domingo, novembro 16, 2014

A "esquerda da esquerda"

Eduardo Ferro Rodrigues, na sua entrevista de hoje ao "Público" disse uma frase que é muito mais do que uma simples declaração: "Nós não sabemos o que vai acontecer à esquerda entre aspas - digo sempre entre aspas porque não acho que haja forças mais à esquerda que o PS".

Esta frase é significativa de uma ideia muito clara: as forças que, em Portugal, se situam à esquerda do PS, por muito que estejam convencidas da justeza das suas posições e estas mereçam ser respeitadas no diálogo político, não configuram, nos seus projetos, modelos que verdadeiramente possam corporizar uma política de esquerda para Portugal. 

Sem pretender minimamente sugerir-me como intérprete daquilo que Ferro Rodrigues possa ter querido dizer, parece-me evidente que apenas o PS pode hoje apresentar-se como a força política que consegue, simultaneamente, assumir as grandes bandeiras do pensamento progressista contemporâneo, respeitando em pleno o quadro político-institucional, interno e externo, onde elas sejam exequíveis e - o que é muito importante e a "esquerda da esquerda" esquece muitas vezes - passíveis de compatibilidade com o espetro político alargado de sensibilidades da sociedade portuguesa atual. Quero com isto dizer, de forma muito clara, que qualquer política portadora dos valores de esquerda, dos modelos de solidariedade social e de ética de cidadania, que são o património orgulhoso de quem se considera "de esquerda", tem forçosamente de se colocar num patamar de aceitabilidade democrática por parte de quantos não partilham esses valores e que, por essa razão, dão, com toda a legitimidade, o seu voto a outras formações políticas - mais à direita ou mais à esquerda. 

Ora olhando-se para os programas da "esquerda da esquerda", a tal "esquerda entre aspas" de que fala Ferro Rodrigues, fica claro que uma sua eventual execução significaria um processo de violentação política e económica de outros setores da sociedade portuguesa (inclusivé dos que votam PS), em alguns pontos dificilmente conciliável com o sistema democrático e, em todo o caso, sempre indutor de graves tensões, que poriam em risco o próprio regime.

Por essa razão, não por qualquer sectarismo mas por um meridiano realismo, o PS surge em Portugal como a única força de esquerda com condições de ser portadora de um projeto político-económico exequível, moderado e suscetível de funcionar como polarizador de um compromisso nacional que conjugue os valores da liberdade e de uma visão solidária do paìs.

Digo hoje isto com o à vontade de quem já pensou de forma diferente. E naturalmente, não pretendo, com o que escrevi, convencer quem acha que "essa coisa de esquerda e direita" são categorias políticas ultrapassadas, atitude que, não por acaso, é assumida, sempre e sem exceção, por quem se situa mais ou menos à direita.

13 comentários:

opjj disse...

Caro Dr. Seixas da Costa, numa coisa tem razão, O Partido Socialista consegue de facto mais do que os outros partidos, Mesmo que faça asneiras, o Zé aceita bem. A vida ensimou-me a ser mais pragmático.Sem dinheiro não há socialismo que resista.Lembrou-me que em 1994 Cavaco Silva levou com a inscrição nos rabos de estudantes " Não pagamos propinas" Não é que com António Guterres os estudantes aceitaram!
Pergunte por anda o estudante Vigário.E será assim com tudo.
Não é preciso ser adivinho, mas muita coisa vai mudar, senão,como diz Medina Carreira, o Social como o que temos hoje é uma miragem.
Cumprimentos

patricio branco disse...

o problema não se dará pois a esquerda à esquerda do ps já há muito que decidiu que nunca será governo, não quer, autolimita-se. os seus sitios são o parlamento, sempre na oposição, e as autarquias, tambem na oposição e pontualmente no mando.
o ps estará destinado a governar só ou então fazer coligações com os que estão à sua dta.
acontece ainda que o cojunto partidario não tem mais para dar, não há mais partidos como em espanha, italia ou alemanha.
e quando chega ao poder, o ps comporta-se como de centro direita, é assim

Anónimo disse...

Se é isto que nos resta, valha-nos Deus!!! Basta olhar e ver: Estrelas, Seguros, Lacões (prefiro o lacón galego), Belezas e todos os que já andam a chegar-se à frente para serem vistos e poderem ser contemplados com um chupa-chupa. No Reino da Estupidez, em Portugal, disse o Jorge de Sena. Libera me, Domine, desta gentalha. São tão maus como os do PSD e do CDS. O melhor é mesmo emigrarmos.

Joaquim de Freitas disse...

As maiorias de esquerda, cada vez que chegaram ao poder e quiseram aplicar as politicas dos seus adversários caíram no abismo. Não é impunemente que se tratam os eleitores de idiotas amnésicos.

A falsa aparência da esquerda "plural" decepciona os eleitores de esquerda , desmobiliza os militantes , que vão engrossar os batalhões dos abstencionistas.

A esquerda só pode ser uma : aquela que representa os interesses do povo, do bem comum, da partilha da riqueza criada .
A aproximação ou a mais ligeira compreensão entre a esquerda e a direita alimenta o vácuo da política. O que pode ser mortal para a esquerda, que aparece demasiado frequentemente nestes últimos tempos como tendo traído as esperanças da esquerda.

