sexta-feira, abril 29, 2016

Um historiador improvável

Já não me recordo da primeira vez que falei com Fernando Rosas. Mas não foi há muitos anos. O seu nome era-me bastante familiar na vida política portuguesa mas, embora caminhássemos do mesmo lado da estrada, acabámos por não coincidir na maioria das opções cívicas que fizemos.

Um dia, convidei-o a ir a Paris com outros historiadores, numa evocação que organizei na embaixada sobre a "Liga de Paris", a estrutura de coordenação política que juntou os exilados na luta contra a Ditadura Militar, implantada em 1926. Desde então, através de amigos comuns, temo-nos visto mais. E, algumas vezes, "contracenámos" nas televisões a comentar a política.

Fernando Rosas deu ontem a sua última lição na Universidade Nova. Foi uma carreira curta de alguém que, à partida, não estava academicamente vocacionado para a História. Mas o país ganhou imenso com essa sua opção, ainda que tardia. A História contemporânea portuguesa encontrou nele uma figura que se constituiu como uma referência muito importante, em especial nos seus trabalhos de análise e desconstrução do salazarismo, bem como na interpretação dos grandes movimentos da sociedade portuguesa no século XX. Com uma excelente capacidade expositiva, Rosas é, nos dias de hoje, e além do mais que é muito, um magnífico divulgador histórico na televisão, que, ao contrário de outros no passado, tem o mérito de aliar um rigor sem concessões a um discurso muito apelativo.

Não conheço bem as regras do mundo académico. Mas, a avaliar por tantos outras pessoas a quem já vi dar a "última lição", acho que o dia de ontem abriu apenas um novo capítulo para aquilo que Portugal pode vir ainda a aproveitar do grande historiador que é Fernando Rosas.

Um abraço para si, Fernando!

12 comentários:

António Pedro Pereira disse...

José Pacheco Pereira disse ontem na Quadratura do Círculo que Fernando Rosas foi muito prejudicado pelas suas opções e militância políticas.
Está muito marcado na extrema-esquerda (primeiro foi do PCP, fugazmente, depois do MRPP, agora do BE).
Só isso o impediu de receber um dos grandes prémios que existem em Portugal pela brilhante e consistente obra que construiu sobre o Estado Novo, que desmontou na sua essência para se perceber como e porque durou tanto.
J. P. Pereira referia-se, por exemplo, ao Prémio Pessoa, que já contemplou, que me lembre, 3 historiadores: José Mattoso (historiador da fundação da nacionalidade), Cláudio Torres (historiador da presença muçulmana) e Henrique Leitão (historiador da ciência).
Mas o que ficará para a história é a sua consistente obra: os prémios são fugazes e pessoais, a obra é intemporal e da colectividade nacional.

alvaro silva disse...

De pouco vale a este "estoriador" desconstruir o salazarismo, se não a ajudou a construir e isso nota-se. Quando muito tece comentários como tantos outros tantos, com maior ou menor acerto. De duas coisas tenho a certeza: 1º -Não apaga a História. 2º Não muda a caera que a genética lhe proporcionou, pois o homem tem cara de zangado permanente do género Todo o mundo lhe deve e ninem lhe paga o calote! Votos dum 1 de Maio á maneira.

António Pedro Pereira disse...

Senhor Álvaro Silva:
Porventura conhece a obra historiográfica de F. Rosas?
Já leu algum livro dele?
Está em condições de a avaliar e de emitir uma opinião abalizada?
Ou o seu comentário encontra-se naquele campo do «achismo», em que demasiada gente acha coisas, diz coisas apenas para não ficar calada.
Se se trata de um amigo do seu campo ideológico, «acha» sempre bem.
Caso contrário, «acha» mal.
Mesmo não conhecendo nada daquilo sobre que fala.
Assim vão o maniqueísmo e o fanatismo ideológicos que marcam a discussão pública na blogosfera.

Reaça disse...

Este historiador escreve a história, mas luta contra a história.

Este historiador mais do que contar a história, é juíz da história.

Sobre o "oiro-nazi", foi preciso um judeu dizer-lhe, em plena TV, que não foi uma encomenda especial para os cofres do Estado Novo, foi para os estados do mundo inteiro aliados e não aliados, do eixo e fora do eixo.

Anónimo disse...

com tanta ignorancia que se exprime
é bom ver que ainda ha trabalho para professores
nao sei é se a palavra e a sageza curam aquilo que nao cura o rennie
po somos e po seremos, alguns se esquecem

Anónimo disse...

ó Manuel Silva, nada tenho que ver com esse comentário que ai fez doutro comentador. Por acaso nada tenho contra o Rosas, mas essas suas ultimas palavras, cabem em si que nem uma luva. Voc~e é um dos maiores fanáticos ideológicos que aqui andam. Mas atenção não é o unico, pode acompanhar com o Joaquim Freitas, Edmundo da boina, Breyner e mais um ou dois cujo nome agora me escapam.

Anónimo disse...

Dizer que só a história pode salvar o futuro é o mesmo que eu dizer que só a agricultura pode salvar o futuro!
Só a educação é que promove a qualidade de cada ser humano e só na medida do número de indivíduos educados é que se pode garantir o futuro!
Esta afirmação do Rosas é de politico e não de historiador. Para a aula de jubilação de história... Como terão sido as outras...

António Pedro Pereira disse...

Anónimo das 22:12 (de 29/04):
Não perceber o sentido metafórico da afirmação não o abona muito a si.
A História como metáfora do vivido, do que decorreu, das vida dos homens e da Humanidade, para não nos perdermos nem no tempo nem no espaço por ausência de referências.
Não a História como disciplina em si mesma.
Elementar, meu caro Watson.
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Ao Anónimo das 20:25, de 29/04, jamais responderei, pois não faz outra coisa do que ataques «ad hominem» contra vários comentadores que elegeu como os seus odiozinhos de estimação.

Anónimo disse...

Eu (e muitos) bem percebi a "metáfora"!... E se sou "abonado" ou não, isso é comigo! Obrigado pelo "aviso"!

António Pedro Pereira disse...

Anónimo das 10:00 (30/04),
Se tivesse percebido a metáfora nunca teria escrito o que escreveu, que é a prova dos 9 de que não a percebeu.
A avaliação da sua abonação será melhor feita pelos outros do que por si.
E estes seus 2 comentários não o abonam muito, antes pelo contrário.

alvaro silva disse...

Sr Manuel Silva
É da família dos Silvas. Óptimo elas inçam por aí e pegam de pé ou ponta. o sr achou a palavra certa "achadismo" é a cereja em cima do bolo. Eu acho , o sr acha e o Dr Rosas acha que é o vero juiz e supremo oráculo do salazarismo. Olhe de tanto procurar sem se calha nada achar, ainda vamos ficar corcundas e a cruzar as vistas. Vou fazer um seguro de saúde na AXA, para me ajudar a pagar as contas de médico e hospital ou quando não do cangalheiro. ah já agora estou numa de nada ler de ninguém, afinal o alfabeto tem vinte e tal letras que se estão sempre a repetir e assim sendo nada é novo. Bom 1º de Maio

Isabel Seixas disse...

De facto Sr. embaixador vou ficar mais atenta, embora seja um senhor que oiço com atenção ,nunca procurei lê-lo deliberadamente, mas como habitualmente me identifico com a sua seleção
e a sua chancela de qualidade,até para variar...

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...