Faço uma declaração afetiva de interesses quanto à Caixa Geral de Depósitos. Entre outras razões, porque para ali entrei, por concurso público, há muitos anos, naquele que foi o meu primeiro emprego.
O banco do Estado representou sempre um indispensável instrumento da política pública na área económico-financeira, para quem, como eu, não cultiva a sacralização da “mão invisível” reguladora do mercado. Por isso, a crise que a Caixa atravessou recentemente não me deixou indiferente, quase tanto quanto as pulsões para a sua privatização, ideia quase criminosa face ao interesse público, se pensarmos naquilo que está a ser a desertificação da presença nacional na banca que resta por aí.
O governo obteve uma vitória importante no processo de recapitalização da Caixa, que permitirá superar a fragilidade conjuntural revelada nos recentes testes de “stress”. Se isto fosse um país com memória, o executivo anterior deveria ser chamado à responsabilidade pela incúria com que tratou a Caixa – por exemplo, mentindo descaradamente ao país quanto à existência de uma possibilidade efetiva desse reforço de capital, sem efeitos no défice, para efeitos das contas europeias.
Se o dossiê recapitalização correu bem, já o da nomeação da nova administração foi envolvido em escusadas trapalhadas, jogando na praça pública, por incompetência indesculpável, com personalidades respeitáveis, que não mereciam esta incúria política.
Dir-se-á que tudo acabou em bem e que, agora, há que partir para um tempo novo. Não me parece. Por muito que isso possa incomodar alguns, desejosos por passar uma esponja sobre os tempos idos, eu, como contribuinte investidor, quero exercer aquilo que os franceses chamam o “direito de inventário” sobre o que se passou na Caixa, que conduziu à situação que agora se pretende superar.
Eu e todos os portugueses – repito, contribuintes investidores – temos o direito a saber, preto no branco, quais a responsabilidades exatas do condomínio PS/PSD, com algum CDS à mistura, que dominou a Caixa nas últimas décadas. Desde logo porque, nessa gestão politizada, houve gente competente e outra que o foi menos – e não podem todos ser medidos pela mesma rasa.
Os portugueses têm o direito de saber, com nomes e números, quem foram, nos anos que prejudicaram a instituição, os responsáveis pelos créditos concedidos sem as necessárias garantias, se houve motivação política nessas decisões, se aconteceram, e porquê, grandes perdões de dívida e quem são hoje os principais devedores incobráveis – alguns dos quais andam por aí de costas direitas, com ar de gente séria.
A Caixa é uma coisa demasiado importante para que os erros de quem por lá passou possam ser iludidos, numa espécie de voluntária amnésia para absolver os vícios políticos do sistema. E, se o governo e alguns partidos se mostrarem relutantes a fazê-lo, o presidente da República deveria lembrar-lhes essa responsabilidade. O país ficaria grato.
7 comentários:
o senhor embaixador sabe quais são os custos dessas suas pretensões? é que se não sabe deveria informar-se e depois perguntar aos portugueses se estão dispostos a satisfazer a curiosidade da doutora assunção cristas e do doutor francisco costa. pedir o impossível é um branqueador clássico.
"a desertificação da presença nacional na banca"??
Só se for a nível de dividendos.
Porque a nível de investimento, acho que nunca tivemos, todos, tão presentes.
Como sempre em tudo, "esquece-se" das gerências dos seus amigos socialistas.......
Mais uma do tony:
Apoiar o “investimento na regeneração urbana contra o terrorismo”, (…) “Há uma tarefa fundamental para travar esta radicalização, que é haver políticas públicas para periferias urbanas e também políticas de integração”, defende o primeiro-ministro português que insiste na ideia de que “a população islâmica tem de ser bem integrada”. António Costa vai apresentar uma proposta sobre como essa integração deve ser feita: “Passa pela regeneração física dos bairros periféricos” em várias cidades europeias que alojam parte substancial das comunidades islâmicas, sendo que “muitos desses bairros terão de ser refeitos de raiz”.........
Sr. Embaixador,
Que alegria! Finalmente tenho do prazer de estar de acordo consigo numa questão de política interna.
Agora, parece-me que o apuramento das responsabilidades não o vai deixar nada contente.
E já agora também seria importante perceber o papel da Caixa no caso PT (não nos esquecemos que a
Caixa foi determinante no fracasso da OPA da Sonae à PT com as consequências que se conhecem).
Caro Zé. Fico feliz por vê-lo comungar, com entusiasmo, da rejeição da ideia "quase criminosa" do PSD e do CDS no sentido da privatização da Caixa e de que "executivo anterior deveria ser chamado à responsabilidade pela incúria com que tratou a Caixa – por exemplo, mentindo descaradamente ao país" sobre as possibilidades de recapitalização. Estamos juntos, como dizem lá para os lados dos congresso do MPLA...
Como antigamente o MDP/ MES estavam "juntinhos"...
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