sábado, abril 30, 2016

"A minha terra é Viana..."


A minha terra não é Viana, mas Viana também é a minha terra. Olho para os velhos álbuns de fotografias e vejo-me com meses nos braços da minha avó, no quintal da casa do Largo Vasco da Gama. Aprendi a andar de bicicleta no Límia Parque e a nadar na Doca, enrijei nas águas do Cabedelo, passei horas de vento, para "apanhar iodo", em tardes na Praia Norte, para onde caminhava através da Ribeira, do Campo e dos Estaleiros. Testemunhei as conversas do meus pais na Caravela e no Girassol, com muitos amigos vianenses que, como eles, há muito se desvaneceram com o tempo. Aprimorei-me no bilhar do Sport e no ping-pong da Nun'Alvares. Enchi-me de cinema no Palácio e no Sá de Miranda. Adolescente, passei horas no Oceano e no Viana-Mar, que vi nascer. Fui em romagem, por madrugadas em bandos divertidos, ao Cais Novo, comprar pão à padaria, lançando da ponte, com o Sales cangalheiro, garrafas ao Lima, com mensagens definitivas para o mundo. Por muitos anos, passei todas as minhas férias "grandes" e Natais em casa da minha avó, rodeado de primos, de tios, de afeto e de brincadeira. Da minha cama de infância, a janela recortava Santa Luzia, cujo escadório subi em teima de records. Da "torre" da casa, o sótão, via-se o mar e eu perdia-me entre livros e coisas mais velhas do que todas as histórias daquela família que, num dia de 1912, veio de barco de Ponte de Lima para a mais bonita cidade do país. E, claro, vivi em Viana muitas Festas da Senhora da Agonia.

Já adulto, Viana passou a ser um destino regular de visita e férias, com momentos muito bons e outros bem tristes. Tenho por lá família, sinto-me ali em casa, uma casa de que conheço alguns cantos melhor do que muitos vianenses mais distraídos. 

O convite que a Câmara de Viana me fez para ser este ano o presidente das Festas da Senhora da Agonia, mais do que honrado, deixou-me emocionado pelo ensejo que me é dado para assim acarinhar a memória do meu pai, um vianense saudavelmente "exilado" em Vila Real, que ao longo da vida me ensinou a gostar daquela terra como se fosse a minha. Em rigor, não posso dizer, como Pedro Homem de Melo um dia pôs na boca de Amália, que "a minha terra é Viana". Mas - quem me conhece sabe isso - é como se fosse. 

15 comentários:

gherkin disse...

Parabens por tão honrosa distinção! Agradecimentos também por mais esta evocação da sua juventude e homenagem a Viana, uma cidade que brevemente conheci há muitos e saudosos anos.

Portugalredecouvertes disse...


Sem dúvida uma bonita fotografia de Viana!
Viana convida :)

Anónimo disse...

Conheci bem e bem desfrutei Viana do Castelo. E está talvez melhor. Quem tem estado "à proa" da Câmara tem feito bom trabalho. Não sei de que partido é, nem me interessa, mas aquilo vai bem. Uma belíssima pequena cidade. Encantadora. Onde igualmente tenho muitas boas memórias.

alvaro silva disse...

Parabens sr embaixador, vamos gostar de o ver por cá mais uma vez, mas desta vez em destaque. Boa escolha do sr presidente da câmara, merece pois sempre leva bem alto Viana. Afinal percorria em Viana todos os "passos" dos autóctones, só não diz que engraixou os sapatos no Raimundo ou bebeu o moscatel na Riolanda. Mas creio que sim.

Anónimo disse...

Quero lá saber de Viana! Eu quero é ler a sua reação ao último disparate do PR. Agora, é o Acordo Ortográfico. Esmere-se, senhor, porque bem precisamos de quem ponha os pontos nos "i".

Majo disse...

~~~
Uma mensagem biográfica, amorosa e tocante.

Grata pelos bons momentos de leitura, em que
se deu a conhecer...

Dias felizes - em Viana ou qualquer outro lugar.
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Isabel Seixas disse...

Que bonito senhor embaixador, parabéns , não só pelo texto também pelo convite legitimo e justo.

Anónimo disse...

Parabens por ser o proximo presidente das festas da Senhora da Agonia. A sua foto de Viana lembrou-me o primeiro capitulo (O Inquieto) do filme de Miguel Gomes "Mil e Uma Noites" que estreou em Londres ha uma semana. Confrangedor ver os estaleiros de Viana de Castelo desertos, a greve etc. Ja viu o filme? Chega de tristeza...

Bom 1 de Maio.

Saudades e Londres

F. Crabtree

ignatz disse...

eheheh... os vianenses vão ficar agoniados com as facturas da pousada e dos morfes dessa intendência.

Anónimo disse...

notas pouco diárias... Graças a Deus.

Anónimo disse...

Quanto ao PR e o Aborto Ortográfico, se ele tem intenções de o levara a discussão, apoio-o incondicionalmente! O A.O é uma imbecilidade.
Quanto à Pousada, que, no meu tempo era um Hotel, o Hotel de Santa Luzia, onde tantas vezes fui, com meus pais, continua boa, ao que julgo saber e dali desfruta-se uma encantadora vista para o mar e o rio. Viana é uma cidade muito agradável e bonita, sem dúvida! Fez bem em recordá-la.

pamaralseixas disse...

O acordo ortográfico? A pousada? A vida não é um mero conjunto de acontecimentos políticos. Qualquer vianense ficará tocado pelas memórias percorridas neste texto. É tão bom crescer assim! E o nosso vianense exilado, tenho a certeza,estará deliciado!

AV disse...

Uma bela evocação que nos lembra como existem muitos sentimentos de pertença.

Anónimo disse...


Muitos parabéns pela merecida homenagem, Senhor Embaixador. Viana é um sítio encantador e uma das mais simpáticas e agradáveis cidades do país. Também não é a minha terra, mas quando, no século XVIII, os Quartin chegaram a Portugal, foi em Viana que se estabeleceram. Era a terra natal do meu trisavô paterno, António Thomaz Quartin, um dos financiadores da Basílica de Santa Luzia, e a família teve casa por lá até meados dos anos 50 (uma bem bonita "casa de brasileiro", então conhecida por "Chalet Quartin", depois derrubada, creio que talvez já nos anos 60, e substituída por um prédio incaracterístico). Estou também ligado, pelo casamento de um tio materno, com os donos do Paço d´Anha, pelo que tenho primos direitos que todos os anos participam com entusiasmo nas festas e procissões da Senhora da Agonia.

Luís Quartin Graça

La Mère Supérieure disse...

Reminiscências. este é o embaixador que eu gosto, o do outro partidário e político, esse não aprecio.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...