12 de junho de 1985.
Estava colocado na nossa embaixada em Luanda. A última coisa com que a televisão angolana se preocupava era com a cerimónia que, nesse dia, reuniu nos Jerónimos os líderes europeus, para a assinatura do tratado de adesão de Portugal. Os pormenores do evento só nos chegaram dias depois, pelos jornais na mala diplomática, num país em guerra onde a imprensa internacional não se vendia (minto, exceto o "Avante!") e onde o "Jornal de Angola" só dava a verdade local a que os angolanos tinham direito.
Eu não era então um grande entusiasta da adesão do país às Comunidades Europeias (é assim que se deve dizer, em rigor: "Comunidades Europeias", porque aderimos nesse dia à Comunidade Económica Europeia, à Comunidade Europeia da Energia Atómica e à Comunidade Europeia do Carvão e do Aço). A minha perspetiva política de então levava-me a ser muito reticente quanto às perdas de soberania que essa integração já significava (e coloco o "já" porque a densidade das políticas europeias da época era ínfima, comparada com o que é hoje). Temia, em particular, que entrássemos por essa via num espartilho político que sobredeterminasse a nossa capacidade autónoma de decidir sobre o destino da nossa vida interna, que colocasse em causa os valores constitucionais plasmados, menos de uma década antes, numa Constituição que eu tinha por barreira sacrossanta às investidas liberais e anti-sociais que, cada vez mais, se prenunciavam.
Não me recordo, por isso, de ter então sentido uma particular emoção com o acto que teve lugar nos Jerónimos. A aventura europeia não me animava. Temia mesmo dela o pior.
Na década seguinte, fiz a minha aprendizagem da Europa: em cargos em Lisboa, em frequentes deslocações a Bruxelas, no ambiente anti-europeu de Londres, como subdiretor-geral dos Assuntos Europeus, como negociador da revisão de Tratado de Maastricht. No termo desses 10 anos, fui nomeado, por mais de cinco anos, membro do governo encarregado da Europa.
Hoje, olho para cerimónia dos Jerónimos com uns olhos muito diferentes. Tenho a convicção profunda de que foi um marco histórico na nossa modernidade como país. Sinto-me nela representado.
8 comentários:
Sem desprimor para o último parágrafo do seu texto, caro Embaixador, penso que as anteriores considerações não se esbateram, tão pouco foram eliminadas; pelo contrário, conforme a dívida externa aumenta, o pib oscila uma décima a cima, uma a baixo, o desemprego, idem, as exportações também e as importações não descem, o espartilho que nos foi colocado com a entrada para essas comunidades europeias (na altura, considerei-o não um espartilho mas uma coleira estranguladora) impede-nos de respirar ou antes; respiramos, ainda, porque nos achamos ligados a um ventilador.
Razão têve-a Saramago quando escreveu a sua "Jangada de Pedra" mas... ninguém o soube ler, talvez por isso tenha escrito o "Ensaio sobre a cegueira"...
Senhor Embaixador:
(embora esteja fora do contexto,deste post)
Sinceramente, os meus parabéns, por ter fechado com chave de ouro, o seu artigo de (segunda) opinião, in JN de hoje.
-"A sua (Teixeira dos Santos) distinção no último 10 de junho é um gesto que atenua a fama de o Estado ser ingrato para com os seus mais dedicados servidores."
Cordiais saudações.
Caro Chico
Como sabes fui um europeísta convicto; mas também de início torci o nariz. Depois com o andar dos tempos e por causa do António Luciano Pacheco de Sousa Franco, aderi ao euro e até o divulguei e preparei o seu conhecimento no nosso país.
Agora, passadas a negativa inicial e a adesão sucedânea, começo a descrer. Por mor das disparidades e dos disparates cometidos nos últimos anos. Penso que uma Europa Unida (que, aliás nunca foi muito...) já foi; agora temos uma Europa Desunida. Daí que te cmpreenda - uma vez mais - muito bem.
E por aqui me fico. Aliás, não fico: já hoje consegui falar com o Dominique para o felicitar pela absolvição... Caso estranho,enfim...
Abç
Sr. Embaixador,
Mas apesar de tudo também concorda com a entrada no euro e com a respectiva perca de soberania no que diz respeito à politica monetária?
