Morreu Carlos Candal, advogado e democrata de Aveiro, figura histórica da oposição ao Estado Novo e político saliente em vários tempos da nossa vida pública.
Era uma figura que nunca recusava a polémica, nada "politicamente correcto", dotado de uma ironia sarcástica, que muitos confundiam com arrogância, que intervalava com as baforadas do seu emblemático charuto. Tinha uma voz grossa e uma gargalhada forte, de quem sempre esteve de bem consigo mesmo. A certo passo, deixou-se tentar pela aventura do Parlamento Europeu, onde nos cruzámos diversas vezes e comentámos uma Europa que sempre me pareceu ver de soslaio político. O que confirmei, num debate que tivemos em Aveiro, há mais de uma década.
No início dos anos 60, havia sido líder da luta académica, em Coimbra. Jorge Sampaio contou-me que, num dia desses tempos, foi de Lisboa a Coimbra para um diálogo entre lideranças universitárias, em período de tensão política forte. Com todos os cuidados que a segurança recomendava, dirigiu-se à "República" onde vivia Carlos Candal, que não conhecia pessoalmente. Bateu à porta e atendeu uma governanta, que disse que "já ia chamar o Dr. Candal" - em Coimbra, à época, "era-se" doutor antes do curso acabado. O ambiente era muito diferente do contexto homólogo lisboeta, com desenhos humorísticos pelas paredes, garrafões e outros artefactos pendurados do tecto, enfim, toda a parafernália simbólica da boémia coimbrã. Minutos depois, Jorge Sampaio ouviu, do alto da escada, um vozeirão: "Olá, menino! Já desço". Sampaio olhou e lá estava, ainda de roupão indiciador de grande noitada na véspera, a figura do seu interlocutor político, Carlos Candal. Nesse momento, o futuro Presidente da República terá percebido melhor a diferença eterna entre a maneira de ser das academias de Lisboa e de Coimbra. E dos políticos oriundos de ambas, claro.
Era uma figura que nunca recusava a polémica, nada "politicamente correcto", dotado de uma ironia sarcástica, que muitos confundiam com arrogância, que intervalava com as baforadas do seu emblemático charuto. Tinha uma voz grossa e uma gargalhada forte, de quem sempre esteve de bem consigo mesmo. A certo passo, deixou-se tentar pela aventura do Parlamento Europeu, onde nos cruzámos diversas vezes e comentámos uma Europa que sempre me pareceu ver de soslaio político. O que confirmei, num debate que tivemos em Aveiro, há mais de uma década.
No início dos anos 60, havia sido líder da luta académica, em Coimbra. Jorge Sampaio contou-me que, num dia desses tempos, foi de Lisboa a Coimbra para um diálogo entre lideranças universitárias, em período de tensão política forte. Com todos os cuidados que a segurança recomendava, dirigiu-se à "República" onde vivia Carlos Candal, que não conhecia pessoalmente. Bateu à porta e atendeu uma governanta, que disse que "já ia chamar o Dr. Candal" - em Coimbra, à época, "era-se" doutor antes do curso acabado. O ambiente era muito diferente do contexto homólogo lisboeta, com desenhos humorísticos pelas paredes, garrafões e outros artefactos pendurados do tecto, enfim, toda a parafernália simbólica da boémia coimbrã. Minutos depois, Jorge Sampaio ouviu, do alto da escada, um vozeirão: "Olá, menino! Já desço". Sampaio olhou e lá estava, ainda de roupão indiciador de grande noitada na véspera, a figura do seu interlocutor político, Carlos Candal. Nesse momento, o futuro Presidente da República terá percebido melhor a diferença eterna entre a maneira de ser das academias de Lisboa e de Coimbra. E dos políticos oriundos de ambas, claro.
7 comentários:
Lembro-me muito bem de Carlos Candal, mas já depois do 25 de Abril. Apreciava-o. Tinha carácter e não se esquivava a uma boa polémica. E tinha humor. Para quem o “conheceu”, como figura pública como foi o meu caso, nunca se tendo cruzado pessoalmente com ele, fica-nos a imagem de alguém com personalidade forte e convicto nas ideias. Alguns dos seus comentários, com aquele charuto na boca, ficaram célebres. Desconhecia que tinha falecido. Tenho pena. Uma Figura, sem dúvida!
P.Rufino
PS: E por falar em Coimbra…bem me “esforcei” após o dito Liceu e admissão à Faculdade, por convencer o meu pai a ir para lá “estudar” (na mira disso, mas também daquela atmosfera das “repúblicas”), mas o “poder paterno” não se deixou convencer. Como já nos tínhamos mudado do Porto para Lisboa, achou por bem que “era melhor estudar por cá” – Lisboa – “ainda te perdes por lá, por Coimbra e arranjamos chatice da grossa, rapaz. É aqui que ficas, debaixo da vista deste teu pai”. E assim foi, para minha tristeza! E ficaram-me sempre saudades do que não vivi. Curioso!
Um dia, quando apresentei “resultados pouco satisfatórios”, disse-me: “rapaz, isto aqui não é Coimbra! Ou estudas, ou vais trabalhar e não pago nem mais ano nenhum da Faculdade!” E lá me conformei e toca de estudar! Mas que fiquei com “Coimbra” atravessada, lá isso fiquei!
Lamento que Carlos Candal tenha morrido. Mas não partilho da simpatia que o seu politicamente incorrecto sugere. No meu caso pessoal foi mesmo bem mais do que incorrecto com o seu Manifesto Anti Portas. Tenho memória de elefante e não esqueço quem utiliza a polítiquice para denegrir a vida pessoal de cada um. Trata-se de uma lamentável forma de fazer política.
De nada do que escrevi se pode deduzir qualquer simpatia pelo infeliz gesto que se traduziu na feitura do "Manifesto Anti-Portas". Mas Carlos Candal foi muito mais do que isso. E alguma da sua "incorrecção" política estefe mesmo na sua leitura da política europeia de Portugal, com a qual, à época, me recordo de ter alguma coisa a ver...
Nem alguma eu teria a ousadia de escrever o que escrevi, se admitisse que o Senhor Embaixador pudesse, alguma vez, ter qualquer simpatia pelo infeliz gesto.
Mas julgo que desta prosa bloguística já terá percebido que se há qualidade que tenho, é a frontalidade com que assumo o que penso. O que, como calcula, nem sempre é fácil, perante o enquadramento familiar em que vivo.
Permita-me o Estimado Embaixador que faça aqui um pequeno “reparo” ao meu comentário anterior, tendo em conta a consideração que me merece HSC: quando escrevi aquelas palavras sobre Carlos Candal, confesso, muito honestamente, que já não me lembrava, de todo, do tal episódio do “Manifesto”, agora recordado por Helena Sacadura Cabral. Uma coisa é ter simpatizado com Candal, enquanto figura política, outra é com tudo o que disse e fez. Como sucede com todos os políticos, nem sempre temos de estar em sintonia, quer política, quer pessoal. Assim foi o caso com o dito Manifesto. Fica, deste modo, ressalvada a questão pelo meu lado. Um abraço a Helena e grato Embaixador por publicar este esclarecimento.
P.Rufino
A ambos a minha homenagem.
Mãe que não se sente não é filha de boa gente. E os meus ascendentes eram-no!
Fiz link para Praça Stephens.
Abraço.
Enviar um comentário