Não sou contra as condecorações. Acho perfeitamente normal que um Estado queira, através desta forma de nobilitação republicana, prestar preito público a cidadãos (espero que as cidadãs percebam que a expressão também as inclui...) que se hajam distinguido em determinadas áreas. Trata-se de um reconhecimento e de um ato de respeito.
Mas sou bastante crítico do modo como a atribuição das condecorações é atualmente feita, quanto mais não seja por ter sido já testemunha privilegiada de lóbis e de truques, normalmente por parte de agentes político-partidários, para que certas pessoas (seus amigalhaços) fossem condecoradas. Entendo que, nesta matéria, é inescapável ter de viver com alguma subjetividade e discricionaridade, mas, se houver vontade, há formas de as limitar.
Além disso, acho que a quantidade de condecorações que anualmente são entregues é excessiva. Haveria, por isso, que pôr termo alguns exageros, quer redefinindo critérios (mudando a lei, por exemplo), quer sendo parco na utilização dos graus (vejo "grã-cruzes" em peitos a quem um mero "oficialato" já seria mais do que adequado), quer estabelecendo limites quantitativos muito estritos, a serem seguidos como regra fixa pelos Conselhos das Ordens, encarregados da gestão das propostas.
Li hoje que o presidente Rebelo de Sousa terá decidido reduzir as condecorações do Dia de Portugal. Se assim é, aplaudo.
3 comentários:
O meu querido e saudoso amigo António Valente, que muita falta me faz, disse - me há mais de 20 anos que as condecorações nunca se pedem e nunca se recusam. Eu estava à beira de recusar uma e ele conseguiu dissuadir-me. Foi para a gaveta de onde nunca saiu. Há quem diga que também nunca se usam. Eu uso as que mereci.
Confesso que há três ou quatro anos esperava secretamente ter outra. Não chegou na altura devida e fiz logo o luto dela.
JPGarcia
A confirmar-se a decisão, que aplaudo, é a 1.ª que vai ao arrepio do que eu previa ser a "presidência do comentador". Como vai ser bom eu reconhecer que me enganei, que previ mal.
As condecorações deviam ser efectivamente usadas para recompensar serviços a Portugal e por vezes tal não acontece. O Estado descura que efectivamente o serve com toda a dedicação ao superior interesse público. sei de um caso onde foi proposto para uma ordem nacional um funcionário público, que durante quarenta e tal anos servira abnegadamente o Estado e que se iria aposentar como Sub-Director-Geral. Um homem sempre disponível a cumprir sempre o seu dever de uma forma exemplar, para ele não havia horário de trabalho. Não foi fácil conseguir que o Ministro da tutela assinasse a proposta, que depois, infelizmente, morreu no Gabinete do PM.
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