neutralidade" típica desses locais. Para cúmulo, o secretário de embaixada que lhe coube em rifa era também um "cromo" pouco conforme com os padrões da diplomacia do país. Dizia-se que ver o embaixador e o secretário chegarem a uma receção, vestidos ambos de um modo pouco vulgar, era um verdadeiro espetáculo. Com todos os relatos recebidos, a diplomacia desse país começou a cansar-se dele, correndo as versões mais fantasistas sobre o dia-a-dia aquela embaixada.

Um dia, num jantar, encontrei um diplomata "chevronné", colega de carreira do nosso homem, que por acaso o visitara recentemente no país onde este estava colocado. Estava curioso em conhecer o resultado da sua observação "in loco", pelo que logo inquiri sobre quais tinham sido as suas impressões. O velho diplomata, que já tinha visto muito e de tudo, sorriu e, numa expressão curta, em que tudo disse, descreveu-me o posto diplomático: "Sabe, aquilo é uma espécie de 'embaixada de autor' ". Percebi. 

1 comentário:

Anónimo disse...

Tópicos da silly season:
- Maria João Rodrigues, futura Comissária Europeia, na presidência da FEPS, depois de Renzi tirar o tapete a D'Alema;
- Berlusconi de regresso ao poder, imparável;
- A austeridade fofinha e as dificuldades do crescimento económico de Portugal (João César das Neves);
- a sangria do PS francês (depois de Valls, Hamon);
-Le Pen filha, a contas
- o ministro do ambiente inglês, reciclado, depois de andar metido em jornalista a fazer entrevistas a Trump;
- ...

A Europa de que eles gostam

Ora aqui está um conselho do patusco do Musk que, se bem os conheço, vai encontrar apoio nuns maluquinhos raivosos que também temos por cá. ...