O exemplo de Aristides Sousa Mendes, o diplomata português que salvou milhares de refugiados ao tempo em que era Cônsul em Bordéus (a imagem é das intalações consulares portugueses), foi ontem evocado numa muito concorrida sessão que organizámos na Embaixada em Paris, com uma exposição documental e bibliográfica e a apresentação de três novos livros sobre o diplomata.
Um neto de Aristides Sousa Mendes, Geraldo Mendes, o escritor Eric Lebreton e Manuel Dias - figura que, desde há anos, desenvolve um relevante trabalho de memória em torno do antigo Cônsul português em Bordéus - intervieram perante um público atento e interessado.
Pela minha parte, aproveitei para falar um pouco sobre o meu "colega" Aristides Sousa Mendes, do modo como as Necessidades o viam no passado, bem como da forma como hoje é visto naquela casa. E também referi a imensa solidão que deverá ter sentido um homem no seio de um regime que abertamente até então apoiava (coisa de que muito poucos falam) e contra cujas ordens sentiu, a certa altura, o dever de se rebelar por um muito estimável sobressalto ético.
Falei igualmente de um tema que outros procuram esquecer, crendo-se absolvidos por atitudes de tempos mais recentes: da oposição ao Estado Novo, que nunca teve uma palavra de apoio para com o diplomata ostracizado pela proteção dada aos refugiados que fugiam da barbárie nazi. Para concluir que Artistides Sousa Mendes não é uma personalidade ideológica, "propriedade" da esquerda ou da direita, mas apenas um homem simples que, revoltado e emocionado pela tragédia, colocou a dignidade à frente do dever formal de obediência a uma ordem injusta.
Aproveitei a ocasião para saudar duas personalidades, por quem tenho admiração e amizade, e que, tal como Manuel Dias, têm vindo a desenvolver, no estrangeiro, um louvável, generoso e dedicado trabalho de realce da figura de Aristides Sousa Mendes: João Crisóstomo, nos Estados Unidos, e Paulo Martins, no Brasil. É muito graças a pessoas como eles que a memória de Sousa Mendes se mantém viva e exemplar para as novas gerações. Em especial para os nossos diplomatas.