Há uns anos, quando era embaixador em França, o meu amigo Jean Barbosa, presidente da Associação Católica dos Portugueses de Roubaix, convidou-me para uma festa de aniversário daquela simpática instituição.
Ao atravessar um bairro que levava às instalações da associação, notei que o meu motorista estava um pouco nervoso. Olhando o ambiente circundante, logo percebi: estávamos numa zona socialmente degradada, rodeados de "gardiens des murs", de gente desocupada encostada às paredes, com grupos a bloquear parte das ruas, num ambiente que não induzia a menor segurança, naquele tipo de áreas suburbanas onde, de um momento para o outro, se sente que pode acontecer qualquer coisa de desagradável.
Roubaix é uma das zonas de França com maior desemprego, fruto do encerramento de várias indústrias. As comunidades de origem estrangeira que têm culturas contrastantes com a sociedade francesa tradicional, o que não é o caso da portuguesa, estão aí muito presentes. Não por acaso, o Front National tem por essa zona uma elevada expressão. Alguém então referiu que a comunidade muçulmana estava por ali em crescendo e que, um tanto surpreendentemente, alguns luso-descendentes não deixavam de ser sensíveis ao seu proselitismo. Lembrei-me disso ontem, ao ser divulgado que um dos fanáticos islamistas que aparece no vídeo do Estado Islâmico a proceder a uma decapitação é precisamente um luso-descendente de Roubaix.
1 comentário:
Seria extremamente fácil de desenhar o destino do jovem Santos desde o dia em que a miséria escorraçou os seus pais de Portugal para a emigração. A emigração pode ser um caminho doloroso para os mais desfavorecidos. Deixar o seu pais, as suas tradições, a sua cultura, uma certa maneira de viver, mesmo pobremente, pode ser um traumatismo grave.
O jovem Santos nasceu em França. A zona onde nasceu, é, como o Senhor Embaixador descreve, uma zona sinistrada. A mundialização estrangulou essa região, sobretudo o sector têxtil, vítima da concorrência chinesa. Existem outras zonas nas mesmas condições, algures. Duma certa maneira, a miséria perseguiu o pobre Santos. Ontem em Portugal, para os pais e hoje na França.
O desemprego dos jovens é o maior drama dos tempos modernos. Sobretudo quando não estão preparados para o mercado do trabalho actual. E quando ao lado dessa miséria germa uma ideologia ou uma religião do desespero, os jovens são as primeiras vítimas.
Esta pobreza omnipresente actualmente em vários países europeus, pode ser sentida sem dificuldade, com a condição de sair dos caminhos turísticos balizados. Mas a pobreza não interessa ninguém.
Face a esta imensa angustia, quando vejo as medidas tomadas por esta cinzenta Europa de miseráveis tecnocratas - os mesmos que reivindicam os seus valores cristãos - , e nos explicam que a austeridade é necessária, quando os dividendos distribuídos esta ano são mais elevados que os precedentes, apesar da crise, que em contrapartida o investimento das empresas baixou, prova de pouca ou nenhuma confiança no futuro, como será possível eliminar o desemprego criador de miséria e de extremismo?
O que quer dizer que os jovens que vivem hoje na miséria económica, cultural e afectiva não verão outra coisa no futuro próximo.
O desemprego é dramático para os jovens: um em cada cinco sem emprego depois da escola.
A tentação nos bairros pobres de se desenrascar fora da lei, traficando. O desemprego traduz-se na morte social, na anulação da identidade social. Mata a vida porque apaga a imagem do que o individuo foi. Mata a vida porque impede a esperança. Nos olhos dos outros, o individuo cessa de ser um padeiro, um comercial, um operário, para se transformar e não ser nada mais que um "desempregado". Um número.
E é uma tremenda injustiça.
Não importa qual aventura é sinonimo de fuga a um destino que lhes parece sem saída. A nossa juventude e com ela o futuro das nossa Nações sai condenada destas políticas assassinas.
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