Abraço
Não existe meio mais violento de coerção dos empresários e dos governos contra os trabalhadores que o desemprego. Nenhuma repressão física, nenhuma tropa ou policia que matraca, que lança granadas lacrimogéneas ou o que se quiser. Nada é tão poderoso como meio contra a vontade muito simplesmente de afirmar uma dignidade, de afirmar a possibilidade de ser considerado como um ser humano. Esta é a realidade das coisas.
Agora, que o Senhor Embaixador se tivesse sentido representado nessa cerimónia dos seus Jerónimos, que considera como um " marco histórico na nossa modernidade como país", é o seu direito.
Isso não impede que os resultados dessa "entrada na modernidade" se traduziram na miséria que se verifica hoje em Portugal.
Porque tudo isso não era nada mais que pó de "perlimpimpim" disseminado pelos média dóceis para nos fazer esquecer qualquer coisa de importante: A Europa não é nada mais que uma aliança de todas as burguesias do continente que só têm uma única obsessão a de manter todas as suas prerrogativas em detrimento dos trabalhadores que são postos em concorrência. E em concorrência com quem!
Não é só de ver as centenas de jovens Portugueses obrigados a emigrar, depois de terem sido educados com o dinheiro dos contribuintes. Pelo menos, no tempo de Salazar eram os analfabetos e outros mais instruídos mas menos jovens que fugiam.
Não é só de ver todos os dias a soberania portuguesa alienada. Vendida em peças soltas ao estrangeiro. De ver a companhia nacional de aviação vendida mais barato que um jogador de futebol.
Desde a criação da União Europeia, nenhuma conquista social não emanou desta organização. Mas em contrapartida desde que foi decidido de facilitar as deslocações de capitais, atacar as subvenções ao serviço público ou desfazer os avanços obtidos nacionalmente, não houve nenhum problema, o princípio de subsidiriadidade não prevaleceu.
A palavra liberalismo era impronunciável, substituíram-no pela palavra Europa. E encheram-nos a cabeça de tal maneira com esta Europa mal construída que nos parece impossível de sair sem estragos.
Sr.Freitas,:
A chamada "companhia nacional nacional de aviação" designação á boa maneira soviética, foi um sorvedouro de dinheiros sacados aos portugueses que pagam impostos para a prestação de serviços de estado que melhorem a qualidade de vida dos contribuintes e não para alimentar os novos comissários politicos e seus dependentes que sempre viveram sem trabalho produtivo que não a sábia utilização dos rendilhados de frases, sem qualquer rendimento genuíno que contribuísse para o PIB nacional e aumento de exportações das empresas.
Um País, em que os empresários estão manietados pelo estado/monstro, não progride nem cresce.
Os portugueses estão na mesma situação que aquelas mulas (com palas nos olhos)de antigamente andavam á roda da nora a tirar água do poço, e regar os campos, agora andam os "finórios" a tirar dinheiro da EU e a daqueles que trabalham.Um delírio, como sabe ou finge que não sabe.
Se não "percebe" ouça o Dr. Medina Carreira na TVI Notícias ou as intervenções de Daniel Bessa e outros.
Com a "teia existente" (mais de 15 anos), não iremos a lado nenhum.
Continue a divagar.....
A "companhia nacional" é designada como a Air France, companhia nacional francesa, que não me parece ser soviética. Nacional porque o Estado é accionista.
A participação do Estado na TAP é necessária para uma politica accionista estável e de longo prazo.
Se para reduzir o "Estado monstro" , para facilitar a vida aos empresários, como escreve, é preciso reduzir ainda mais os salários e as reformas, reduzir ainda mais a segurança social e mesmo proibir os sindicatos e as greves, é o regresso a 1926. Se é essa ambição dum Português para o seu povo e o seu país, é bem triste. Compreendo a hemorragia da juventude portuguesa.
O longo prazo da TAP são neste momento 30 anos...Veja bem com as nacionalizações de 75 destrui-se toda uma economia que dependia doutro ditador, comunista ao contrário.
Com a invenção das empresas que ficaram EP´s, foi um regabofe em que esmifraram o dinheiro dos bancos, das previdências de algumas grandes empresas, seguradoras e foram gastar em obras de impacto eleitoral do tipo "elefantes brancos" e em pensões de quem nunca trabalhou nem descontou !
Já vi que não gosta de Daniel Bessa e Medina Carreira...lá voltamos a 1926.......
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