terça-feira, junho 30, 2009

Honduras

No mundo internacional, ninguém parece ter dúvidas de que o presidente Manuel Zelaya, das Honduras, afastado do país por um movimento militar, e posteriormente substituído na chefia do Estado, continua a ter toda a legitimidade constitucional para se manter à frente do país.

Sem pôr isso em causa e sem pretender ser mais papista que o Papa, pergunto-me, contudo, se não seria prudente a essa mesma comunidade internacional deixar cair uma palavra sobre a importância de ser dado, de uma vez por todas, o direito aos povos da América Latina de não serem confrontados, quando isso dá jeito aos seus líderes, com propostas para o prolongamento ou renovação de mandatos, através da alteração das constituições. Como Zelaya pretendia fazer.

É claro que sempre se dirá que, se as mudanças constitucionais se fizerem nos termos dos próprios textos ou por referendo livre, estará salvaguardada a legalidade do acto e garantida uma cobertura de legitimidade democrática para o mesmo. Mas já começa a ser tempo de as lideranças latino-americanas se conformarem com essa coisa simples que é saberem viver com a limitação temporal do poder prevista nas constituições à luz das quais foram eleitas.

O exemplo de Lula da Silva, no Brasil, recusando a hipótese de um terceiro mandato, quando tem mais de 70% de aprovação popular, é um caso que deve ser exibido como exemplar.

6 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

Estou de acordo. Mas começo a pensar que até na Europa a tentação começa a ser grande. Já nem falo cá da terrinha onde a prática tem história.
Acredito que com a UE a coisa será mais difícil, mas que las hay, las hay!

Planetas - Bruno disse...

A violação da constituição e desobediencia das decisões dos tribunais não serão motivos suficientes para perder a legitimidade do poder?!

Anónimo disse...

E que tal desaprovar golpes de estado sem "mas..."

Bento Freire disse...

Não estou muito seguro da bondade dessa sugestão.
Por um lado, blindando as constituições, ela limitaria a soberania popular, por outro é notório que 4 ou 5 anos (recordo que os sistemas sul-americanos são presidencialistas) é um período muito curto para executar programas sustentáveis de reforma.
Foi, de resto, um argumento do Dr. Mário Soares ao aconselhar a promoção dessa alteração ao pioneiro desse movimento "populista", o cosmopolita e social-democrata Fernando Henrique Cardoso.

Sócrates disse...

Porventura sabe qual a mudança que estaria a ser proposta?

É que actualmente nas Honduras apenas é permitido UM mandato. A proposta seria para aumentar para DOIS mandatos consecutivos, como temos, por exemplo, em Portugal.

E já agora se uma pessoa é competente e recolhe o apoio maioritário do povo, porque não deve poder continuar no poder? Uma ditadura não é composta por uma pessoa apenas que eu saiba, logo não serão esses limites que irão impedir o domínio por parte de um grupo de pessoas.

Francisco Seixas da Costa disse...

Desaprovar golpes de Estado sem "mas". E o 25 de Abril ?

A Europa de que eles gostam

Ora aqui está um conselho do patusco do Musk que, se bem os conheço, vai encontrar apoio nuns maluquinhos raivosos que também temos por cá. ...