terça-feira, fevereiro 23, 2010

Espanha e Portugal

É reconfortante, embora seja apenas uma declaração de meridiana justiça, ouvir o presidente do governo espanhol, José Luis Zapatero, elogiar a cooperação portuguesa na luta contra o terrorismo que ainda assola a Espanha.

Ao longo de muitos anos, os sucessivos executivos portugueses têm revelado uma postura exemplar na sua atitude perante as ameaças colocadas pelo terrorismo à democracia espanhola. Portugal tem sempre manifestado um profundo respeito pelo esforço desenvolvido pelas autoridades espanholas no sentido de erradicarem os desafios que os grupos terroristas colocam à liberdade constitucional espanhola, independentemente dos partidos políticos que têm titulado o poder eleito em Madrid.

A Espanha é uma grande democracia que tem sabido compatibilizar a sua diversidade, nomeadamente expressa nas diversas autonomias, com a manutenção de um modelo político assente num escrupuloso respeito pelas variadas expressões ideológicas, num registo de acção que, sem excluir uma forte tensão ideológica, preserva e promove os valores essenciais do Estado de direito.

Com particular ênfase após a entrada comum para as instituições europeias, Portugal e a Espanha têm aculturado uma relação de entendimento que pode hoje considerar-se exemplar. Soubémos encontrar soluções mutuamente aceitáveis para problemas como o dos rios partilhados, para a temática da pesca em áreas de fronteira ou para o sensível tema dos comandos da NATO, entre muitos outros. Na Europa, continuamos a desenhar, dia após dia, um sereno terreno de conjugação de esforços, que se prolonga nas instituições multilaterais onde a nossa cooperação e complementaridade são evidentes.

O destino de Portugal e de Espanha, como nações diferentes que cultivam a sua identidade muito própria, joga-se no quotidiano. Temos uma intensa interação económica e empresarial, com vantagens mútuas, agora infelizmente afetada pela crise que ambos sofremos. Porque partilhamos os mesmos valores, porque nos revemos nos mesmos princípios, temos estado muito à vontade para trabalhar no combate a flagelos como o terrorismo ou a criminalidade organizada. A Espanha sabe que pode contar conosco, da mesma forma que nós temos a certeza de que a Espanha comunga as nossas preocupações na preservação do modo como as suas questões securitárias são tratadas, à luz do pleno respeito pelos Direitos Humanos e pela preservação de um quadro institucional respeitador da dignidade da pessoa humana, na observância estrita dos parâmetros constitucionais e da ordem jurídica própria de cada país.

A magnífica relação entre Portugal e a Espanha é uma grande conquista que ficamos a dever, simultaneamente, à democracia e à Europa. E, vale a pena sublinhá-lo, é consequência da consciência comum de que hoje alimentamos uma sã cultura de vizinhança, que é uma riqueza de que ambos os povos se devem orgulhar.

6 comentários:

Anónimo disse...

Oh::: Se Subscrevo.
Identifico-me com a essência a semântica e a sintaxe selecionada.
Tanto que já nem dissocio fronteiras.
Isabel Seixas

Anónimo disse...

O governo espanhol encontrou em Portugal um parceiro leal na luta contra o terrorismo etarra, à diferença da França que durante décadas instrumentalizou este "calcanhar de aquiles" de Madrid como moeda de troca para obter concessões em outras áreas no âmbito das relações políticas e económicas bilaterais. Nos anos mais violentos do terrorismo (anos 80) onde a ETA matava na ordem de 100/150 pessoas por ano -a maioria militares e membros da polícia (Guardia Civil)- Paris manteve uma atitude de certo laxismo (passo o eufemismo) face à presença mais do que conhecida da ETA em território gaulês, onde organizava as operações que seriam depois "implementadas" em Espanha (assassinatos, sequestros, extorsão). Apesar da ETA reclamar parte do território francês (País Basco francês) nas suas reivindicações separatistas, nunca realizaram "operações" terroristas naquele território como manifestação de gratidão a Paris pela sua hospitalidade. Resumindo e concluindo, Madrid deve estar muito agradecida a Lisboa pela expressão da sua lealdade na luta contra o terrorismo, atitude ausente na França até aos anos mais recentes. João Morais

Francisco Seixas da Costa disse...

POR DIFICULDADES NO BLOGGER, NÃO FOI POSSÍVEL INSERIR POSTS AO LONGO DO DIA DE HOJE.

Jorge Pinheiro disse...

Não posso estar mais de acordo. Excelente síntese.

Jorge Pinheiro disse...

Há dificuldades tb. no meu Bloger... Devem estar em manutenção.

Helena Oneto disse...

Antigamente, nas aulas de “História de Portugal” aprendíamos que Espanha havia sido o “nosso” pior inimigo e nas multiplas e valorosas batalhas os espanhois eram sempre os “maus da fita”.
A animosidade institucional e o regime fascista de Franco fez o resto!
Levei anos a evitar por os pés em Espanha e nas minhas primeiras idas e voltas pela Europa viajava no Sudexpress (de má memoria) porque era o meio de transporte mais barato. Para Londres ia e vinha de avião e até fui de barco para Southampton (foram 3 dias “giríssimos”!). Quando viajava de carro, só parava para por gazolina e fazer xixi. Os espanhois eram antipáticos, recusavam perceber o português que lhes falava e não percebiam uma palavra de francês nem inglês. As estradas eram más, a comida péssima e o café um horror!

Agora é um prazer passear em Barcelona ou passar férias andaluzas com a familia ou fazer o meu desporto favorito. Espanha é um grande país com um nivel de vida muito superior ao de Portugal. Os espanhois são (e podem) ser orgulhosos do seu país, sabem cuidar do seu patrimonio, são altruistas, alegres e sabem viver !

O Senhor Embaixador faz muito bem em realçar as sólidas e cordiais relações existentes entre os dois países.

Lembrar

Todos quantos acham que Mário Soares, se fosse vivo, se associaria a uma celebração do 25 de novembro fingem esquecer que o próprio Mário So...