O Alberto era um dos maiores fiscalistas do Brasil e, além disso, um homem de cultura, com interessante obra publicada. E, o mais importante, era um bom amigo meu.
Alberto Xavier era bastante jovem quando ingressou no governo de Marcelo Caetano. Partiu para o Brasil tempos depois, onde construiu uma carreira profissional de grande sucesso. Creio que foi o atual ministro da Cultura, Luís Castro Mendes, que havia sido cônsul-geral no Rio de Janeiro, que nos pôs em contacto.
Desenvolvemos uma boa amizade ao longo dos quatro anos em que fui embaixador no Brasil. Era uma pessoa com um fino humor, que não "explodia" num gracejo, mas se ia insinuando na conversa. Criei para ele o conceito de "falso lento na ironia"...
Tenho com o Alberto uma cena magnífica, pela qual perpassa toda essa ironia. Ele tinha sido convidado, com a sua mulher de então, para um jantar no Palácio de S. Clemente, a residência do cônsul-geral no Rio. Horas antes, informou que viria sozinho. Estranhamente para os seus hábitos, chegou mesmo um pouco tarde. Fui ter com ele à entrada, disse-lhe, um pouco para fazer conversa, que já sabia que a sua mulher não viria. O Alberto, com aquele sorriso irónico com que dizia serenamente graças fabulosas, esclareceu: "Foi ela, aliás, a razão deste meu atraso. É que estive a assinar os papéis de divórcio"...
Há poucos anos, no bar do Hotel Ritz, eu explicava a um amigo, que devia ir viver para o Brasil tempos depois, que o Alberto Xavier era alguém que era fundamental ele conhecer no Rio de Janeiro. Em frente à nossa mesa, no preciso momento em que a conversa decorria, passou um vulto que, de costas, me pareceu ser o Alberto. Essa figura desapareceu numa esquina da sala. Porque achei a coincidência "impossível", esqueci o assunto por uns minutos. De repente, tive um pressentimento, levantei-me e fui procurar a figura: era mesmo o Alberto Xavier! Dei-lhe um abraço e fiz as apresentações. Foi a última vez que o vi!
Tenho muita pena pela morte do Alberto. Àquela que foi a sua primeira mulher, de quem permaneceu um grande amigo e um imenso apoio, a Leonor (Xavier), deixo aqui um sentido abraço.
1 comentário:
Um dos melhores e mais antigos amigos dos meus pais, que me conhecia desde que nasci, e um dos meus "tios" mais queridos. Brilhante, cultíssimo, de uma graça infinita, fina e irónica, nunca deixou de ser um menino, na sua curiosidade intelectual e gosto pela vida. Vai fazer imensa falta e deixa enormes saudades.
Luís Quartin Graça
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