Ontem, o novo ministro da Cultura foi entrevistado na televisão. Eu não o teria aconselhado a, tão cedo, se expor às luzes inquisitivas do jornalismo. Mas ele entendeu fazê-lo. No final (eu vi de madrugada, com calma, em repetição), cheguei à conclusão de que o país deve ter entendido que tem, perante si, alguém que traz uma rara autenticidade ao discurso governativo, que joga com as cartas sobre a mesa, que está ali, vindo por bem, com o genuíno desejo de ajudar, com equilíbrio e isenção, a essa tarefa quase impossível que é fazer a "sopa da pedra". Luís Castro Mendes sabe, desde o primeiro minuto, que, tal como João Soares, não tem um orçamento que possa estar à altura das expetativas de um mundo cultural muito "demandeur", pelo que vai ter de desiludir alguns e ser bode expiatório da frustração de outros. Mas o sentido de serviço público que revelou (e eu gostei muito que o fizesse) é a demonstração clara daquilo que dele se pode esperar.
Com toda a franqueza, tenho esperança que o país tenha entendido bem o homem que ontem teve à sua frente. É que, quando ele falou da sua poesia, das pulsões ciclotímicas da escrita e da evolução da mesma perante o quotidiano que se transforma, Luís Castro Mendes deixou claro aquilo que, verdadeiramente, constitui a essência da Cultura e do papel desta na sociedade. Disse-o com simplicidade, sem gongorismos, numa linguagem acessível e transparente, num discurso de quem é muito culto sem necessitar de ser críptico nem hermético. Espero bem que tenha surpreendido.
1 comentário:
alguém que traz uma rara autenticidade ao discurso, que joga com as cartas sobre a mesa
Ou seja, ele faz aquilo que não terá feito enquanto embaixador...
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