Cristiano Ronaldo marcou presença na receção oferecida por Trump na Casa Branca ao príncipe herdeiro da Arábia Saudita. Não é segredo para ninguém que Ronaldo é hoje um privilegiado funcionário do futebol saudita, detentor do estatuto de um dos mais conhecidos jogadores do planeta. Alguns já não se recordarão de que, há uns anos, quando Marcelo Rebelo de Sousa visitou a Sala Oval, Trump fez questão de mencionar Ronaldo — provavelmente das escassíssimas personalidades portuguesas de que o presidente americano alguma vez ouviu falar.
Convém também lembrar que os EUA vão sediar o próximo Mundial de futebol e, não por acaso, o presidente da FIFA também se juntou ao repasto. Naturalmente, o autocrata saudita tratou de levar consigo a Washington um dos seus mais preciosos ativos mediáticos — pago a peso de ouro negro — acompanhado por uma esposa "influencer" que fascina multidões online, especialmente quando o objetivo é impulsionar o consumo de artigos de luxo.
Confesso que não vejo nada de extraordinário em Ronaldo ter aceitado ilustrar este momento de proeminência política para o país que lhe garante salário e reconhecimento. E imagino que, como estrela global que é, tenha ficado especialmente satisfeito por, deste modo, reforçar ainda mais a sua aura internacional. Ronaldo não foi passear com um notório facínora à mansão de um personagem de extrema-direita que os azares da História catapultaram à dianteira do poder mundial. Não lhe exijamos mais do que se deve exigir a quem apenas cumpre o papel que lhe destina o palco onde atua. Como principal rosto do futebol mundial, Ronaldo limitou-se a acompanhar o líder do Estado que o acolhe ao coração do inigualável poder americano. Quem, no seu lugar, recusaria?
Por isso, parece-me no mínimo disparatado o frenesim de opiniões que, entre a fascinação e a condenação, sobre o assunto ocuparam horas de antena neste país. Decididamente, deve haver muito pouco que fazer em Portugal.
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