quinta-feira, junho 04, 2009

Marcello

Marcello Duarte Mathias é, para além de um amigo e colega diplomata, um excelente escritor. De quem creio ter lido tudo quanto publicou em livro.

Ontem, na Fundação Gulbenkian, aqui em Paris, foi lançado "À contre-jour: journal 1962-2008", uma selecção dos seus vários diários, editado na "La Différence", por essa personalidade a quem a cultura portuguesa em França muito deve, que se chama Joaquim Vital.

Um público interessado, entre o qual tive o prazer de me contar, ainda mal refeito do "jet lag" transatlântico, seguiu a apresentação feita por Catherine Dumas, também tradutora, tendo ouvido extractos lidos por Jean-Luc Debattice.

Marcello é autor de uma escrita culta, onde há muito de Camus e de um decantar crítico, às vezes algo cruel mas sempre inteligente, da sua experiência de vida, feita por alguns locais que também me coube em sorte frequentar, como Nova Iorque, Brasília ou Paris. Mas foi, sem dúvida, Paris, onde estudou, quando o seu pai por aqui foi embaixador, por quase duas décadas, a cidade que o terá marcado. E onde terminou a sua carreira, como embaixador junto da UNESCO. Talvez por isso, nas palavras que proferiu, retomou como sua a frase de Thomas Jefferson: "Tout homme a deux patries: la sienne et la France".

2 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

Et toute femme aussi...

JMC Pinto disse...

Concordo. Marcello Mathias é um grande escritor. Desde a primeira vez que li um texto seu, há muito anos, creio que de um livro autobiográfico, relatando recordações de infância,que fiquei entusiasmado com a sua escrita.
O seu último livro, Encontro em Capri, é igualmente um belo livro, pela elegância da escrita, pelo enredo, e até a tentativa de salvar Gorki e enterrar Lenin, que a vida, e principalmente Stalin, estão muito longe de confirmar, é um tributo que o culto escritor anti-revolucionário não quer deixar de prestar ao grande escritor, anos mais tarde transformado em ícone literário do bolchevismo, com todas as benesses que uma Revolução bem sucedida poderá conceder.

Ai Europa!

E se a Europa conseguisse deixar de ser um anão político e desse asas ao gigante económico que é?