Desregular a economia, "soldar" os serviços públicos e impor um certo neo-liberalismo vale ao partido socialista uma classificação que faz mal : "falsa esquerda" ou "segunda direita".

Ao partido socialista , cuja identidade e estratégia parecem incertas, cabe a responsabilidade de se afirmar definitivamente ao lado do povo e de recusar uma maioria de circunstância, qualquer que ela seja.

Como a velha clivagem reforma/revolução não funciona mais porque a revolução é vista como um acto violento e que não reúne a sociedade, vai ser preciso criar um projecto no qual a acção dos socialistas não se assemelhe a uma simples mudança de gestores do capitalismo, senão o projecto socialista transformar-se-ia num puro produto marketing.

Já vimos no passado que para avaliar a capacidade a dirigir um pais, os talentos mediáticos importam mais que as aptidões políticas.

Helena Sacadura Cabral disse...

O meu caro Francisco diz:
"...o PS surge em Portugal como a única força de esquerda com condições de ser portadora de um projeto político-económico exequível, moderado e suscetível de funcionar como polarizador de um compromisso nacional que conjugue os valores da liberdade e de uma visão solidária do paìs."
Pergunto:
1. de que forma se consegue, entre nós, esse compromisso nacional?
2. como se financia essa visão solidária do país?

Anónimo disse...

Caríssimo Francisco

ÚLTIMA HORA





Ministro MIGUEL MACEDO DEMITIU-SE! MAS DISSE QUE NÃO TEM NADA QUE VER COM OS VISTOS GOLD... POBRE HOMEM!!! E não escrevo mais nada porque estou muito triste e pesaroso

Abç

Alcipe disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Caro Francisco (2)

Fico impressionado (ainda se consegue ficar assim em Portugal; pelo menos, eu fico) com a diversidade de opiniões expressas nestes comentários.

A Liberdade e a Democracia servem para isso mesmo para que as opiniões não sejam cortadas por qualquer Censura.

Mas fico admirado por a maioria delas ser contra o PS. Será que têm medo de que isto tem de mudar?

Abç

Alcipe disse...

Repito o que já disse no facebook:

Não li as declarações de Ferro Rodrigues no sentido exclusivo e excludente que lhes dá o meu amigo Francisco Seixas da Costa. Li-as antes no sentido inclusivo e (horrenda palavra, não me ocorre agora outra) "abrangente" de considerar o PS como a natural "casa comum" de toda a esquerda democrática. Mas aqui trata-se de discutir política e não de fazer a exegese do pensamento de Ferro Rodrigues. Nesse sentido, penso que António Costa tem razão quando exclui à partida o conceito de "arco da governação" e se declara pronto a discutir com todas as forças políticas à esquerda do PS. Com "red lines" programáticas, é claro.

a) Alcipe

EGR disse...

Senhor Embaixador: na verdade o problema da chamada "esquerda a esquerda do PS" é que a dita esquerda nunca hesitou em se aliar objectivamente a direita para combater o PS; recordemos apenas o inestimavel serviço que lhe prestaram ao abrir o caminho para a desgraçada governação que nos caiu em cima,e cujo preço, a maioria de nós, esta a pagar e continuara a pagar.
Partilho a sua opinião de serem da direita os grandes defensores da tese que já não existe distinção entre ambas visões da politca;é isso que convém aos ideólogos da tecnocrcia pura e dura.
Talvez seja possível um país mais solidário se forem abandonadas as ideias de o transformar numa imensa instituição de caridade embrulhada naquela hipocrisia de proteger os mais vulneraveis- de destruir deliberadamente o Estado,de vender o país a retalho,de anestesiar as pessoas com o "o vivemos acima das nossas possibilidades",de fomentar a desagrageção social,enfim deixarmos de ser governados por quem nos trata como números e não como pessoas e, frequentemente, pense que somos todos estúpidos.
Estou cansado de ouvir os doutos economistas argumentarem com o não há alternativa e similares.
Claro, que embora isso possa interessara a muito pouca gente, me considero situado na esquerda. esquerda .

Nuvorila disse...

Com suavidade apaga-se século e meio de História.Apaga-se a Ciência e o conhecimento. Passa-se para o domínio da fé. Esquerda é só o PS! Cheguem à frente,pastorinhos,venham ver a dança do Sol!!!

adelinoferreira disse...

Classificar o Partido Socialista de "esquerda", sendo o partido que iniciou a destruição da Escola Pública, que era o esteio do funcionamento do "elevador social" é uma crença, como outras existem.Haveria mais a apontar, mas o ataque à Escola Pública pelas suas implicações na formação dos nossos jovens é um acto que o país e os portugueses com mais dificuldades económicas e de aprendizagem vão pagar caro.

Anónimo disse...

A caminho da "muralha de aço"

Actualmente muito "gold", baseada nos famosos aventais !

A Europa de que eles gostam

Ora aqui está um conselho do patusco do Musk que, se bem os conheço, vai encontrar apoio nuns maluquinhos raivosos que também temos por cá. ...