sábado, abril 24, 2010

Abril (2) - Salazar, por Fernando Pessoa



António de Oliveira Salazar
Três nomes em sequência regular...
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.


Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
Água dissolve
O sal,
E sob o céu
Fica só azar, é natural.
Oh, c’os diabos!
Parece que já choveu...


Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...
Bebe a verdade
E a liberdade.
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.


Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé.
Mas ninguém sabe porquê.


Mas afinal é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé.
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.

Poema de Fernando Pessoa

5 comentários:

Helena Oneto disse...

“O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem”

Pessoa bem dizia
Que Salazar era azar
Nem Andy Warhol
O poderia salvar

Julia Macias-Valet disse...

Incisivo, Pessoa !

Oliveira Salazar em estilo Andy Warhol !??
Ai, Senhor Embaixador eu via mais o ditador em estilo Edvard Munch !

Anónimo disse...

Essa figura cinzenta, medíocre, autocrata, beata, felizmente que nos deixou, graças a um tombo, há muito! Recentemente, a revista Visão publicou um “anexo” sobre Salazar e a 2ª Guerra Mundial que vivamente se recomenda.
Excelente poema esse de Pessoa. Assumo aqui o meu profundo desprezo político pela figura. Sobretudo, numa altura em que o revivalismo salazarento está em voga.
P.Rufino

Anónimo disse...

É
Pessoa

O Olhar...

Prelúdio
Das Verdades
Paralelas
Já reveladas

Por Revelar...
Isabel Seixas

Unknown disse...

Estamos hoje com azar/
nem tempero temos/
Falta-nos a sal para amenizar/
a miséria em que vivemos!

A Europa de que eles gostam

Ora aqui está um conselho do patusco do Musk que, se bem os conheço, vai encontrar apoio nuns maluquinhos raivosos que também temos por cá. ...